São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA

Sem-terra de SC dizem que eram obrigados a pagar ao MST

Assentados confirmam "pedágio"

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sete depoimentos colhidos nos últimos dias pela Polícia Federal em Abelardo Luz (SC) confirmam que agricultores assentados eram obrigados a pagar ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) 4% dos recursos que recebiam do governo. O "pedágio" era cobrado por cooperativas ligadas ao MST.
Um dos depoimentos é do ex-administrador de uma dessas cooperativas, Mazione Boff. Ele foi indiciado pela PF sob acusação de desvio de recursos públicos.
No depoimento, ele diz não saber que a cobrança era ilegal e admitiu haver uma "pressãozinha" para que os assentados pagassem.
A Folha não conseguiu o telefone de Boff pelo serviço de informações da empresa telefônica de Santa Catarina, para ouvir sua versão. O inquérito é um dos 15 abertos pela Polícia Federal em diversos Estados a pedido do Ministério Público Federal, para investigar irregularidades apontadas pela Folha e comprovadas por uma sindicância do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Segundo os depoimentos, técnicos contratados por cooperativas ligadas ao MST para dar assistência aos assentados juntaram aos documentos para liberação dos financiamentos declarações pelas quais os assentados autorizavam o desconto de 4% dos créditos.
O desconto era feito pela Cooperjus (Cooperativa Regional de Comercialização Justino Drazewiski), sediada em Abelardo Luz - onde há 17 assentamentos.
Os documentos também obrigavam os assentados a comprar insumos só da cooperativa, a preços superiores aos do mercado.
Boff disse que administrou a cooperativa de 96 a junho último, quando foi demitido "por não seguir a ideologia do MST".
O delegado Rogério Caetano da Silva deve indiciar outros dirigentes da Cooperjus e demais cooperativas citadas nos depoimentos depois de obter mais provas. Os depoentes citam sete dirigentes de cooperativas envolvidos na cobrança. Silva vai pedir à Justiça a quebra do sigilo bancário dos dirigentes e das cooperativas.
A Folha teve acesso aos depoimentos dos assentados Antônio Gomes Damaceno, Manoel Otovolf, Pedro Gomes Rodrigues, do procurador do Incra Getúlio Carlos Cassanego, do funcionário do Banco do Brasil Valdecir Luiz Bento da Silva, do técnico agrícola Anderson Batista Mozer (ex-funcionário da Cooperjus) e do prefeito de Abelardo Luz, João Maria Marques Rosa. Eles confirmam os pedágios e acusam a Cooperjus de utilizar métodos intimidatórios.





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