São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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MAPA DA VOTAÇÃO

Desempenho petista caiu em 37 das 41 zonas eleitorais da capital, ficando 318 mil votos abaixo do obtido pelo presidente em 2002

Votação de Marta encolhe em relação a Lula

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva bem que tentou, mas não conseguiu transferir seu espólio à candidata Marta Suplicy (PT).
No domingo, a votação petista na capital paulista encolheu 10,39% na comparação com o segundo turno das eleições de 2002.
Lula recebeu 3.057.960 votos quando enfrentou José Serra (PSDB) e se elegeu presidente. Marta teve 2.740.152 anteontem contra o mesmo Serra.
Nesse período, o eleitorado paulistano cresceu 3,19%. Em relação aos votos válidos -que aumentaram 1,37% de lá para cá-, a queda petista foi de 5,92 pontos. Ela se deu em 37 das 41 zona eleitorais consideradas pela Folha (veja quadro), chegando ao maior índice no Ipiranga -16,39 pontos (51,39% para 35%).
Para o professor de ciência política Leôncio Martins Rodrigues, 70, há três fatores nesse movimento. "O primeiro é a personalidade de Marta. O segundo é o fato de Lula, em 2002, ter encontrado uma situação muito favorável, uma espécie de maré petista pelo país. Por último, há um declínio da aceitação do PT, uma certa hostilidade. Não é só em São Paulo. É um fenômeno nacional."
O presidente foi o principal cabo eleitoral da prefeita numa eleição marcada pela disputa entre a "melhor parceria" para a cidade.
Apareceu no horário eleitoral gratuito, usou as inserções publicitárias do governo federal para ressaltar os investimentos em São Paulo e chegou a ser multado em R$ 50 mil por pedir votos para ela durante a inauguração de uma obra pública -a extensão da Radial, no extremo da zona leste.
Não adiantou. Os dados mostram que Lula não conseguiu convencer nem seus próprios eleitores a votarem na petista, num movimento previsto pelas pesquisas.
Em um levantamento feito pelo Datafolha em 9 de outubro, 68% dos entrevistados se disseram indiferentes à participação de Lula na campanha, 20% afirmaram que deixariam de votar no candidato do presidente e só 11% admitiram sua influência positiva.
"O Lula era o candidato da mudança [em 2002] e tinha uma tendência de crescimento no país todo. É plausível acreditar que ela [Marta] poderia ter tido uma votação pior sem ele na campanha", diz Argelina Maria Cheibub Figueiredo, coordenadora do Cebrap e diretora do Centro de Estudos do Metrópole (CEM).
A comparação do desempenho de Marta Suplicy com a votação obtida por ela mesma em 2000, quando venceu Paulo Maluf (PP), evidencia ainda mais o encolhimento da votação petista.
Marta perdeu votos -em números absolutos mesmo- em 33 das zonas eleitorais. Em outras cinco áreas teve menos votos válidos agora, crescendo só em três zonas: Piraporinha, Grajaú (zona sul) e Guaianazes (zona leste).
"A Marta se elegeu aproveitando a rejeição a Maluf. Até tucanos votaram nela. Agora, ela se chocou com setores da classe média, inclusive por causa das taxas", avalia Martins Rodrigues.

Centro-periferia
O segundo turno das eleições municipais consolidou a divisão geográfica dos votos paulistanos já delineada no primeiro turno. O tucano venceu no centro. A petista, na extrema periferia.
Nenhum dos dois conseguiu superar o adversário nos redutos demarcados na primeira fase, mas as menores diferenças entre os dois foram registradas nas áreas intermediárias da cidade.
Em pontos percentuais, Serra cresceu mais que Marta em todas as 27 zonas em que venceu e ainda em uma das 14 áreas em que ela liderou -Itaquera (zona leste). Foi também em Itaquera onde a votação foi mais apertada -51,65% para ela contra 48,35% para ele.
"Esse entorno foi decisivo. O fato de Serra ter vencido nas áreas mais ricas e centrais parece ter tido um efeito difusor nas regiões do redor", avalia Figueiredo.
Foi nesse cinturão que Paulo Maluf (PP) atingiu seu maiores índices de votação no primeiro turno. "Os eleitores do Maluf estão mais próximos ideologicamente do PSDB do que do PT. Então, mesmo com o apoio do Maluf a Marta, os eleitores dele não foram nessa direção", continua.
Na Vila Maria, onde Maluf teve seu pico de votação (19,71% dos válidos), Serra venceu e registrou seu maior crescimento percentual: teve 18,72 pontos a mais do que no primeiro turno.


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