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Lula enquadra ministros e pede silêncio sobre economia
Presidente reúne Dilma e equipe econômica e defende corte de gastos para baixar juros
Petista não gostou de falas sobre "fim da era Palocci", a quem atribui a criação das condições para que país passe a crescer 5% ao ano
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE
BRASÍLIA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa reunião em que determinou aos ministros "silêncio"
e "fim de bate-boca" sobre a política econômica, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva decidiu realizar corte de gastos a
partir de 2007 como forma de
levar a queda mais rápida da taxa básica de juros -a Selic, hoje
em 13,75% ao ano.
Lula disse ainda que a política econômica implementada
pelo ex-ministro da Fazenda
Antonio Palocci era uma decisão sua e que ela criou as condições para que seja de 5% ao ano
a meta de crescimento anual do
PIB (Produto Interno Bruto)
no segundo mandato.
O presidente disse que foi
fundamental a contribuição de
Palocci, que fez uma política
econômica avalizada por ele,
ainda que com algumas discordâncias pontuais.
Segundo relato obtido pela
Folha, o presidente disse que,
no primeiro mandato, foram
"levantadas as paredes" e agora
era o momento de "colocar o telhado". Dizendo que era hora
de "fazer o Brasil crescer", Lula
recomendou descanso a todos
no feriado. Pediu ainda a todos
que esfriassem a cabeça, porque ele voltará "quente" na semana que vem. O presidente
viajou para a Bahia, onde passará o feriado de Finados.
Na prática, Lula optou pelo
meio-termo na polêmica entre
seus ministros sobre o rumo da
economia, como antecipou a
Folha no domingo.
O grupo de Dilma defende
um corte mais forte nas taxas
de juros para sobrar recursos
no orçamento, reduzindo o corte de gastos em outras áreas. Já
a ala do ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prega um ajuste
fiscal como precondição para
aumentar a velocidade de queda da Selic. Na reunião, o presidente afirmou que combinaria
as duas linhas, sem jamais permitir que a inflação suba.
Sem Tarso
Dilma, Meirelles e Bernardo
participaram da reunião, que
contou ainda com Guido Mantega (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
Tarso Genro (Relações Institucionais), que no domingo da
eleição disse que chegara ao final a "era Palocci", não participou do encontro por Lula. O
presidente não gostou da declaração. A reunião de ontem de
manhã no Palácio do Planalto
tinha como objetivo afinar o
discurso econômico.
Lula, então, combinou as visões dos dois grupos. O governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT), que se encontrou
com Lula à tarde, deu uma declaração que resume a decisão
do presidente: "Responsabilidade fiscal e responsabilidade
social são mais do que uma rima. São solução".
Na reunião com os ministros
e o presidente, Furlan disse que
deveriam ser aceleradas as concessões à iniciativa privada para que assumam rodovias e ferrovias. Segundo ele, há medidas
que devem ser aceleradas para
fazer o país crescer independentemente dos juros.
O ministro do Desenvolvimento também pregou a adoção de mais medidas de desoneração (diminuição de impostos) dos setores produtivos.
Voltou a frisar que isso não dependia de queda dos juros.
Onde cortar
Na reunião, foram discutidas
propostas de corte de gastos. A
Fazenda prega um plano de redução anual das despesas de
custeio entre 0,1% e 0,2% do
PIB . Cada 0,1 ponto percentual
do PIB corresponde a R$ 2,3 bilhões. O Planejamento gostaria
de um corte entre 0,2% e 0,3%
do PIB também anual. Essa redução seria por um período
longo, e o presidente a discutiria com os governadores eleitos
e líderes partidários com os
quais se reunirá a partir da semana que vem.
No Palácio do Planalto, avalia-se que o escândalo dos sanguessugas -a denúncia de que
deputados teriam recebido
propina para fazer emendas ao
Orçamento para a compra de
ambulâncias por prefeituras-,
além de caso policial, mostrou
que há desperdício de recursos
no Ministério da Saúde. Ou seja, superfaturamento.
Apesar de ser uma área social, na qual seria polêmico realizar cortes, o governo avalia
que a Saúde é uma pasta na qual
seria possível passar um pente-fino em algumas despesas, reduzindo assim os gastos.
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