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Atuação do STF e da mídia divide opiniões
Votos dos ministros do Supremo são discutidos por 32 personalidades, entre magistrados, procuradores e advogados
Para 11 especialistas, houve
influência da imprensa no
resultado; 11 rejeitam a
hipótese de alteração de
voto e 10 não comentam
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A atuação do Supremo Tribunal Federal nas sessões em
que recebeu a denúncia do
mensalão provocou reações de
perplexidade no meio jurídico
e opiniões divergentes sobre a
atuação da mídia. A influência
da imprensa nos votos dos ministros dividiu a opinião de 32
personalidades consultadas pela Folha, entre magistrados,
procuradores e advogados (11
admitem a influência; 11 rejeitam e 10 não comentam).
Em manifestações espontâneas, 15 entrevistados elogiaram a ação da imprensa (12 não
se manifestaram e cinco fizeram fortes críticas à mídia).
"Suponho que os juizes mais
antigos da Corte vão tomar a
frente para recompor, não a
unidade interna porque isso
seria extremamente pernicioso, mas a discrição que se espera de um juiz", diz o desembargador Augusto Francisco Mota
Ferraz de Arruda, do Tribunal
de Justiça de São Paulo. Ele
não acredita que a mídia tenha
alterado a convicção e os votos
dos ministros do STF.
"Nunca vi na história do STF
um desgaste público entre ministros, a ponto de um proclamar a intenção de acionar judicialmente o outro. Já houve
um lamentável incidente anterior entre um ministro e um
ex-presidente do STF. É incrível coincidência, mas essas coisas só estão ocorrendo, nessa
desmedida proporção, no governo Lula", diz Arruda.
O juiz Marcos Salles, presidente da Associação dos Magistrados da Paraíba, diz que, com
a presença maciça da mídia, "os
ministros passaram a ser
acompanhados e, de certa forma, protegidos de assédios dos
grupos políticos que desejavam
influenciar o caso".
A procuradora regional da
República Janice Ascari diz
que "a comunidade jurídica comentava que os ministros Eros
Grau, Lewandowski e Cármen
Lúcia iriam livrar o núcleo político do PT, especialmente da
imputação de quadrilha".
"O STF não tem boa imagem,
pelas decisões benevolentes
nos processos criminais." "Alguns ministros têm visível dificuldade em lidar com conceitos de direito penal e temas jurídicos mais modernos."
O procurador da República
João Marques Brandão Néto,
de Santa Catarina, diz que "é
muito raro uma denúncia não
ser recebida. Com ou sem a mídia, a denúncia seria recebida."
O desembargador Caetano
Lagrasta entende que a mídia
não influenciou o Supremo. Já
o subprocurador-geral da República Francisco Dias Teixeira tem opinião diferente. "Seria
muito difícil a um ministro que
tivesse optado, em seu gabinete, por uma decisão, sustentar
aquela posição questionável
diante de uma opinião pública
adversa e que, possivelmente,
ainda ficaria isolada pelos seus
pares", diz Teixeira.
O advogado Luiz Fernando
Pacheco, que defende o deputado José Genoino (PT-SP), diz
que "os ministros não se deixam influenciar pela mídia".
"Mas, se um ministro acredita
que o julgamento foi parcial e
influenciado pela mídia, quem
sou eu para dizer o contrário?"
Délio Lins e Silva, que defende o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas e o irmão Antonio,
diz "acreditar piamente" que a
mídia influenciou o STF.
O diretor-executivo da
Transparência Brasil, Cláudio
Weber Abramo, admite a influência da mídia. Mas ressalva: "Se se tratasse de um julgamento sobre o mérito das acusações, [os ministros] não seriam tão condescendentes
quanto às diversas lacunas que
evidentemente afetam a denúncia do MPF".
Para o juiz Jorge Gustavo de
Macedo Costa, "a presença da
mídia não gerou influência. Os
ministros não se influenciam
com fatores externos", diz. O
juiz gaúcho Newton Luís Medeiros Fabrício não vê influência da mídia, mas diz que o ministro Lewandowski "deve esclarecer" por que o STF decidiu
"com a faca no pescoço".
Outro gaúcho, o juiz Martin
Schulze, diz que "se algum ministro estava convicto em não
receber a denúncia, não merecia estar lá. Deveria ter rejeitado e dizer porquê". Ele não crê
que algum ministro "estivesse
constrangido em não receber a
denúncia em razão da mídia".
A juíza federal Suzana Camargo, do Tribunal Regional
Federal da 3ª Região, não acredita que a mídia "tenha tido o
condão de abalar ou modificar
a convicção íntima de cada ministro". O juiz Marcelo Semer
diz "confiar que os ministros
não tenham sido influenciados
por qualquer campanha, expectativas da mídia ou ainda
pelas ilações após a divulgação
de correspondência privada
entre dois julgadores". "Infelizmente, as palavras do ministro
Lewandowski podem indicar o
contrário, o que seria preocupante", afirma.
"Ficou nítido que a decisão
teve mais caráter político do
que técnico-jurídico", afirma o
advogado Antônio Sérgio Pitombo. Ele defende Breno
Fischberg e Enivaldo Quadrado, sócios da Bonus-Banval.
Para José Carlos Dias, "por
mais rigor técnico que os ministros queiram observar, não
estão imunes a pressões da opinião pública, com a imensa cobertura da mídia. Nesta fase, se
está analisando a existência de
indícios para avaliação da culpabilidade de cada um dos
réus, o que atenua a responsabilidade dos juízes", afirma.
"Não posso admitir que o
STF tenha sido influenciado
pela mídia", diz Paulo Sérgio
Abreu e Silva, advogado de Rogério Tolentino e Geiza Dias.
Para Wellington Alves Valente,
que defende o deputado João
Magno (PT-MG), a mídia influenciou o STF. Já Antonio
Ruiz Filho, ex-presidente da
Associação dos Advogados de
São Paulo, não acredita nisso.
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