São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CEARÁ

Diretor de banco estatal faz arrecadação para eleger Ciro

Dirigente do BNB apresenta carta assinada por ex-ministro e candidato a deputado

Ciro afirma que empresas abordadas não têm negócio com Banco do Nordeste do Brasil, um dos principais financiadores no Estado

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

O ex-ministro da Integração Nacional e candidato a deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), 49, distribuiu cartas a empresários do Ceará pelas quais autoriza um diretor do BNB (Banco do Nordeste do Brasil), estatal do governo Lula e um dos principais financiadores da economia no Estado, a arrecadar dinheiro para sua campanha e de seu irmão, Cid Gomes (PSB), 43, candidato ao governo do Estado.
Ciro Gomes e o diretor administrativo do banco, Victor Samuel Cavalcante Ponte, confirmaram o trabalho de arrecadação. Ponte não integra o comitê financeiro do candidato. A legislação eleitoral prevê que as contribuição de campanha deve ser dirigida ao comitê e ao candidato. "Ele é meu amigo de cem anos, e me ajuda nesse trabalho que é chato, que é desagradável", disse Ciro à Folha. Segundo ele, Ponte parou de captar os recursos.
O diretor do BNB disse ter feito "um trabalho voluntário". "Eu sou filiado ao partido, e como cidadão eu me sinto na obrigação de dar a minha colaboração", disse Ponte. Ele atribuiu o vazamento da informação aos adversários de Cid Gomes. "Isso é desespero, esse pessoal está desesperado. Eles vão perder a eleição e estão desesperados", afirmou o diretor.
Ciro alegou que a captação era específica para a pré-convenção partidária (até 30 de junho último), mas não é o que diz o texto da carta entregue aos empresários e assinada pelo próprio candidato, que disse ter subscrito 30 cartas.
"Apresento-lhe meu amigo Victor Samuel que lhe falará em meu nome, de Cid Gomes e de nosso partido politico, o PSB, acerca de uma contribuição para a campanha que o partido desenvolverá nas eleições próximas de outubro do corrente ano", diz o papel, ao qual a reportagem teve acesso.
Ponte atuou no governo de Ciro no Ceará (1991-1994) e é filiado ao PSB. Antes de assumir a área administrativa, foi diretor de Promoção de Investimentos do BNB (2004 e 2005). O banco é um dos principais financiadores de crédito no Nordeste. Fechou 2005 com R$ 6 bilhões de investimentos na economia nordestina, dos quais R$ 1 bilhão para a agricultura familiar.
Ponte, o presidente do banco, Roberto Smith, e mais três diretores do BNB foram incluídos pelo Ministério Público Federal na denúncia do "caso da cueca" por terem autorizado um empréstimo de R$ 300 milhões para o consórcio de energia elétrica STN (Sistema de Transmissão Nordeste). O grupo de empresas teria pago a propina ao ex-assessor petista José Adalberto Vieira, preso pela Polícia Federal em julho de 2005 ao tentar embarcar num avião em São Paulo com R$ 209 mil numa maleta e US$ 100 mil presos ao corpo. A ação contra os diretores e Roberto Smith foi suspensa por decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 5ª Região. O Ministério Público recorreu.

Apoio do PT
Ciro é candidato a deputado na coligação PSB-PT-PMDB-PP. O PT deixou de lançar candidato a governador para apoiar o irmão de Ciro, Cid Gomes, na coligação "Ceará Vota Para Crescer", formada por PSB, PT, PC do B, PMDB, PRB, PP, PHS, PMN e PV. Ciro declarou uma previsão de gastos de R$ 1,2 milhão para sua campanha. Cid, R$ 20 milhões
A Folha apurou que Ponte usou a carta para procurar empresas instaladas na região metropolitana de Fortaleza. Ciro disse que as empresas foram escolhidas por ele, que teria tido o cuidado de verificar se elas não teriam negócios ou dívidas com o BNB. O diretor do banco, contudo, ficou em dúvida sobre esse ponto: "Quase certeza que não. Se bem que é o seguinte: o banco é muito atuante, no Estado e no Nordeste. Se têm ou se não têm, nem foi objeto de conversas com nenhum deles. Não tenho certeza".


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