|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Delegado que vazou fotos abre investigação paralela
Inquérito sobre dinheiro apreendido com petistas é sigiloso; Bruno diz ter "espiãozinho"
Superintendente da PF fala em "quebra de confiança"; policial nega motivação política e promete dizer hoje por que rompeu o sigilo
Rodrigo Paiva-29.set.2006/Folha Imagem
|
O delegado Edmilson Pereira Bruno é abordado por repórteres ao tentar sair pelo estacionamento do prédio da PF em São Paulo |
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado da Polícia Federal Edmilson Pereira Bruno,
que divulgou as polêmicas fotos
do R$ 1,7 milhão apreendido há
16 dias com petistas e que seria
usado para pagar um dossiê
contra candidatos do PSDB,
montou uma investigação paralela para obter dados do inquérito que corre em sigilo.
Bruno já estava afastado do
caso quando, na última quinta,
munido com uma câmera digital, dirigiu-se a uma unidade do
Banco Central em São Paulo e à
empresa Protege S/A para fazer
as fotos das pilhas de dólares e
dos reais, respectivamente.
O delegado bateu 23 fotos,
em diferentes ângulos, do R$
1,16 milhão, em cédulas que vão
de R$ 10 a R$ 100, e dos US$
248,8 mil. Depois, gravou as
imagens em um CD, que foi entregue a jornalistas em caráter
sigiloso -anteontem, o próprio
policial assumiu o vazamento.
Aos peritos que, naquele dia,
fizeram uma recontagem dos
valores, Bruno teria afirmado
que havia voltado para a investigação por determinação do
comando da PF paulista e tinha
autorização para as fotos.
O superintendente da PF em
São Paulo, Geraldo Araújo, afirmou ver na atitude de Bruno
uma "quebra de confiança".
"Espiãozinho"
Um dia antes de distribuir o
CD com 23 fotos coloridas do
dinheiro apreendido, numa
quarta-feira à noite, Bruno afirmou, em frente à sede da Polícia Federal, que contava com a
ajuda de um "espiãozinho" para levantar dados do inquérito
que tramita na PF de Cuiabá.
O delegado, no entanto, se recusou a divulgar o nome do suposto colega que o ajudaria na
coleta das fotos.
Os petistas dizem que Bruno
agiu, às vésperas da disputa
eleitoral, para prejudicar a candidatura do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e a mando
dos tucanos. Essa possibilidade, apesar de ser considerada
remota pelo superintendente
da PF, está sendo investigada.
O delegado afirmou anteontem que não agiu por motivação política. "Isso é absurdo,
não tem nada a ver." Disse que
votou em Lula em 2002. O policial havia ficado irritado ao ser
afastado do caso do dossiê.
Ele prometeu falar hoje em
entrevista coletiva sobre os
motivos que o levaram a divulgar as imagens, mesmo contrariando a determinação da Polícia Federal de mantê-las em sigilo durante o período eleitoral.
Três dias
O delegado Bruno atuou oficialmente apenas nos três primeiros dias do caso do dossiê.
Na sexta, dia 15, ele prendeu o
petista Valdebran Padilha e o
ex-policial Gedimar Pereira
Passos no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo. Com os
dois, apreendeu R$ 1,7 milhão
em reais e em dólares. Na semana passada, tentou voltar à
investigação, o que foi vetado.
A divulgação das fotos foi vetada pela cúpula da PF, que temia prejudicar a eleição e a candidatura de Lula à reeleição.
O ex-policial preso trabalhou
como segurança em campanhas eleitorais do petista e disse que seu "chefe" era Freud
Godoy, ex-assessor especial do
presidente. O ex-policial afirmou que estava no hotel a pedido da Executiva Nacional do
PT, para atestar a veracidade
do dossiê ofertado por Luiz Antonio Vedoin, considerado chefe da máfia dos sanguessugas.
O representante de Vedoin
na negociação era Valdebran,
que já trabalhou como tesoureiro em campanhas petistas
no Mato Grosso.
Além dos documentos, o dossiê era composto por uma entrevista de Vedoin acusando
José Serra, que já liderava as
pesquisas para o governo de
São Paulo, de participação no
caso. A revista "IstoÉ" publicou
uma entrevista em que Vedoin
acusa o tucano de participar do
esquema. Depois, ouvido pela
PF, ele retirou as acusações.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: PF vê gravidade em quebra de sigilo profissional Índice
|