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DIPLOMACIA
Em discurso para empresários no Chile, presidente diz que predomínio americano deve ser compartilhado
FHC rechaça hegemonia mundial dos EUA
GUSTAVO PATÚ
AUGUSTO GAZIR
enviados especiais a Santiago
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que a liderança mundial dos EUA deve ser
algo "compartilhado", não "hegemônico", em discurso no qual
atacou o protecionismo comercial
americano e explicitou a pretensão
brasileira de obter apoios na América do Sul para uma voz mais ativa
nas relações mundiais.
"Depois da queda do Muro de
Berlim, a predominância de um
país é óbvia. Não se sabe se essa
predominância vai ser hegemônica ou algo mais compartilhado,
que é o que interessa a todos nós."
FHC, em discurso para empresários brasileiros e chilenos, no hotel
Carrera, em Santiago, pediu o
apoio do Chile à posição brasileira
sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que os EUA
querem apressar: "Sabemos, como vocês, o que custa o protecionismo americano a nós. Vocês têm
sua lista: salmão, madeira e não sei
o que mais; nós também temos:
aço, suco de laranja e por aí vai".
A posição do Mercosul (bloco
que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) é de maior cautela
nas negociações para a implementação da Alca, prevista para 2005.
O Mercosul, ao qual o Chile se
associou há um ano, teme uma excessiva exposição à concorrência
com produtores mais poderosos.
Para FHC, não se trata de questionar os princípios da formação de
um bloco continental -"com os
quais estamos de acordo".
O importante, disse, é saber os
efeitos práticos dessa integração.
"Não vamos nos integrar simplesmente pela alegria de termos tarifas (de importação) comuns."
FHC foi aplaudido ao defender,
em tom de discurso político, que
"a integração tem que ser vista do
ângulo do bem-estar do nosso povo". A Alca, disse, não substituirá
o Mercosul (os blocos serão desenvolvidos em conjunto). A integração deve ser feita "sem exclusão
de país ou segmento da sociedade". As afirmações foram feitas a
12 dias da chegada do presidente
dos EUA, Bill Clinton, ao Brasil.
"Não há poder legítimo"
Para argumentar em favor da
união dos países sul-americanos,
FHC descreveu a atual economia
globalizada como um ambiente de
grande circulação de capitais sem
controle. "Não há regras como
depois da 2ª Guerra, quando nações unidas encontraram uma forma de organizar o mundo."
Foi uma referência ao sistema
criado pela Conferência de Bretton
Woods, realizada nos EUA em
1944, pelo qual a adoção de taxas
de câmbio fixas entre os países servia para controlar o fluxo de investimentos. Esse sistema caducou
nos anos 70 e não foi substituído.
Hoje, segundo FHC, "há uma
massa enorme de capital disponível sem que se saiba o que fazer
com ele, onde investi-lo". "Tudo
isso é muito débil. Não há um poder legítimo a nível internacional."
O presidente disse que "este lado do mundo (a América do Sul)
tem que ser mais forte a nível internacional". E, nesse contexto, o
Mercosul "é uma parte pequena,
mas a parte que nos corresponde
nesse processo de reorganização
das forças políticas do mundo".
FHC pediu o apoio chileno ao
Mercosul não só com base nos interesses econômicos, mas na identidade sociocultural dos países
sul-americanos: "Não para a busca de hegemonia do Brasil, que
não pode sequer aspirar a tanto".
"Estamos tratando de vincularmo-nos a toda a América do Sul."
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