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Frigorífico usado por Renan não poderia negociar gado
Autorização ostentada por empresa contraria última versão de defesa do senador
Mafrial admite que seu
cadastro não permitia
comprar e vender carne;
advogado de senador diz
que mostrará documentação
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ
O frigorífico Mafrial não tem
autorização para comprar e
vender carne, o que contraria a
última versão apresentada pelo
senador Renan Calheiros
(PMDB-AL) para explicar a
venda de gado a empresas fantasmas. Ele disse que nunca negociou diretamente com as empresas de fachada Carnal Carnes e GF da Silva Costa, mas
sim por meio do Mafrial.
Segundo os comprovantes de
inscrição e situação cadastral
do Mafrial na Receita Federal e
na Secretaria Estadual de Fazenda de Alagoas, o frigorífico
só está autorizado a abater, armazenar e entregar carnes, não
negociar. O frigorífico não pode
emitir nota fiscal de venda de
carne, portanto não poderia
comprar gado.
Em sua primeira defesa ao
Conselho de Ética do Senado
para rebater acusação de que
teria contas pessoais pagas por
um lobista da construtora
Mendes Júnior, Renan entregou uma série de recibos que
comprovariam a venda de gado
para açougues e demais compradores de carne em Maceió.
Em nenhum momento, naquela ocasião, falou em Mafrial.
Após reportagens mostrarem que muitos dos estabelecimentos indicados nos recibos
operavam em situação precária
ou nem existiam, o senador responsabilizou o frigorífico pelo
uso de laranjas. "Se o matadouro tinha empresas fantasmas e
pagava essa carne comprada
com dinheiro de empresas fantasmas, isso é uma coisa muito
grave, criminosa, que tem que
ser investigada o mais rapidamente possível", disse Renan,
em junho, à TV Globo.
O senador tem inscrição como produtor rural (24300220-3). Como ele afirmou que a
transação de venda foi feita por
meio do Mafrial, ele precisaria
tentar emitir a nota fiscal de
venda de gado para o frigorífico. Receberia a informação de
que isso não seria possível, já
que o Mafrial não tem autorização para negociar carne.
A dona do Mafrial, Zoraide
Beltrão, poderia sugerir intermediar a venda para outros
compradores, mas informalmente. Esse tipo de transação é
comum em Alagoas. Mas o produtor que aceita esse mecanismo sabe que há uma triangulação no negócio. Ou seja, Renan
ou seus funcionários saberiam
desde o começo que a suposta
venda de gado passava por uma
transação ilegal.
Em sua defesa, o senador entregou ao Conselho de Ética
uma relação de notas fiscais,
outra de recibos e uma terceira
de GTAs (guias de transporte
animal) referentes à suposta
venda de gado de suas fazendas.
Tanto a de notas fiscais quanto
os recibos estão nos nomes do
que seriam os compradores finais da carne, incluindo as empresas precárias e as fantasmas.
Mas as GTAs informam como destino dos animais o Mafrial e outro abatedouro do Estado, o Mafrips. Isto é, o senador aceitou entregar e negociar
o gado por meio do Mafrial,
mas receber cheques e emitir
notas ficais para terceiros. Em
muitos casos, como comprovou
perícia da Polícia Federal, as
pessoas que assinam os cheques não têm quaisquer vínculos formais com as empresas
envolvidas na transação.
Zoraide Beltrão, que também
é produtora rural, chegou a
afirmar que comprou gado de
Renan. Mas afirmou que tanto
a Carnal quanto GF estavam
sem operar havia muito tempo.
Em nome do frigorífico, João
Beltrão, sobrinho de Zoraide,
confirmou que o Mafrial não
tem autorização para negociar
carne, mas não quis falar sobre
a versão de Renan. Eduardo
Ferrão, advogado do presidente do Senado, se comprometeu
a apresentar hoje à reportagem
toda a documentação e as explicações necessárias para comprovar a venda de gado informada por Renan.
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