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ELEIÇÕES 2006 / SÃO PAULO
Eleição de Lula derrotou o PT, diz Plínio
Ex-petista disputa o governo de São Paulo pelo PSOL com campanha federalizada e ataques concentrados no governo federal
Candidato cogita não pagar
dívida do Estado de SP
com o governo federal e
defende reestatização de
empresas privatizadas
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Candidato do PSOL ao governo de São Paulo, o advogado
Plínio de Arruda Sampaio gosta
mesmo é de falar de Brasília.
Um dos fundadores do PT,
partido pelo qual concorreu ao
mesmo cargo em 1990 (somando 12% dos votos), ele diz que a
federalização de sua campanha
decorre do fato de que só São
Paulo é capaz de mudar a política econômica federal.
A arma, defende, seria a
ameaça de calote da dívida do
Estado com a União.
Ao levar o foco para o Planalto, pratica um dos seus exercício favoritos: bater no ex-partido. Declara que quer ocupar o
vácuo de contestação deixado
pelo PT, igualado ao PSDB.
Com 1% nas pesquisas, o ex-deputado federal (1985-1991)
se esquiva de afirmar para onde
vai o PSOL num segundo turno
e evoca o ex-presidente corintiano Vicente Matheus para falar de suas chances: "O jogo só
acaba quando termina".
FOLHA - O que fez o sr., que estava
afastado da política eleitoral desde
1990, concorrer ao governo de SP?
PLÍNIO SAMPAIO - A consciência
de que o PT, passando para o
campo da ordem, não tinha
ninguém no campo da desordem. Quando eu falo "desordem" é brincadeira, né? No
campo da contestação da ordem. De chamar a atenção da
opinião pública de que, nesta
ordem econômica, social e política, não se resolve os problemas do Brasil.
FOLHA - O sr. tem 1% nas pesquisas. Acredita que pode vencer a eleição, quer só debater idéias ou é uma
espécie de anticandidato?
PLÍNIO - Eu tenho 50 anos de
vida pública. Em matéria de
eleição, o meu filósofo preferido é o Vicente Matheus: o jogo
só termina quando acaba. Não
entro para ganhar ou perder,
mas para dizer algumas coisas
que são necessárias. Quando
você não ganha uma eleição,
você acumula. A eleição do Lula
foi a derrota do PT. Porque o
Lula se elegeu sem condições
de fazer o programa transformador que ele prometeu durante 25 anos. Porque ele ganhou com o marketing, e não
com uma consciência popular
clara do que queria fazer. O cara que votar em mim vai saber o
que tem pela frente.
FOLHA - O sr. diz que concorre para
debater idéias, mas esta é uma campanha fria e quase sem debates...
PLÍNIO - Esse é o desafio que está posto para mim. Não sei se
vou conseguir vencê-lo. No debate [da Band], um candidato
me disse: "Você é candidato a
governador de SP, não à presidente". E eu respondi: "Você
acha que algum problema de
São Paulo pode ser resolvido
sem ter ligação com o âmbito
nacional? Nenhum. Por causa
da lei federal, não é que depende de verba. Mas São Paulo apequenou-se. É por isso que acho
que temos de renegociar essa
dívida [com o governo federal].
FOLHA - Caso vença, o que o sr. faria no governo paulista?
PLÍNIO - Mobilização da opinião de São Paulo para pressionar pela mudança da política
econômica do governo federal.
FOLHA - Essa federalização de sua
campanha é uma tentativa de reforçar a candidatura de Heloísa Helena,
que está mais forte que a sua?
PLÍNIO - Não é só por isso, isso é
subproduto. É porque estou
convencido de que precisa mudar a política econômica e que
São Paulo tem peso para isso.
FOLHA - Como se daria essa pressão? Ameaça de não pagar a dívida?
PLÍNIO - Pressão política. Eu
vou discutir a dívida. Se brincar, não pago. O Itamar não pagou. Eu não quero dizer que
vou chegar e não pago, é uma
atitude de desafio, eu não sou
um sujeito disso. É rediscutir. A
dívida, que há 12 anos era de R$
30 bilhões, é de R$ 126 bilhões.
Porque tem um gatilho que vai
fazendo dívida sobre dívida. E
você não paga nunca, amarra
São Paulo ao governo federal.
Isso é contra a federação.
FOLHA - O sr. disse que Serra e Mercadante são iguais. Que diferença vê
entre Lula e Alckmin?
PLÍNIO - Na orientação geral da
política econômica, são enfoques iguais, de que não se consegue resolver os problemas do
país sem o capital externo.
Quanto à execução dessa política, Alckmin tem uma posição
mais rígida, e o Lula dá um pouco mais de verba social.
FOLHA - O sr. foi uma das vozes
mais críticas à privatização da Cteep
(Companhia de Transmissão de
Energia Elétrica Paulista). Pretende
reestatizar empresas caso eleito?
PLÍNIO - A Cteep, tranqüilamente. Vamos reabrir, olhar
ponto por ponto. Mas não é tudo [que seria reestatizado]. Da
própria Cosipa, o capital privado dá conta.
FOLHA - Em artigo recente, defendendo uma invasão do MST, o sr.
disse que a desobediência civil é permissível em certas circunstâncias.
Atos do PCC, colocados como um
protesto à falência do sistema carcerário, são desobediência civil?
PLÍNIO - Gandhi, Martin Luther King e Mandela infringiram a legalidade. Quando a legalidade é de tal maneira defasada da justiça, você está intitulado a isso. Quem faz um protesto contra a falência do sistema carcerário são a Pastoral
Carcerária e os grupos de direitos humanos. O PCC é uma organização criminosa que utiliza habilmente uma retórica de
injustiça para indispor o governo. PCC comigo não.
FOLHA - Qual o pilar do programa
de segurança pública do sr.?
PLÍNIO - A pessoa que cometeu
um crime tem que ser processada de acordo com a lei, condenada e sofrer um castigo de
acordo com a lei mas também
tem que ser reabilitada de
acordo com a lei. Esse estouro
do sistema penitenciário é um
acúmulo de só castigo, não contempla a ressocialização. Mas
isso leva tempo. A primeira
providência seria diminuir a
lotação das prisões, liberando
os presos com sentença vencida e colocando aqueles em fim
de pena em prisões improvisadas em prédios públicos. Preso
em fim de pena não foge.
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