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GOVERNADORES
SÃO PAULO
Proposta pepebista de liberar cobrança na madrugada não agrada nem os beneficiados; na década de 80, ato gerou transtorno
Acidente e fila rondam pedágio de Maluf
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao ressuscitar a proposta de liberar motoristas de pagamento
de pedágio entre 23h e 6h, o candidato do PPB ao governo de São
Paulo, Paulo Maluf, também libertou do passado um estoque de
munição contra a medida, que
não tem apoio irrestrito nem
mesmo no grupo que a defende.
Essa é a conclusão a que se chega ao ouvir a opinião de concessionárias, usuários, entidades ligadas à questão e especialistas sobre a promessa malufista, uma
reedição de medida idêntica que
vigorou nos anos 80, quando Maluf era governador de São Paulo.
No grupo que critica a medida,
os argumentos principais vêm da
mesma fonte de Maluf: a experiência passada, quando a franquia dos pedágios provocou filas
de caminhões em acostamentos,
acidentes e engarrafamentos.
Os transtornos ocorreram porque motoristas encostavam seus
veículos antes das praças de pedágio para esperar o horário de passagem livre, provocando congestionamentos. Ao saírem juntos,
também ocorriam acidentes.
As ocorrências constam de um
ofício do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) enviado em
1981 à Secretaria dos Transportes
para pedir o fim da franquia.
Entre os que apóiam a proposta,
a restrição envolve o fato de que
ninguém crê que a mudança seja
capaz de acabar sozinha com a
polêmica que ronda os pedágios.
Maluf até agora tem batido o pé
para defender a importância de
haver nas estradas uma "rota alternativa" à cobrança de pedágios, mas há ponderações, sugestões de medidas mais amplas e até
o veto total à proposta pepebista.
A posição mais extrema é da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. "Somos contra a proposta porque achamos
que é um contra-senso induzir o
aumento de tráfego na madrugada", disse Moacyr Duarte, presidente da entidade.
O argumento é baseado em pesquisa feita pelas concessionárias,
segundo a qual as mortes chegam
a 4,2 pessoas por acidente ocorrido à noite, quando o índice diurno seria de 1,4. A pesquisa foi feita
entre 2000 e 2002 em 1.819 quilômetros de rodovias. "O número
de mortes que a medida vai causar vale a pena para a sociedade?"
Falta de alternativa
"Você pode me dizer assim:
"Bom, mas será que essa é a melhor alternativa?". Creio que não.
Creio que não pode ser a melhor.
Mas me deram outra?", argumenta a deputada estadual Mariângela Duarte (PT), autora de um projeto que também propõe a franquia dos pedágios em São Paulo.
O projeto, ainda em tramitação,
atingiria 92 pedágios no Estado,
78 deles instalados ao longo de
3.500 mil quilômetros de estradas
concedidas à iniciativa privada.
Pelas contas das concessionárias, essas praças de pedágios começaram a pipocar a partir de 94.
O resultado é que, para fazer o trajeto de ida e volta entre São Paulo
e Ribeirão Preto, por exemplo, cada carro passa por dez pedágios
(R$ 45,20) em 616 quilômetros.
"O que não dá é para a gente pagar essa fortuna que estamos pagando em pedágios. O pedágio,
hoje, nos asfixia, nos humilha, nos
cerceia o direito de ir e vir", disse a
deputada Mariângela Duarte.
Também entre os caminhoneiros, que apóiam Maluf, a medida
não é encarada como solução final para a questão. "Isso vai acumular caminhão nas estradas à
noite, que não é um um horário
próprio para trafegar, e aumentar
os assaltos", afirmou Nélio Botelho, presidente do Movimento
União Brasil Caminhoneiro.
A entidade, que na semana passada comandava uma greve nacional da categoria, declarou
apoio a Maluf depois que ele assinou um protocolo de intenções
garantindo que, se eleito, atenderá reivindicações da categoria.
Mesmo assim, a liberação de pedágio é definida por Botelho como uma alternativa emergencial.
"É uma medida totalmente paliativa e provisória", disse ele, que
espera de Maluf medidas amplas,
como "alteração imediata no sistema de concessão de rodovias".
O caminho do debate mais amplo também é o recomendado pelo consultor na área de transporte
e professor da Escola Politécnica
da USP, Jaime Waisman.
"Pedágio dói no bolso, mas precisa ver também o outro lado: o
que está sendo feito, se os contratos foram bem feitos, o quanto
eles estão onerando o custo dos
alimentos, o custo Brasil. É um
debate muito mais amplo, que
tem de ser feito de forma aberta e
transparente, não demagógica."
Para Waisman, a proposta de
Maluf teria efeito limitado na melhora do trânsito urbano devido
ao número de veículos que circulam à noite, dado que as concessionárias não têm disponível.
Melhora no trânsito
A melhora no trânsito é o item
em que se apega um movimento
de moradores e entidades de São
Paulo contra os pedágios para defender parcialmente a proposta.
"Para locais com vias congestionadas, acho a proposta extremamente saudável", afirmou o advogado Francisco Hermano Pereira
Lima, um dos integrantes do Movimento Acesso Livre.
Para conseguir a melhora no
trânsito, ele acredita ser necessário mudar a proposta de Maluf.
Lima defende um escalonamento
nos preços do pedágio à noite até
se chegar à isenção total, na madrugada. A idéia é evitar a concentração de veículos.
"Imagino que, entre 23h e 6h,
deva passar pelos pedágios 5% do
volume diário. Ainda que isso dobrasse, seriam 10%. É muito pouco para ter uma repercussão positiva no trânsito da cidade", afirmou Waisman.
Quanto ao argumento de que a
franquia não põe fim à polêmica
dos pedágios, Lima concorda. "A
questão dos pedágios precisa de
uma reavaliação total", disse sobre a posição do movimento surgido em 99 devido ao fechamento
de acessos e cobrança de pedágio
na rodovia Castelo Branco.
"Entendo que há muita gente
interessada no assunto. Quando
eu digo interessada, é até economicamente e financeiramente.
Tem gente que está rachando de
ganhar dinheiro à custa dos escravos que têm de pagar pedágio. O
que eu vou oferecer é o que existe
no mundo inteiro: uma rota alternativa", afirmou Maluf, na sexta-feira, sobre a sua proposta.
Colaborou RAQUEL LIMA, da Folha Campinas
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