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ELEIÇÕES 2006 / CEARÁ
Diretor de banco estatal faz arrecadação para eleger Ciro
Dirigente do BNB apresenta carta assinada por ex-ministro e candidato a deputado
Ciro afirma que empresas abordadas não têm negócio com Banco do Nordeste do Brasil, um dos principais financiadores no Estado
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
O ex-ministro da Integração
Nacional e candidato a deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), 49, distribuiu cartas a empresários do Ceará pelas quais
autoriza um diretor do BNB
(Banco do Nordeste do Brasil),
estatal do governo Lula e um
dos principais financiadores da
economia no Estado, a arrecadar dinheiro para sua campanha e de seu irmão, Cid Gomes
(PSB), 43, candidato ao governo do Estado.
Ciro Gomes e o diretor administrativo do banco, Victor Samuel Cavalcante Ponte, confirmaram o trabalho de arrecadação. Ponte não integra o comitê
financeiro do candidato. A legislação eleitoral prevê que as
contribuição de campanha deve ser dirigida ao comitê e ao
candidato. "Ele é meu amigo de
cem anos, e me ajuda nesse trabalho que é chato, que é desagradável", disse Ciro à Folha.
Segundo ele, Ponte parou de
captar os recursos.
O diretor do BNB disse ter
feito "um trabalho voluntário".
"Eu sou filiado ao partido, e como cidadão eu me sinto na
obrigação de dar a minha colaboração", disse Ponte. Ele atribuiu o vazamento da informação aos adversários de Cid Gomes. "Isso é desespero, esse
pessoal está desesperado. Eles
vão perder a eleição e estão desesperados", afirmou o diretor.
Ciro alegou que a captação
era específica para a pré-convenção partidária (até 30 de junho último), mas não é o que
diz o texto da carta entregue
aos empresários e assinada pelo próprio candidato, que disse
ter subscrito 30 cartas.
"Apresento-lhe meu amigo
Victor Samuel que lhe falará
em meu nome, de Cid Gomes e
de nosso partido politico, o
PSB, acerca de uma contribuição para a campanha que o partido desenvolverá nas eleições
próximas de outubro do corrente ano", diz o papel, ao qual
a reportagem teve acesso.
Ponte atuou no governo de
Ciro no Ceará (1991-1994) e é
filiado ao PSB. Antes de assumir a área administrativa, foi
diretor de Promoção de Investimentos do BNB (2004 e
2005). O banco é um dos principais financiadores de crédito
no Nordeste. Fechou 2005 com
R$ 6 bilhões de investimentos
na economia nordestina, dos
quais R$ 1 bilhão para a agricultura familiar.
Ponte, o presidente do banco, Roberto Smith, e mais três
diretores do BNB foram incluídos pelo Ministério Público
Federal na denúncia do "caso
da cueca" por terem autorizado
um empréstimo de R$ 300 milhões para o consórcio de energia elétrica STN (Sistema de
Transmissão Nordeste). O grupo de empresas teria pago a
propina ao ex-assessor petista
José Adalberto Vieira, preso
pela Polícia Federal em julho
de 2005 ao tentar embarcar
num avião em São Paulo com
R$ 209 mil numa maleta e US$
100 mil presos ao corpo. A ação
contra os diretores e Roberto
Smith foi suspensa por decisão
do TRF (Tribunal Regional Federal) da 5ª Região. O Ministério Público recorreu.
Apoio do PT
Ciro é candidato a deputado
na coligação PSB-PT-PMDB-PP. O PT deixou de lançar candidato a governador para
apoiar o irmão de Ciro, Cid Gomes, na coligação "Ceará Vota
Para Crescer", formada por
PSB, PT, PC do B, PMDB, PRB,
PP, PHS, PMN e PV. Ciro declarou uma previsão de gastos de
R$ 1,2 milhão para sua campanha. Cid, R$ 20 milhões
A Folha apurou que Ponte
usou a carta para procurar empresas instaladas na região metropolitana de Fortaleza. Ciro
disse que as empresas foram
escolhidas por ele, que teria tido o cuidado de verificar se elas
não teriam negócios ou dívidas
com o BNB. O diretor do banco,
contudo, ficou em dúvida sobre
esse ponto: "Quase certeza que
não. Se bem que é o seguinte: o
banco é muito atuante, no Estado e no Nordeste. Se têm ou
se não têm, nem foi objeto de
conversas com nenhum deles.
Não tenho certeza".
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