São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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PRESIDENTE

Convivem no petista um candidato cordial com banqueiros e outro que culpa as elites pela crise do país nos palanques

Os 2 discursos de Lula

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A cordialidade apresentada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em encontros com empresários e banqueiros se desmancha no ar quando ele sobe em um palanque. Diante da "massa", cabe à mesma elite econômica, a quem tenta mostrar-se palatável para vencer, o mesmo discurso agressivo festejado pela militância petista mais engajada nos pleitos anteriores.
Em tom de emoção, e embalado pela música da campanha de 1989 ("Lula-lá, nasce uma estrela", que soa com forte carga simbólica), o petista não perdoa. Concentra nas elites, mais nos banqueiros do que nos empresários, a responsabilidade pela soma dos males do país. "Vamos mostrar a eles que um torneiro mecânico é capaz de resolver os problemas que a elite não conseguiu resolver em toda a história do Brasil", disse em Palmas (TO), em comício na noite de sábado, 24 de agosto. Naquela manhã, em Santarém (PA), tratou da perversidade da elite, a quem culpou pela corrupção política.
Não há mais os jargões da época em que o PT defendia os preceitos marxistas, como "classe dominante". Em discurso humorado para artistas e intelectuais, na quinta à tarde, no Rio, Lula tocou no tema: "Agora ninguém precisa mais ser mais comunista para resolver os problemas do país".
Reunido a portas fechadas com os banqueiros, no último dia 20, Lula foi bastante cordial, tentando desmanchar a assombração que sempre representou para a Febraban (Federação das Associação de Bancos) até a campanha de 1998, quando não havia diálogo, apenas farpas a valer.
Os anfitriões avaliam que lucraram com a conversa: o petista se comprometeu a não fazer "nenhuma loucura" que prejudicasse o setor. O candidato ficou com um bom troco para a sua imagem "light", ao ser elogiado pela primeira vez pelos ex-inimigos, e obteve promessas de financiamento maior para a campanha. Na eleição passada, apenas o Itaú doou ao PT: R$ 175 mil. Ciro recebeu do setor R$ 363 mil, e Fernando Henrique Cardoso, R$ 7,3 milhões.
O afago de Lula aos empresários começou com a escolha do vice, o senador José Alencar (PL-MG), em quem vê o "bom patrão" e tem como avalista do seu amadurecimento em relação ao capital.
Com isso, reforçou a defesa da indústria brasileira, um dos motes da campanha que ampara a promessa de 10 milhões de empregos, o que define como a "obsessão" de um eventual governo. Em encontro recente na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Lula obteve a cena dos aplausos agora usada no programa de TV do partido. O lucro foi só de imagem. O PIB paulista está aparentemente reanimado com a ascensão de José Serra.
Lula e seu duplo têm como objetivo ganhar a eleição. No palanque, ele não esconde que esse fim justifica os meios. Diz explicitamente isso ao justificar suas alianças: "A mídia, a imprensa, todos queriam que eu fizesse como em eleições passadas, quando erramos por não buscar alianças. Meu coração hoje está igual a coração de mãe, eu aceito qualquer apoio sem nenhum constrangimento".


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