São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / SÃO PAULO

Eleição de Lula derrotou o PT, diz Plínio

Ex-petista disputa o governo de São Paulo pelo PSOL com campanha federalizada e ataques concentrados no governo federal

Candidato cogita não pagar dívida do Estado de SP com o governo federal e defende reestatização de empresas privatizadas


FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Candidato do PSOL ao governo de São Paulo, o advogado Plínio de Arruda Sampaio gosta mesmo é de falar de Brasília.
Um dos fundadores do PT, partido pelo qual concorreu ao mesmo cargo em 1990 (somando 12% dos votos), ele diz que a federalização de sua campanha decorre do fato de que só São Paulo é capaz de mudar a política econômica federal.
A arma, defende, seria a ameaça de calote da dívida do Estado com a União. Ao levar o foco para o Planalto, pratica um dos seus exercício favoritos: bater no ex-partido. Declara que quer ocupar o vácuo de contestação deixado pelo PT, igualado ao PSDB. Com 1% nas pesquisas, o ex-deputado federal (1985-1991) se esquiva de afirmar para onde vai o PSOL num segundo turno e evoca o ex-presidente corintiano Vicente Matheus para falar de suas chances: "O jogo só acaba quando termina".

 

FOLHA - O que fez o sr., que estava afastado da política eleitoral desde 1990, concorrer ao governo de SP?
PLÍNIO SAMPAIO -
A consciência de que o PT, passando para o campo da ordem, não tinha ninguém no campo da desordem. Quando eu falo "desordem" é brincadeira, né? No campo da contestação da ordem. De chamar a atenção da opinião pública de que, nesta ordem econômica, social e política, não se resolve os problemas do Brasil.

FOLHA - O sr. tem 1% nas pesquisas. Acredita que pode vencer a eleição, quer só debater idéias ou é uma espécie de anticandidato?
PLÍNIO -
Eu tenho 50 anos de vida pública. Em matéria de eleição, o meu filósofo preferido é o Vicente Matheus: o jogo só termina quando acaba. Não entro para ganhar ou perder, mas para dizer algumas coisas que são necessárias. Quando você não ganha uma eleição, você acumula. A eleição do Lula foi a derrota do PT. Porque o Lula se elegeu sem condições de fazer o programa transformador que ele prometeu durante 25 anos. Porque ele ganhou com o marketing, e não com uma consciência popular clara do que queria fazer. O cara que votar em mim vai saber o que tem pela frente.

FOLHA - O sr. diz que concorre para debater idéias, mas esta é uma campanha fria e quase sem debates...
PLÍNIO -
Esse é o desafio que está posto para mim. Não sei se vou conseguir vencê-lo. No debate [da Band], um candidato me disse: "Você é candidato a governador de SP, não à presidente". E eu respondi: "Você acha que algum problema de São Paulo pode ser resolvido sem ter ligação com o âmbito nacional? Nenhum. Por causa da lei federal, não é que depende de verba. Mas São Paulo apequenou-se. É por isso que acho que temos de renegociar essa dívida [com o governo federal].

FOLHA - Caso vença, o que o sr. faria no governo paulista?
PLÍNIO -
Mobilização da opinião de São Paulo para pressionar pela mudança da política econômica do governo federal.

FOLHA - Essa federalização de sua campanha é uma tentativa de reforçar a candidatura de Heloísa Helena, que está mais forte que a sua?
PLÍNIO -
Não é só por isso, isso é subproduto. É porque estou convencido de que precisa mudar a política econômica e que São Paulo tem peso para isso.

FOLHA - Como se daria essa pressão? Ameaça de não pagar a dívida?
PLÍNIO -
Pressão política. Eu vou discutir a dívida. Se brincar, não pago. O Itamar não pagou. Eu não quero dizer que vou chegar e não pago, é uma atitude de desafio, eu não sou um sujeito disso. É rediscutir. A dívida, que há 12 anos era de R$ 30 bilhões, é de R$ 126 bilhões. Porque tem um gatilho que vai fazendo dívida sobre dívida. E você não paga nunca, amarra São Paulo ao governo federal. Isso é contra a federação.

FOLHA - O sr. disse que Serra e Mercadante são iguais. Que diferença vê entre Lula e Alckmin?
PLÍNIO -
Na orientação geral da política econômica, são enfoques iguais, de que não se consegue resolver os problemas do país sem o capital externo. Quanto à execução dessa política, Alckmin tem uma posição mais rígida, e o Lula dá um pouco mais de verba social.

FOLHA - O sr. foi uma das vozes mais críticas à privatização da Cteep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista). Pretende reestatizar empresas caso eleito?
PLÍNIO -
A Cteep, tranqüilamente. Vamos reabrir, olhar ponto por ponto. Mas não é tudo [que seria reestatizado]. Da própria Cosipa, o capital privado dá conta.

FOLHA - Em artigo recente, defendendo uma invasão do MST, o sr. disse que a desobediência civil é permissível em certas circunstâncias. Atos do PCC, colocados como um protesto à falência do sistema carcerário, são desobediência civil? PLÍNIO - Gandhi, Martin Luther King e Mandela infringiram a legalidade. Quando a legalidade é de tal maneira defasada da justiça, você está intitulado a isso. Quem faz um protesto contra a falência do sistema carcerário são a Pastoral Carcerária e os grupos de direitos humanos. O PCC é uma organização criminosa que utiliza habilmente uma retórica de injustiça para indispor o governo. PCC comigo não.

FOLHA - Qual o pilar do programa de segurança pública do sr.?
PLÍNIO -
A pessoa que cometeu um crime tem que ser processada de acordo com a lei, condenada e sofrer um castigo de acordo com a lei mas também tem que ser reabilitada de acordo com a lei. Esse estouro do sistema penitenciário é um acúmulo de só castigo, não contempla a ressocialização. Mas isso leva tempo. A primeira providência seria diminuir a lotação das prisões, liberando os presos com sentença vencida e colocando aqueles em fim de pena em prisões improvisadas em prédios públicos. Preso em fim de pena não foge.


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