São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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TODA MÍDIA

Ruim para o Brasil

NELSON DE SÁ

Na "euforia" do dia anterior, a Globo chegou a dizer que não apenas Lula, mas toda a economia estava "rindo à toa" com o crescimento.
Faltou contar para o mercado, para ele rir também. A Bolsa "despencou" ontem -e um analista da Globo News disse que o motivo era o aviso de "ajuste" feito pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Ajuste" que se entendeu como elevação dos juros.
Foi o que entendeu o novo presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Ele conversou com o ministro e saiu, cercado por câmeras, num discurso que mais parecia o do antecessor, Horácio Lafer Piva. Falou contra os juros altos, em aparente cobrança:
- A gente precisa parar com as expectativas... A expectativa de aumento de juros é ruim para o Brasil.
 
Skaf também falou à Globo em "agilizar os investimentos ao máximo", como a saída para sustentar o crescimento.
O mesmo falou José Dirceu -mas à sua moda. Em defesa da Parceria Público-Privada, o ministro sublinhou que "foi aprovado em São Paulo, Minas, Goiás, um projeto praticamente igual". Três PPPs criadas por três governos tucanos.
Mas não era o bastante, para Dirceu. Ele também rebateu as críticas atacando a "autoridade moral" dos tucanos, "depois dos escândalos da privatização". Ele não consegue se conter.
 
Ainda na Globo, ontem de manhã a comentarista Míriam Leitão se esforçava por criticar a falta de "rapidez da máquina" ou então a situação dos portos. Mas exalava "euforia":
- Tem muita notícia boa nos números do PIB... O Ipea deve rever o crescimento anual para 4,5%. Os números são melhores do que todos esperavam.
Selecionou um:
- Um dado excelente foi o aumento da formação de capital fixo: o investimento. Mede a construção civil, a produção e importação de equipamentos, a ampliação das fábricas.
Novamente, faltou apenas contar para a Bolsa.

Reprodução


MALUF FEZ Marta Suplicy e José Serra, que dividem a liderança em São Paulo e se distanciam de Paulo Maluf, passaram a canibalizar as antigas bandeiras malufistas. A própria petista surgiu para anunciar a duplicação da avenida Jacu-Pêssego, "iniciada pelo Maluf e que está sendo concluída e ampliada por mim". O tucano que "faz acontecer", que "fez mais", que "falou e fez", visitou piscinão estadual e prometeu mais, "junto com o governador"

MUITO ALÉM DA SAÚDE

Pelo que se viu desde segunda-feira, mas sobretudo ontem, o monotema da saúde não se tornou exaustivo só para os telespectadores. Também os dois favoritos estão à cata de novos assuntos, após esgotar -com marcas novas e críticas- uma área que, nas pesquisas, nem é aquela que mais assombra os paulistanos.
José Serra, à tarde na TV, entrou em ritmo de "obras", do metrô às enchentes. A adversária vinha procurando colar nele a imagem de que paralisaria obras e projetos. No rádio, sobre as obras, o tucano disse expressamente que não vai parar. À noite na TV, disse que "os CEUs vão continuar", ainda que não como "prioridade".
Marta Suplicy, na TV, também saiu com obras "como o prolongamento da radial", "conjuntos habitacionais" e até um hospital que já "abre em 2005". Voltada ontem à zona leste, a prefeita prometeu para a região "mais nove CEUs, além de 16 CEUs Saúde".

Avanço 1
Foi José Serra defender, um dia antes, e ontem finalmente o SPTV noticiou:
- A Polícia Federal entrou nas investigações do assassinato de moradores de rua.
Vai ajudar.

Avanço 2
Outra boa nova: o secretário estadual de Segurança, Saulo de Castro, já adotava ontem na CBN um tom mais comedido do que nos dias anteriores, ao tratar das investigações.
O problema é que houve um novo ataque a mendigos, desta vez no interior paulista.

Mais Hollywood
Enquanto a cobertura ecoava o espetáculo do governador e ator Arnold Schwarzenegger, o diretor Michael Moore escrevia ontem o seu primeiro texto para o "USA Today".
Falou de si mesmo. Ironizou o "pobre John McCain", dizendo que o senador estragou o seu próprio discurso ao desviar toda a atenção para ele e seu filme. Agradeceu a publicidade.

Para estragar
Moore avisou que não desistiu de voltar à convenção. Deixou no ar que pode aparecer hoje no Madison Square Garden, para o discurso de George W. Bush.


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