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QUESTÃO AGRÁRIA
Comprador afirma não temer MST, que já invadiu a área
Filhos de FHC vendem fazenda em MG
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O empresário Luiz Carlos Figueiredo, 55, disse não temer invasões de integrantes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) na fazenda
Córrego da Ponte, em Buritis (722
km a noroeste de Belo Horizonte). A fazenda -que o MST invadiu pela última vez em março do
ano passado- foi vendida por filhos do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Figueiredo disse que hoje um
funcionário vai "receber" a fazenda, comprada, segundo ele, por
R$ 3,5 milhões, em três parcelas.
"Esse pessoal do MST só entra
em terra com problemas, vamos
produzir com tecnologia, dentro
das normas específicas para o tipo
de solo da região. Não vou ter
problemas com o MST", disse Figueiredo. Ele afirmou que a área,
de 1.046 hectares, é propícia para
o plantio de soja, milho e feijão.
Figueiredo disse que as negociações para a compra da fazenda se
arrastaram "pela última semana,
mas [o negócio] acabou sendo fechado". Ele possui propriedades
em Mandaguari (norte do PR),
onde mora, e em Goiás.
O comprador considerou o preço de R$ 3.346 por hectare atraente. Em Mandaguari, região produtora de soja e milho, o hectare é
comercializado a um preço médio
de R$ 17,5 mil.
O valor pago por Figueiredo é
alto em relação a negócios que estão sendo fechados na cidade.
Para o corretor Manoel José
Santos, 38, o conflito agrário no
município também está afugentando compradores em potencial.
Segundo Santos, a baixa procura reduziu o preço das terras em
Buritis. "Uma fazenda para pecuária, beneficiada e com boa localização sairia normalmente por
R$ 3.000 o hectare. Hoje você vai
encontrar por R$ 1.500, R$ 2.000."
No mês passado, o MST invadiu
duas fazendas e as duas agências
bancárias de Buritis. O município
-alvo de sem-terra desde 1995-
tem ainda cinco assentamentos ligados ao movimento.
O corretor de imóveis Cláudio
Ferreira, 41, disse ter recebido
nesta semana em seu escritório
oito pessoas interessadas em vender suas fazendas na cidade. "Todo dia chega gente aqui querendo
vender", afirmou.
No ramo há dois anos e meio,
ele diz dispor hoje de 50 propriedades para venda -o maior número desde que entrou no negócio. "Estão todos com medo. Ninguém ressarce os prejuízos causados pelas invasões."
O fazendeiro Antônio Folador,
68, é um dos que procurou o corretor nesta semana. Natural de
Erechim (RS), está em Buritis há
20 anos e colocou à venda 2.000
hectares de terra, a R$ 1.200 cada
hectare. Diz que o medo dos sem-terra é o "fator principal" de sua
decisão. "Estou pensando até em
deixar o país."
O presidente do Sindicato Rural
de Buritis, Délio Prado Lopes, disse que os produtores da região estão "desanimados". "O problema
das invasões é sério. Muita gente
quer vender, e os negócios estão
parados". Lopes é dono de uma
das fazendas invadidas pelo MST
em setembro -a área foi desocupada na semana passada.
O MST, por sua vez, se exime de
qualquer responsabilidade no caso. "[Os fazendeiros] estão usando essa desculpa [conflito agrário] para dispor as terras por preços altos", rebate Álvaro Alves Alcântara Júnior, um dos líderes do
movimento no noroeste mineiro.
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