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Elio Gaspari
Eu faço greve, você sofre e paga
De cada dez greves de serviços públicos ocorridas no mundo em agosto, duas foram brasileiras
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DURANTE O MÊS de agosto aconteceram mais de 35 greves no Brasil, parando pelos menos 150 mil
funcionários de serviços públicos. Quase
todas bateram na testa da choldra, afetando hospitais, delegacias, escolas e linhas de transporte. Algumas duraram pouco. Outras, como a dos médicos alagoanos e a dos professores maranhenses,
passaram dos 80 dias. Numa estimativa
conservadora, amolaram a vida de 5 milhões de pessoas.
Em certos casos, sem ir à greve, os trabalhadores estariam fritos. Os 800 lixeiros de São Gonçalo, por exemplo, tinham 18 dias de salários atrasados e seis meses
de horas extras retidas. Já a paralisação,
por mais de dois meses, de cerca de 50
mil servidores de universidades federais,
produziu um único resultado: danou os
estudantes. O governo fez de conta que
essa greve não existiu. Nosso Guia, que
gosta de grandes números, deveria se orgulhar: neste ano, não houve no mundo
greve desse tamanho com semelhante
duração.
Uma sapeada no Google News indica
que nos últimos 20 dias aconteceram
umas cem greves pelo mundo afora. Pararam operários da Ford na Austrália,
trens na linha Berlim-Hamburgo (por
duas horas), professores na Nova Zelândia, lixeiros em Vancouver e Gaza.
Uma central chilena parou um bom
pedaço do país por um dia. Mesmo sem
ter muito a ver com greves de médicos e
professores do Nordeste ou de polícias
no Rio, Lula colecionou mais um recorde: de cada 10 greves de serviços públicos
ocorridas no planeta durante o mês de
agosto, pelo menos 2 foram brasileiras.
As centrais e os sindicatos arriscam
pouco contra os patrões. As greves de
agosto em empresas privadas contaram-se nos dedos das mãos e pararam menos
de 10 mil pessoas. Quando o movimento
vai em cima do cofre da Viúva à custa do
constrangimento da patuléia, os comissários pisam fundo. Fazem isso seguindo
o lema do pós-leninismo: "Greve até a vitória final, com pagamento dos dias parados".
Os servidores têm argumentos fortes.
Muitas categorias foram arrochadas pelas administrações tucano-petistas. Todavia perderam a sensibilidade do dano
que impõem à população quando paralisam escolas, polícias e hospitais. O caminho escolhido pelos grevistas, pelos seus
sindicatos e pelas centrais tem um efeito
previsível: reduz o apoio da platéia. O
Brasil gosta de ser campeão do mundo
de futebol, mas um campeonato mundial de greves na saúde e na educação é
medalha de mau material.
IDELI SALVATTI, O BEATLE E JOHN KENNEDY
A nação petista tem o hábito de atribuir qualquer
coisa a outra coisa.
Nada é o que é, tudo é o
que parece não ser, como se
a sabedoria companheira
fosse capaz de captar conspirações imperceptíveis para a escumalha. Assim, a senadora Ideli Salvatti viu o efeito da mão invisível no fato de o Supremo ter julgado
a denúncia contra os mensaleiros na mesma semana
em que se realiza o congresso do Partido dos Trabalhadores.
Diz a senadora: "Nada
acontece por acaso. Esse julgamento poderia ter sido
em qualquer momento".
Aceitando-se que uma feitiçaria subordinou a agenda
do STF à do PT, fica estabelecida uma conexão entre a
guitarra Rickenbacker 425
de George Harrison e o rifle
Mannlicher-Carcano de Lee
Oswald. Como nada acontece por acaso, em setembro
de 1963 o Beatle comprou a
guitarra porque Oswald
comprara o rifle em março.
A Rickenbacker foi usada
por Harrison num concerto
na Inglaterra, no dia 20 de
novembro. Dois dias depois,
Oswald dedilhou o Mannlicher e explodiu a cabeça do
presidente John Kennedy.
TAMANHO DA CONTA
Segundo os cálculos de quem
entende, os 40 mensaleiros já
gastaram entre R$ 20 milhões
e R$ 30 milhões com advogados.
Nesse cálculo leva-se em
conta que alguns denunciados
foram defendidos de graça, enquanto outros deixaram os
olhos da cara.
A partir de agora, começa outra conta, na bandeira 2.
EREMILDO NO SUPREMO
Eremildo é um idiota, mas
acredita que entendeu o que o
ministro Ricardo Lewandowski quis dizer quando revelou
que "a tendência (do Supremo)
era amaciar para o Dirceu" e
que ele próprio "estava tinindo
nos cascos" para fazer isso.
Ficando no vocabulário dos
hipódromos, mais adequado
para conversas desse tipo, doutor Lewandowski simplesmente não confirmou o apronto.
Quem o ouviu nos pródromos do páreo deveria ter lembrado de uma lei do prado, segundo a qual de pouco adianta um bonito apronto de um animal ligeiro se não se leva em
conta a distância da corrida.
Lewandowski esperava um páreo de mil metros com pista seca e caiu noutro, de 3.000, com
pista molhada.
Uma coisa o idiota é incapaz
de entender: por que o ministro deixou a mesa do restaurante, onde estava com pessoas
que conhecia, e foi falar ao celular em outro lugar, perto de
desconhecidos?
NOS CASCOS
Lula soube, de boa fonte, que
a denúncia por formação de
quadrilha pelos seus meninos
do mensalão dificilmente seria
aceita.
Seu plantel parecia tinir nos
cascos.
URTICÁRIA
A edição do livro "Direito à
Memória e à Verdade", da Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos, é um
excelente contraponto para outra publicação do governo de
Nosso Guia, os 15 volumes de
"1964 - 31 de março", editados
em 2003. Eles reúnem 250 entrevistas de admiradores da ditadura (exceção para José Genoino). As vozes militares vêm
de 216 oficiais, quase todos da
reserva. Deles, pelo menos 60
passaram pelo aparelho de segurança e informações do regime militar e oito serviram nos
DOI-Codi. Publicada pela Biblioteca do Exército, a obra foi
concebida no governo de
FFHH.
Tem coisas assim: "Acabamos com o terrorismo no Brasil, doa a quem doer. Por isso
eles vivem falando em torturas
(...)" (tenente coronel Orestes
da Rocha Cavalcanti). Ou ainda: "A "canalha", caluniando e
mentindo, vai passando às novas gerações a imagem de que
houve uma "ditadura militar"
(...) O atual governo (FFHH)
comunga com a "canalha'" (general Anápio Gomes Filho.)
"Direito à Memória" atualiza
a documentação publicada em
1999, em "Os Filhos deste Solo". Cada um dos 339 mortos ou
desaparecidos é lembrado com
uma curta biografia e o resumo
dos argumentos de suas famílias na busca de reparações. É
matéria para pesquisadores e,
felizmente, seu conteúdo irá
para a internet.
Como os companheiros não
foram capazes de achar nos arquivos do governo nem sequer
papéis que já são públicos,
acessíveis no CPDOC, acrescentou-se pouco à busca da verdade. "Direito à Verdade" provocou alguns acessos de urticária. São produto da saudade da
anarquia militar e da ditadura.
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