São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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ABC
Sindicalistas naufragam em São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul
Maurício Soares bate Vicentinho

DA REPORTAGEM LOCAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA


O prefeito Maurício Soares (PPS) é o vencedor em primeiro turno com 62% das intenções de voto de acordo com a pesquisa de boca-de-urna do Datafolha. O petista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, ficou com 34% das intenções.
Soares, que acompanhou a apuração de seu comitê central, disse que já esperava a vitória no primeiro turno. "O povo quer administradores experientes." O prefeito, que foi eleito pela primeira vez pelo PT, atribui a derrota de Vicentinho à sua estratégia de campanha. " A população não aceita uma campanha de agressões, mentiras, acusações e baixaria, por isso ganhei."
Ele preferiu passar sua manhã visitando escolas da cidade para acompanhar a votação. Tomou um rápido cafezinho e às 13h00 foi votar, acompanhado apenas de seus assessores, na escola Wallace Simonsen.
Na porta da escola Soares criticou o PT de São Bernardo e elogiando o de Santo André. "O PT daqui é um dos mais atrasados do país. Eles apostam pouco na organização do partido e na criação de novas lideranças. Ao contrário, o PT de Santo André evoluiu fazendo coligações até com o PMDB." O prefeito votou em menos de 30 segundos e saiu da escola logo depois.
À tarde, o prefeito alugou bufê e chácara no bairro Riacho Grande para comemorar a vitória com 2 mil convidados.
Vicentinho chegou às 9h30, na escola estadual Cynira Pires dos Santos, acompanhado do presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho e de sua candidata a vice, Marli Cestari.
Lula admitiu que não
seria fácil combater Maurício Soares e disse que o sindicalista está se adequando à política e começa a ser visto pela população como uma liderança.
O petista votou em um minuto e meio e depois posou para fotos acompanhado de seus seis filhos homens e sua mulher, Roseli.
Vicentinho atribuiu seu fraco desempenho a possibilidade de nem sequer chegar ao segundo turno ao fato de a campanha eleitoral naquele município não contar com propaganda gratuita nas emissoras de rádio e TV.
"Se tivesse havido campanha no rádio e na TV, o resultado seria outro", afirmou. Naquela região, a programação das emissoras é a mesma que vai ao ar na capital, inclusive os programas eleitorais obrigatórios.
Ao acompanhar as apurações, Vicentinho não quis admitir a derrota e preferiu se pronunciar apenas após o resultado oficial divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Análise
Dois ex-presidentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Vicente Paulo da Silva e Jair Meneguelli, líderes das grandes greves e lutas contra a repressão militar na década de 80 no ABCD, não tiveram sucesso em suas campanhas eleitorais na região.
O sociólogo Ricardo Antunes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, diz que não se surpreende com o fato. "Apesar de Meneguelli e Vicentinho gozarem de certo prestígio nas bases trabalhadoras, o salto de representação sindical para a representação política de um cargo de executivo tem muitas diferenças."
Para Antunes, o maior desfio dos sindicalistas seria transpor o ambiente sindical e convencer também os outros grupos que compõem a sociedade de que eles são a melhor opção. "Eles não têm, por exemplo, uma representação forte na classe média urbana do ABC.
Durante a campanha, a pesquisa Datafolha mostrou que os grupos que mais rejeitavam Vicentinho eram os que tinham grau escolaridade superior e renda acima de 20 salários mínimos. O mesmo aconteceu com Jair Meneguelli.
O professor Glauco Arbix, do Departamento de Sociologia da USP, afirma que fora do ambiente sindical os dois candidatos tiveram uma atuação muito tímida e que por isso a disputa com os outros políticos já tradicionais fica mais difícil.
"Meneguelli, por exemplo, nunca foi uma das estrelas mais brilhantes do PT no parlamento. Sempre teve uma atuação muito discreta, muito apagada."
Arbix afirma que quando o sindicalista quer ter um discurso maior do que o das categorias de classe, ele tem que se sobrepor a um tipo de atividade que os prefeitos e políticos tradicionais locais desenvolvem há mais tempo que ele.
"Vicentinho não se destaca muito além do que Maurício já fez para a cidade. Como o eleitor está cansado de ficar experimentando está apostando naqueles que tiveram um desempenho razoável na administração." (LUIZ CAVERSAN e FLÁVIA SANCHES)


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