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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ MOVIMENTO DO PLANALTO
Presidente, de olho em 2006, trabalha para acelerar desfecho da conturbação política e não tentará impedir cassação do ex-ministro
Para abreviar crise, Lula quer "entregar cabeça" de Dirceu
KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva articula diretamente a tentativa de acelerar o desfecho da crise
-patrocinou, por exemplo, o
acordo entre as CPIs dos Correios
e do Mensalão para a confecção
do relatório comum que pediu a
cassação de 18 congressistas.
Lula admite que precisa entregar a cabeça do ex-ministro da
Casa Civil José Dirceu para provar
que "cortou na carne". Seria requisito para dar continuidade à
subida de tom em relação à oposição, colocando-se como vítima de
ataques, na sua opinião injustos,
na tentativa de recuperar a esperança de se reeleger em 2006.
O presidente julga que o governo precisa mostrar que levantou
as principais provas até agora. Daí
ter pedido na segunda-feira ao
ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) relatório de todas as investigações do governo desde a
divulgação das primeiras acusações de corrupção em maio.
Nas conversas reservadas, Lula
diz que Dirceu não tem chance de
escapar da cassação e que o ex-ministro sabe disso, mas luta para
preservar o mandato por ser "cabeça dura". O presidente acha que
assim só estende um processo político desgastante para o governo
e para o PT. Na avaliação de Lula,
Dirceu está morto politicamente.
Para o presidente, está errada a
estratégia de Dirceu. Seria melhor
se levasse o processo apenas para
o lado político. Perderia o mandato com o discurso de quem foi alijado da vida pública pela segunda
vez -a outra foi na ditadura militar (1964-1985), quando viveu exilado em Cuba e clandestinamente
no Brasil. Poderia até recuperar o
mandato e os direitos políticos no
Supremo Tribunal Federal.
Além de Lula, as cúpulas dos
principais partidos avaliam que
Dirceu deverá ser o vice-campeão
de votos na sessão secreta em que
será analisada a cassação de seu
mandato. Só perderá para Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Aliás, Lula considera que seria
"muito ruim" cassar apenas "uns
dois ou três" parlamentares e Roberto Jefferson (PTB-RJ). Parecerá que houve punição para alguns
bodes expiatórios e para quem fez
a denúncia que abalou o governo
e o Congresso Nacional.
Lula ficou preocupado ao ler na
terça-feira a entrevista que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), deu à Folha. Nela, Severino defendia punição
mais branda a parlamentares que
usaram recursos de caixa dois.
Lula comentou com auxiliares
que aquele "acordão" seria debitado na sua conta e não na de Severino e dos petistas e aliados. Resolveu agir e, na quarta-feira, teve
conversas reservadas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da
CPI dos Correios, o senador Delcídio Amaral (PT-MS).
Ontem, falou com muito jeito
com Severino que era preciso agilizar os processos de cassação e
dar "uma resposta rápida à sociedade". Severino tem arrastado esses processos. Lula disse a auxiliares que deu aval a Renan e a Delcídio para a fusão dos relatórios das
CPIs dos Correios e do Mensalão.
Sua expectativa é que agora a CPI
dos Correios perca os holofotes, já
que o Planalto tem mais força na
CPI do Mensalão.
Para Lula, se a crise terminar logo, em novembro, por exemplo,
ele terá mais chance de recuperar
cacife político. Ele disse a auxiliares que a queda de sua popularidade nas pesquisas se deve aos
três meses de bombardeio político e que, no período, a oposição
não levantou nada contra ele.
A "operação reta final" será estimulada por Lula e seus principais
aliados. Para o presidente, a punição dos 18 deputados citados no
relatório conjunto apresentado
ontem pelas CPIs dos Correios e
do Mensalão, seriam suficientes
para dar uma satisfação à opinião
pública. Ao final do atual processo, pensa que o Congresso estará
com a imagem arranhada e que
ele viverá boa fase na economia.
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