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Presidente do PT diz a jornalistas que "cuidem das redações" e recebe críticas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente interino do PT,
Marco Aurélio Garcia, pediu
anteontem a jornalistas, em entrevista no comitê central da
campanha do presidente Lula,
em Brasília, que não interfiram
no futuro do partido.
"Cuidem de suas redações
que nós cuidamos do PT", declarou, já no final da entrevista,
quando a imprensa ainda fazia
perguntas a respeito da reorganização da legenda, prometida
por uma resolução da Executiva Nacional.
No dia anterior, Garcia havia
pedido que a imprensa fizesse
uma "auto-reflexão" sobre a cobertura das eleições. Declarou
ainda que a mídia devia ao país
a explicação de que o mensalão
não teria existido.
O presidente petista condenou a hostilização de jornalistas por militantes petistas em
frente ao Palácio do Alvorada,
quando aguardavam a presença
do presidente Lula, na última
segunda.
Especialistas em mídia e política e os dois ombudsmans da
imprensa impressa brasileira
criticaram as declarações. "É
não compreender o papel da
imprensa, que é perguntar. Como homem público, ele deveria
ser mais cauteloso", diz Luiz
Gonzaga Motta, coordenador
do Nemp (Núcleo de Estudos
de Mídia e Política) da UnB.
O ombudsman da Folha e
presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo), Marcelo Beraba, concorda: "É um absurdo
total. É obrigação da imprensa
tentar levantar informações
sobre políticas públicas, sobre
os rumos da economia e sobre
os nomes que estão em jogo na
disputa interna, nos bastidores. É um grave equívoco querer que a imprensa esteja
alheia a essa discussão".
Para Plínio Bortolotti, ombusman do jornal "O Povo", do
Ceará, "todo cidadão, com cargo público ou não, tem direito
de criticar a imprensa", mas ele
declara que Marco Aurélio "se
equivocou".
"A imprensa tem o papel de
fiscalizador dos poderes. Não é
padre que cuida da igreja, jornalista da redação, e governantes do governo", afirma ele.
Para Motta, o governo é inábil para lidar com a imprensa.
"Melhorou em relação ao começo do primeiro mandato,
mas precisa oferecer o que os
jornalistas precisam para trabalhar, que são fontes, acesso a
informações e também entrevistas do presidente".
Tanto para o professor da
UnB como para o ombudsman
de "O Povo", a frase de Marco
Aurélio contradiz recentes declarações do presidente Lula,
que sinalizou mudança na relação com a imprensa. Há convergência também em apontar
o acirramento de ânimos entre
parte da imprensa, governo e
alguns setores da sociedade.
"A frase é uma reação do PT
a um processo de desgaste", diz
Alessandra Aldé, pesquisadora
do Doxa (Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública, do Iuperj.
"Existe uma tendência de uma
cobertura negativa para o governo, para o PT, para o presidente Lula, como mostram os
levantamentos do Doxa. A imprensa cumpre seu papel de vigilância do poder público, mas
há pouco espaço para a agenda
positiva", afirma.
"É a reação de uma campanha vitoriosa. O que que cria o
curto-circuito é a sobreposição
de papéis. Marco Aurélio fala
muito como coordenador de
campanha, mas também agora
é governo", completa ela.
Para Luiz Gonzaga Motta, o
"excesso de visibilidade" dado
pela grande imprensa aos escândalos do governo "em relação a outras agendas também
importantes" contribuiu para
gerar "ressentimento" mútuo.
"A corda está esticada dos
dois lados. Os ânimos têm de
serenar", afirma Bortolotti.
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