São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Lula enquadra ministros e pede silêncio sobre economia

Presidente reúne Dilma e equipe econômica e defende corte de gastos para baixar juros

Petista não gostou de falas sobre "fim da era Palocci", a quem atribui a criação das condições para que país passe a crescer 5% ao ano

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa reunião em que determinou aos ministros "silêncio" e "fim de bate-boca" sobre a política econômica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu realizar corte de gastos a partir de 2007 como forma de levar a queda mais rápida da taxa básica de juros -a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
Lula disse ainda que a política econômica implementada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci era uma decisão sua e que ela criou as condições para que seja de 5% ao ano a meta de crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo mandato.
O presidente disse que foi fundamental a contribuição de Palocci, que fez uma política econômica avalizada por ele, ainda que com algumas discordâncias pontuais.
Segundo relato obtido pela Folha, o presidente disse que, no primeiro mandato, foram "levantadas as paredes" e agora era o momento de "colocar o telhado". Dizendo que era hora de "fazer o Brasil crescer", Lula recomendou descanso a todos no feriado. Pediu ainda a todos que esfriassem a cabeça, porque ele voltará "quente" na semana que vem. O presidente viajou para a Bahia, onde passará o feriado de Finados.
Na prática, Lula optou pelo meio-termo na polêmica entre seus ministros sobre o rumo da economia, como antecipou a Folha no domingo.
O grupo de Dilma defende um corte mais forte nas taxas de juros para sobrar recursos no orçamento, reduzindo o corte de gastos em outras áreas. Já a ala do ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prega um ajuste fiscal como precondição para aumentar a velocidade de queda da Selic. Na reunião, o presidente afirmou que combinaria as duas linhas, sem jamais permitir que a inflação suba.

Sem Tarso
Dilma, Meirelles e Bernardo participaram da reunião, que contou ainda com Guido Mantega (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
Tarso Genro (Relações Institucionais), que no domingo da eleição disse que chegara ao final a "era Palocci", não participou do encontro por Lula. O presidente não gostou da declaração. A reunião de ontem de manhã no Palácio do Planalto tinha como objetivo afinar o discurso econômico.
Lula, então, combinou as visões dos dois grupos. O governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT), que se encontrou com Lula à tarde, deu uma declaração que resume a decisão do presidente: "Responsabilidade fiscal e responsabilidade social são mais do que uma rima. São solução".
Na reunião com os ministros e o presidente, Furlan disse que deveriam ser aceleradas as concessões à iniciativa privada para que assumam rodovias e ferrovias. Segundo ele, há medidas que devem ser aceleradas para fazer o país crescer independentemente dos juros.
O ministro do Desenvolvimento também pregou a adoção de mais medidas de desoneração (diminuição de impostos) dos setores produtivos. Voltou a frisar que isso não dependia de queda dos juros.

Onde cortar
Na reunião, foram discutidas propostas de corte de gastos. A Fazenda prega um plano de redução anual das despesas de custeio entre 0,1% e 0,2% do PIB . Cada 0,1 ponto percentual do PIB corresponde a R$ 2,3 bilhões. O Planejamento gostaria de um corte entre 0,2% e 0,3% do PIB também anual. Essa redução seria por um período longo, e o presidente a discutiria com os governadores eleitos e líderes partidários com os quais se reunirá a partir da semana que vem.
No Palácio do Planalto, avalia-se que o escândalo dos sanguessugas -a denúncia de que deputados teriam recebido propina para fazer emendas ao Orçamento para a compra de ambulâncias por prefeituras-, além de caso policial, mostrou que há desperdício de recursos no Ministério da Saúde. Ou seja, superfaturamento.
Apesar de ser uma área social, na qual seria polêmico realizar cortes, o governo avalia que a Saúde é uma pasta na qual seria possível passar um pente-fino em algumas despesas, reduzindo assim os gastos.


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