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FOLCLORE POLÍTICO / JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO
Maluf e a velhinha do Tirol
Dona Taurina viveu quase
toda a vida no Tirol, um bairrozinho pacato de Natal. Era um
azougue. Não por acaso dr. Francisco Ribeiro, seu marido, repetia
sempre a mesma frase: "Eu falo
tão pouco, e toda vez que falo me
arrependo". Morto o marido e o
filho mais velho, Grimaldi, foi
com ela morar a prima Alice, viúva casta e crente, que só andava
de preto. Apesar disso, ao sair de
casa, nunca escapou das maledicências de dona Taurina: "Pecados lhe dê o bom Deus, Alice, que
padres não lhe faltarão depois".
Acabou vindo morar no Recife
com seu outro filho, Sileno Ribeiro. Sileno foi, para todos os que o
conheceram, uma pessoa muito
especial. Advogado de nomeada,
teve participação ativa na vida
nacional como secretário-geral
do Ministério da Justiça (ao lado
de Petrônio) e confidente de muita gente importante. Com vasta
cultura humanista. E sem papas
na língua, como a mãezinha.
A velha sentou fama. De seu veneno provou, por exemplo, o sociólogo Gilberto Freire. Quando,
esperando no terraço por Sileno,
foi-lhe servido um pote com salgadinhos. Encheu a mão. Só para
ouvir, na hora, o comentário de
dona Taurina: "Ô meu filho, em
sua casa não tinha comida, não?"
Julho de 1984. Paulo Maluf perseguia votos para se eleger presidente da República. Eleição indireta, todos lembram. Mas o governador Roberto Magalhães,
que estava se acertando com Tancredo, fugia dele como o diabo da
cruz. Pedindo a Sileno, seu secretário da Casa Civil, que fizesse a
fineza de receber o candidato.
"Estou gripado", quis correr Sileno: "Preocupe não, que ele vai na
sua casa", arrematou Roberto.
A casa de Sileno fica na beira do
Capibaribe. Certo é que, naquele
dia, para lá foram Maluf, Marchezan, a tropa toda. Cafezinho
quente e conversa fria. Sileno pediu que a mulher, Cristina, marcasse a mãe de perto. Formiga sabe a roça que come. E tudo corria
bem, ao menos até Cristina ir
buscar água para um dos convidados. Maluf encostou. E, usando
sua reconhecida verve, acabou
encantando dona Taurina. Ela
então se levantou, encheu a boca,
e declarou aos presentes que iria a
Brasília. Para votar nele.
Maluf não perdeu tempo:
"Olha, Sileno, vou dizer aos jornalistas que sua mãe vai votar em
mim". Resposta curta (e grossa)
de Sileno: "E eu, governador, vou
dizer que o único voto conseguido
pelo senhor, em Pernambuco, foi
o de uma velha sem juízo".
José Paulo Cavalcanti Filho, 54, advogado, escreve às segundas nesta coluna
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