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Déficit da
Previdência
é problema
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia
da Sucursal de Brasília
O déficit da Previdência é, excluindo os gastos com juros da
dívida, o principal problema
das contas do governo federal.
Neste ano, espera-se que o déficit seja de R$ 28,969 bilhões.
Essa é a diferença entre o total de aposentadorias que devem ser pagas pelo governo e
as contribuições recebidas para esse fim.
Ou seja, é o que toda a sociedade paga, na forma de impostos, para cobrir as aposentadorias de 18 milhões de trabalhadores da iniciativa privada
(que geram déficit de R$ 9,525
bilhões) e algo em torno de 1
milhão de servidores públicos,
cujo peso para o Tesouro chega a R$ 19,444 bilhões.
É pouco se comparado ao
gasto com juros da dívida pública, que deverá chegar aos R$
120 bilhões neste ano, contando as despesas de Estados, municípios e estatais.
Mas equivale a, por exemplo,
dois anos do orçamento de investimentos do Ministério da
Saúde, ou a quase seis do Ministério da Educação.
A comparação com o gasto
com juros, além disso, precisa
levar em conta que apenas
uma pequena parte dos encargos da dívida pública é efetivamente coberta com a arrecadação de impostos.
Neste ano, graças às metas
negociadas com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), R$
30,185 bilhões -valor semelhante, portanto, ao déficit da
Previdência federal- da arrecadação de impostos serão
usados no pagamento de juros.
Os quase R$ 90 bilhões restantes são o déficit público, ou
seja, o dinheiro que se precisa
tomar emprestado nos bancos
para fechar as contas.
Há ainda quem faça o raciocínio de que os juros são altos
em razão da desconfiança do
mercado em relação às contas
públicas -principalmente os
resultados da Previdência.
Nesse raciocínio, não seriam
as despesas com juros as principais responsáveis pelo déficit
público; o déficit público é que
seria o principal responsável
pelas despesas com juros.
O problema maior nem é o
tamanho do déficit da Previdência, e sim seu ritmo de crescimento. Basta apontar que,
em 1995, o buraco equivalia a
menos da metade do atual. É
fácil notar que, assim, o sistema é inviável a longo prazo.
O déficit cresce porque a população envelhece. Cada vez
há mais beneficiários das aposentadorias e menos trabalhadores na ativa contribuindo.
No serviço público, os gastos
com inativos, de R$ 23,16 bilhões neste ano, se aproximam
dos com ativos, que deverão
chegar a R$ 26,222 bilhões.
O déficit do INSS é menor,
mas é que o que cresce mais rapidamente. Até 1995, o sistema
dos trabalhadores da iniciativa
era superavitário.
Militares
A decisão do STF deve atrasar
a definição do governo sobre a
contribuição previdenciária
dos militares. Os estudos deverão ficar prontos na próxima
semana, mas o ministro da Defesa, Elcio Alvares, quer esperar "a poeira baixar" para encaminhar a proposta ao Planalto.
Os militares temem que, por
causa das perdas que o governo
terá na arrecadação com os civis, a área econômica aumente
as pressões para elevar a contribuição do setor, hoje de 6%.
A equipe econômica quer
que os militares contribuam
com 11%, que é a menor alíquota cobrada dos civis.
Elcio defende a manutenção
do desconto atual, alegando
que eles já contribuem com
mais 5% para um fundo de
saúde, porque têm atendimento médico e hospitalar próprio.
O ministro lembrou que a situação dos militares é diferente: não recebem hora extra e
são proibidos de exercer outra
atividade, por exemplo.
Na próxima semana, haverá
uma reunião para discutir a
aposentadoria dos militares.
Colaborou Raquel Ulhôa, da Sucursal de
Brasília
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