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ABC
Sindicalistas naufragam em São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul
Maurício Soares bate Vicentinho
DA REPORTAGEM LOCAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O prefeito Maurício Soares
(PPS) é o vencedor em primeiro
turno com 62% das intenções de
voto de acordo com a pesquisa de
boca-de-urna do Datafolha. O petista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, ficou com 34% das intenções.
Soares, que acompanhou a apuração de seu comitê central, disse
que já esperava a vitória no primeiro turno. "O povo quer administradores experientes." O prefeito, que foi eleito pela primeira
vez pelo PT, atribui a derrota de
Vicentinho à sua estratégia de
campanha. " A população não
aceita uma campanha de agressões, mentiras, acusações e baixaria, por isso ganhei."
Ele preferiu passar sua manhã
visitando escolas da cidade para
acompanhar a votação. Tomou
um rápido cafezinho e às 13h00
foi votar, acompanhado apenas
de seus assessores, na escola Wallace Simonsen.
Na porta da escola Soares criticou o PT de São Bernardo e elogiando o de Santo André. "O PT
daqui é um dos mais atrasados do
país. Eles apostam pouco na organização do partido e na criação de
novas lideranças. Ao contrário, o
PT de Santo André evoluiu fazendo coligações até com o PMDB."
O prefeito votou em menos de 30
segundos e saiu da escola logo depois.
À tarde, o prefeito alugou bufê e
chácara no bairro Riacho Grande
para comemorar a vitória com 2
mil convidados.
Vicentinho chegou às 9h30, na
escola estadual Cynira Pires dos
Santos, acompanhado do presidente de honra do PT, Luiz Inácio
Lula da Silva, do presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, Luiz Marinho e de sua candidata a vice, Marli Cestari.
Lula admitiu que não
seria fácil combater Maurício
Soares e disse que o sindicalista
está se adequando à política e começa a ser visto pela população
como uma liderança.
O petista votou em um minuto e
meio e depois posou para fotos
acompanhado de seus seis filhos
homens e sua mulher, Roseli.
Vicentinho atribuiu seu fraco
desempenho a possibilidade de
nem sequer chegar ao segundo
turno ao fato de a campanha eleitoral naquele município não contar com propaganda gratuita nas
emissoras de rádio e TV.
"Se tivesse havido campanha no
rádio e na TV, o resultado seria
outro", afirmou. Naquela região,
a programação das emissoras é a
mesma que vai ao ar na capital,
inclusive os programas eleitorais
obrigatórios.
Ao acompanhar as apurações,
Vicentinho não quis admitir a
derrota e preferiu se pronunciar
apenas após o resultado oficial divulgado pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
Análise
Dois ex-presidentes da Central
Única dos Trabalhadores (CUT)
Vicente Paulo da Silva e Jair Meneguelli, líderes das grandes greves e lutas contra a repressão militar na década de 80 no ABCD, não
tiveram sucesso em suas campanhas eleitorais na região.
O sociólogo Ricardo Antunes,
do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, diz
que não se surpreende com o fato.
"Apesar de Meneguelli e Vicentinho gozarem de certo prestígio
nas bases trabalhadoras, o salto
de representação sindical para a
representação política de um cargo de executivo tem muitas diferenças."
Para Antunes, o maior desfio
dos sindicalistas seria transpor o
ambiente sindical e convencer
também os outros grupos que
compõem a sociedade de que eles
são a melhor opção. "Eles não
têm, por exemplo, uma representação forte na classe média urbana do ABC.
Durante a campanha, a pesquisa Datafolha mostrou que os grupos que mais rejeitavam Vicentinho eram os que tinham grau escolaridade superior e renda acima
de 20 salários mínimos. O mesmo
aconteceu com Jair Meneguelli.
O professor Glauco Arbix, do
Departamento de Sociologia da
USP, afirma que fora do ambiente
sindical os dois candidatos tiveram uma atuação muito tímida e
que por isso a disputa com os outros políticos já tradicionais fica
mais difícil.
"Meneguelli, por exemplo, nunca foi uma das estrelas mais brilhantes do PT no parlamento.
Sempre teve uma atuação muito
discreta, muito apagada."
Arbix afirma que quando o sindicalista quer ter um discurso
maior do que o das categorias de
classe, ele tem que se sobrepor a
um tipo de atividade que os prefeitos e políticos tradicionais locais desenvolvem há mais tempo
que ele.
"Vicentinho não se destaca
muito além do que Maurício já fez
para a cidade. Como o eleitor está
cansado de ficar experimentando
está apostando naqueles que tiveram um desempenho razoável na
administração."
(LUIZ CAVERSAN e FLÁVIA SANCHES)
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