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ANÁLISE
MP da Grilagem arma bomba-relógio
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
É virtualmente seguro afirmar, como fez o ministro Carlos Minc ontem, que o desmatamento na Amazônia em 2009
será o menor da história.
Caso Minc e sua estimativa
-que, ele mesmo admite, "não
é muito científica"- estejam
certos e a devastação fique
mesmo na casa dos 9.000 km2,
o Brasil vai bater bumbo na
conferência do clima de Copenhague, em dezembro. Dirá
que controlou o desmatamento, o que não é verdade. Mais
certo seria dizer, como um bêbado em reabilitação, que controlou o desmate neste ano.
E "controlar" aqui é licença
poética. Afinal, 9.000 km2, quase uma Jamaica, ainda é mais
do que toda a produção de açúcar ceifou da mata atlântica entre 1700 e 1850.
Mesmo que fosse um dado a
comemorar, como toda boa notícia na Amazônia, esta corre o
risco de se desfazer -literalmente- numa nuvem de fumaça nos próximos meses. O
"ano fiscal" da derrubada fecha
com um viés de alta, e uma alta
forte: julho de 2009 termina
com um aumento de 93% em
relação a julho de 2008, segundo o sistema SAD, do Imazon.
E 160% em relação ao mesmo
mês segundo o Deter, do Inpe.
A cobertura de nuvens, alta
demais neste verão amazônico,
fez com que parte do desmatamento de meses anteriores só
viesse se revelar agora. "Mas
não foi só efeito de nuvens", diz
Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon.
Segundo ele, a retomada da
devastação pode ser explicada
por dois fatores principais:
afrouxamento das medidas de
controle do governo, que ajudaram a derrubar o desmate
sobretudo no verão amazônico
de 2008, e um surto de grilagem que explodiu neste ano. A
origem do surto tem nome:
Medida Provisória 458, a MP
da regularização fundiária.
Apesar de a MP só ter sido
aprovada em junho, a sinalização do governo de que ela passaria, já no começo do ano, bastou para atiçar os especuladores. Uma evidência disso é a
mudança na geografia do desmatamento neste ano.
Áreas que não têm atividade
agropecuária forte aparecem
desmatadas. Entre elas está o
eixo da rodovia BR-163, no Pará. O sul do Amazonas, considerado até pouco tempo atrás
"fechado" ao desmatamento
por conta de unidades de conservação criadas na divisa com
Mato Grosso, também faz sua
estreia entre os "pontos quentes" da Amazônia, bem como a
calha norte paraense.
"A mudança no perfil é preocupante", diz Gilberto Câmara,
diretor do Inpe.
Regiões de desmatamento
tradicionalmente alto, em especial Mato Grosso e Rondônia, cederam à crise econômica, às pressões do mercado (como a moratória da soja e o embargo dos supermercados à
carne, após denúncias do
Greenpeace) e ao cassetete,
além da constatação deprimente de que, nesses Estados,
há cada vez menos floresta para desmatar. No oeste do Pará,
o desmate saiu do controle.
E aqui o fantasma de Marina
Silva volta para puxar o pé de
de Minc e de seu chefe, o presidente Lula. À frente do ministério, Marina criou unidades de
conservação no "arco da grilagem" do oeste paraense e no
sul do Amazonas. Lula não só
não tirou esses parques do papel como armou a bomba-relógio da MP 458, que ameaça estourar em seu colo no pior momento possível -em 2010.
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