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MP do Paraná examina operação do BB
Banco quita por fração a dívida de um agronegócio familiar de deputado do PP; advogado do grupo nega irregularidade
Denúncia foi de ex-mulher
de sócio do Grupo Sperafico, que se diz chantageada;
Banco do Brasil considera
que o acordo foi vantajoso
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TOLEDO
O Ministério Público do Paraná em Toledo (oeste do Estado) recebeu denúncia, com pedido de providências, contra
acordo homologado em março
de 2005 entre o Banco do Brasil
e o Grupo Sperafico. Na denúncia, a empresária Hosana Maria
Conti, ex-mulher de um dos sócios do grupo, afirma que uma
dívida de R$ 780 milhões com o
banco foi saldada por apenas
R$ 29 milhões.
O advogado Sérgio Canan,
que representou o Grupo Sperafico no acordo, disse que não
houve irregularidades na homologação. "Acabou sendo melhor para o banco, pois já havíamos ganho ações principais
contra ele, como o fato de [o
Banco do Brasil] não poder cobrar juro capitalizado, como
queria."
O Ministério Público em Toledo não forneceu detalhes sobre o pedido de providências.
Informou apenas que o procedimento está sob sigilo.
A 3ª Promotoria Cível de Toledo informou ainda que enviou pedidos de informações à
presidência do Banco do Brasil
e notificação à Procuradoria
Geral de República, à Procuradoria Geral do Estado do Paraná, à Receita Federal e ao TCU
(Tribunal de Contas da União).
Hosana Conti diz que uma
procuração que deu ao grupo
em 1993 foi usada na homologação do acordo "como se fosse
para esse fim". Separada de Itacir Sperafico, ela -que aparecia
como avalista em várias operações- afirma que, "pela evidência de fraudes no acordo",
não quis assiná-lo.
O Grupo Sperafico, com
atuação em agronegócios no
Paraná, em Mato Grosso do Sul
e em Mato Grosso, controla
agroindústrias e fazendas de
soja e milho nos três Estados e
é dirigido pelos irmãos Levino,
Itacir e Dilso Sperafico. Este último foi deputado federal pelo
PSDB do Mato Grosso na legislatura 1995/99.
Outro irmão, o deputado federal Dilceu Sperafico (PP-PR),
aparece como um dos executados em 13 ações que o BB movia
contra o grupo. Nas ações ele
consta como avalista ou com
bens hipotecados.
O banco não informou o
montante da dívida do grupo
quando houve o acordo, sob a
alegação de sigilo bancário.
Mas admitiu que a dívida do
grupo seria 22% do valor denunciado por Hosana Conti
-ou seja, R$ 171,6 milhões.
Bens hipotecados pelo grupo
somavam, em 1995, R$ 129 milhões (em valores da época).
No acordo, do qual a Folha
obteve cópia, são declaradas
extintas 13 ações de execução
que o Banco do Brasil movia
contra o grupo desde 1995, nas
comarcas de Toledo (PR) e
Amambai (MS).
Para isso, o Banco do Brasil
aceitou receber R$ 29 milhões.
O grupo ficou responsável ainda pelo pagamento de R$ 1,2
milhão para a cobertura dos
honorários de advogados.
O advogado de Hosana Conti, Paulo Henrique Exposto
Sanches Vargas, questiona o fato de o acordo nominar as
ações de execuções judiciais
sem, no entanto, especificar de
quanto era a dívida do grupo.
Hosana Conti diz que resolveu denunciar o acordo e entregar documentos ao Ministério Público depois que se sentiu "chantageada". Ela teria
que receber R$ 1 milhão, após
acerto de separação judicial, e
os advogados do grupo Sperafico condicionaram o pagamento à assinatura do acordo que
estava para ser homologado na
1ª Vara Cível de Toledo.
Outro lado
O advogado Sérgio Canan
confirmou que Hosana Conti
não quis assinar o acordo, "mas
ela recebeu o dinheiro da separação corretamente, e não houve pressão para que assinasse
condicionando pagamento para ela. Isso não existiu", disse.
Para o advogado, o fato de
Dilceu Sperafico ser deputado
só atrapalhou a negociação. "Só
saiu acordo depois que o Banco
do Brasil perdeu as ações principais", disse. Dilceu Sperafico,
para quem sua condição de político "certamente" atrapalhou,
afirmou dever "cerca" de R$
400 mil ao banco.
O gerente executivo da Diretoria de Reestruturação de Ativos Operacionais do Banco do
Brasil, Ciomar Farias, disse
que, em razão do elevado endividamento do grupo, o acordo
foi um caminho melhor do que
uma lenta demanda judicial.
Segundo ele, as operações de
1995 com o grupo foram alvo de
auditoria interna, que as considerou "boa prática bancária".
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