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PRESIDENTE
Convivem no petista um candidato cordial com banqueiros e outro que culpa as elites pela crise do país nos palanques
Os 2 discursos de Lula
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
A cordialidade apresentada por
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em
encontros com empresários e
banqueiros se desmancha no ar
quando ele sobe em um palanque.
Diante da "massa", cabe à mesma
elite econômica, a quem tenta
mostrar-se palatável para vencer,
o mesmo discurso agressivo festejado pela militância petista mais
engajada nos pleitos anteriores.
Em tom de emoção, e embalado
pela música da campanha de 1989
("Lula-lá, nasce uma estrela", que
soa com forte carga simbólica), o
petista não perdoa. Concentra nas
elites, mais nos banqueiros do
que nos empresários, a responsabilidade pela soma dos males do
país. "Vamos mostrar a eles que
um torneiro mecânico é capaz de
resolver os problemas que a elite
não conseguiu resolver em toda a
história do Brasil", disse em Palmas (TO), em comício na noite de
sábado, 24 de agosto. Naquela
manhã, em Santarém (PA), tratou
da perversidade da elite, a quem
culpou pela corrupção política.
Não há mais os jargões da época
em que o PT defendia os preceitos
marxistas, como "classe dominante". Em discurso humorado
para artistas e intelectuais, na
quinta à tarde, no Rio, Lula tocou
no tema: "Agora ninguém precisa
mais ser mais comunista para resolver os problemas do país".
Reunido a portas fechadas com
os banqueiros, no último dia 20,
Lula foi bastante cordial, tentando desmanchar a assombração
que sempre representou para a
Febraban (Federação das Associação de Bancos) até a campanha
de 1998, quando não havia diálogo, apenas farpas a valer.
Os anfitriões avaliam que lucraram com a conversa: o petista se
comprometeu a não fazer "nenhuma loucura" que prejudicasse
o setor. O candidato ficou com
um bom troco para a sua imagem
"light", ao ser elogiado pela primeira vez pelos ex-inimigos, e obteve promessas de financiamento
maior para a campanha. Na eleição passada, apenas o Itaú doou
ao PT: R$ 175 mil. Ciro recebeu do
setor R$ 363 mil, e Fernando Henrique Cardoso, R$ 7,3 milhões.
O afago de Lula aos empresários
começou com a escolha do vice, o
senador José Alencar (PL-MG),
em quem vê o "bom patrão" e tem
como avalista do seu amadurecimento em relação ao capital.
Com isso, reforçou a defesa da
indústria brasileira, um dos motes da campanha que ampara a
promessa de 10 milhões de empregos, o que define como a "obsessão" de um eventual governo.
Em encontro recente na Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Lula obteve a
cena dos aplausos agora usada no
programa de TV do partido. O lucro foi só de imagem. O PIB paulista está aparentemente reanimado com a ascensão de José Serra.
Lula e seu duplo têm como objetivo ganhar a eleição. No palanque, ele não esconde que esse fim
justifica os meios. Diz explicitamente isso ao justificar suas alianças: "A mídia, a imprensa, todos
queriam que eu fizesse como em
eleições passadas, quando erramos por não buscar alianças. Meu
coração hoje está igual a coração
de mãe, eu aceito qualquer apoio
sem nenhum constrangimento".
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