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CONTAS PÚBLICAS
Após derrota no STF, Planalto estuda também elevação da alíquota de ativos para 14% ou 15%
Governo insiste em cobrar de inativos
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
VALDO CRUZ
Diretor-executivo
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu insistir em
cobrar dos funcionários aposentados da União contribuição para
a Previdência. Para o curto prazo,
o governo estuda ainda elevar a
contribuição dos servidores ativos de 11% para 14% ou 15% como alternativa à derrota que sofreu anteontem no STF (Supremo Tribunal Federal).
O aumento da alíquota dos ativos teria como base a interpretação de que o STF barrou anteontem a progressividade das alíquotas (ou seja, percentuais maiores
para quem ganha mais), mas não
um aumento linear.
Nos cálculos do governo, o aumento da alíquota poderia render
entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões por ano. A cobrança da
contribuição dos militares acrescentaria outros R$ 600 milhões.
Ainda não seria o suficiente para cobrir a perda causada pela decisão do STF, estimada oficialmente em R$ 2,35 bilhões. O restante poderia vir na forma de
uma medida temporária, ainda
em estudo, que vigoraria até que
estivesse aprovada a nova emenda destinada a permitir a cobrança dos inativos.
A sétima tentativa do governo
de levar os inativos e pensionistas
a contribuir para a Previdência
será encaminhada ao Congresso
até o início da próxima semana.
Mesmo que tenha apoio, a medida vai demorar quase um ano para entrar em vigor.
A proposta de emenda tenta
contornar os argumentos apresentados pelo STF para suspender anteontem a cobrança da
contribuição dos inativos.
A orientação de FHC é que os
inativos da União devem bancar
parte do custo do pagamento das
aposentadorias, apontado como
um dos principais obstáculos ao
equilíbrio das contas públicas.
O pagamento de inativos e pensionistas da União custará R$
23,7 bilhões em 2000, segundo o
Orçamento. Depois da derrota no
Supremo, a arrecadação dos servidores durante o ano cairia para
R$ 4,5 bilhões.
Apesar da derrota, o governo
federal reafirmou ontem o compromisso de chegar ao final do
ano com superávit primário (sem
contar com o pagamento de juros) de R$ 24,3 bilhões. Para o
ano que vem, o compromisso é
gastar R$ 28,4 bilhões a menos do
que o governo arrecadar, também excluída a conta dos juros.
"Vamos enfrentar esse problema e não vamos abrir mão das
metas fiscais", disse o ministro
Pedro Malan (Fazenda), ao anunciar que a perda de arrecadação
provocada pela decisão do STF
será coberta "com a redução de
gastos e, se isso não for suficiente,
com o aumento de receitas".
Embora contrariado com o julgamento do STF, a conclusão do
Planalto é que a Constituição não
deixa claro se o governo está autorizado ou não a cobrar contribuição dos inativos.
Na falta de regras constitucionais claras para a contribuição
dos inativos e pensionistas, os
ministros do STF lançaram mão
das regras aplicadas aos aposentados da iniciativa privada. Em
julgamentos anteriores, o STF se
recusara a comparar os inativos
aos aposentados do INSS.
A versão da emenda constitucional fechada ontem à tarde no
Palácio do Planalto determina a
cobrança de alíquota de 11% dos
inativos e pensionistas da União e
autoriza o governo a emitir títulos da dívida pública interna para
compensar a perda de arrecadação enquanto a contribuição não
for regulamentada por lei.
O texto da emenda ainda dependia, no final da tarde de ontem, do aval de FHC. O governo
decidiu abrir mão de alíquotas diferenciadas de contribuição, mais
altas para quem ganha mais, rejeitadas pelo STF, mas discutia-se
no Palácio do Planalto a possibilidade de a emenda constitucional
propor um ""redutor" sobre aposentadorias mais elevadas.
Alternativas como o aumento
de impostos que atinjam grande
parcela da sociedade ou mesmo a
prorrogação do prazo de vigência
da alíquota de 0,38% da CPMF
por mais de 12 meses foram descartadas pelo governo.
Caso o STF confirme a decisão
de ontem contrária à contribuição dos inativos e ao pagamento
de alíquotas de até 25% dos servidores em atividade, o governo
calcula que terá de devolver R$
1,2 bilhão arrecadado neste ano.
O julgamento final ainda não tem
data marcada.
Colaborou Vivaldo de Sousa, da Sucursal de Brasília
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