São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FAZENDA NA MIRA

Chefe-de-gabinete deixa posto no ministério e refuta acusação de tráfico de influência

Dourado pede demissão e procura preservar Palocci

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chefe-de-gabinete do Ministério da Fazenda, Juscelino Antonio Dourado, pediu demissão ontem. O ministro Antonio Palocci Filho aceitou a saída de um auxiliar que trabalhava com ele havia 13 anos. A saída de Dourado já estava acertada desde o início do mês, quando retornaram ao noticiário as suspeitas de que o advogado Rogério Buratti, seu amigo e padrinho de casamento, fazia tráfico de influência no ministério, o que o chefe-de-gabinete e o ministro sempre negaram.
Palocci preferiu aguardar o depoimento de Dourado anteontem à CPI dos Bingos para formalizar a demissão. O auxiliar deverá ficar no posto por mais alguns dias, até a escolha do sucessor.
Na carta em que pediu demissão, num tom elegante e que mostra intimidade com Palocci, que lhe retribui elogios em outro texto divulgado, Dourado não deixou claro os motivos de sua saída. No entanto, ele deixou a Fazenda devido às relações de "amizade", segundo ele, que disse ter mantido com o advogado Rogério Buratti no período em que comandou o gabinete do ministro da Fazenda.
A cúpula do governo considerava um risco para Palocci a continuidade de Dourado num posto tão próximo ao ministro. O próprio Dourado achou melhor sair para preservar Palocci.
Em depoimento ao Ministério Público paulista e à CPI dos Bingos, Buratti acusou Palocci de receber propina de R$ 50 mil de uma empresa no período em que foi prefeito de Ribeirão Preto pela segunda vez, o que aconteceu entre 2001 e 2002. Palocci nega.
No depoimento à CPI dos Bingos, Dourado, que integrava a administração de Palocci em Ribeirão Preto, também negou a acusação de Buratti.
Na carta de demissão, Dourado reafirma que não cometeu erros na Fazenda. "Tenho certeza da firmeza com que lidei com os assuntos de minha responsabilidade. (...) Estou com a consciência tranqüila de que realizei minha missão, de que não fugi do caminho ético que sempre norteou e norteará minha vida", afirmou Dourado em trechos da carta.
Numa carta de resposta, Palocci disse: "Tenho absoluta certeza da seriedade e lisura com que você lidou com os assuntos de sua responsabilidade". O ministro afirmou respeitar a decisão de Dourado, que dissera ter o "sentimento de dever cumprido" e ter dedicado "20 anos" de sua vida "à militância política".

Depoimento à CPI
Apesar da avaliação da cúpula do governo de que Dourado protegeu Palocci ao depor na CPI dos Bingos, ele entrou em contradição e admitiu que Buratti pedira a ele em 2003 uma audiência do ministro da Fazenda com o grupo português da construção civil Somague, associado à empresa Leão Leão numa concessão de rodovia. O encontro foi marcado.
A Leão Leão, segundo Buratti, era a empresa que pagava a propina de R$ 50 mil. O Ministério da Fazenda não confirmava que a reunião atendeu a um pedido de Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci no primeiro mandato de prefeito em 1993 e 1994.
"No primeiro semestre de 2003, ele [Buratti] me solicitou uma audiência. Falou assim: "como que a gente faz, tem um grupo português, como faz para o ministro receber". Eu disse: "pede para o grupo fazer contato no gabinete do ministro da Fazenda e solicitar a audiência". A empresa fez diretamente o pedido a mim e nós agendamos o compromisso com Palocci", afirmou Dourado.
A afirmação do chefe-de-gabinete ocorreu no fim do depoimento, após mais seis horas de questionamento dos senadores. No início, ele disse que não tratava de assuntos do ministério ou negócios com Buratti.
(KENNEDY ALENCAR)


Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Movimento do Planalto: Para abreviar crise, Lula quer "entregar cabeça" de Dirceu
Próximo Texto: Presidente da Leão Leão é indiciado e deixa a empresa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.