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RUMO A 2002
Pesquisa de cientista político revela militante mais escolarizado e redução do apoio ao socialismo e à estatização
Petista está mais velho, rico e moderado
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O petista está mais velho, mais
bem remunerado, mais instruído
e menos radical. Mais da metade
aceita que a contradição entre a
burguesia e o proletariado (a "luta
de classes") não é central na luta
pelo socialismo. Quase 70% concordam ao menos parcialmente
que a extinção do mercado não
deve ser uma meta para o PT.
A evolução do perfil e do pensamento do militante e/ou dirigente
petista foi traçada e acompanhada por pesquisas durante dois
congressos nacionais do partido,
distantes nove anos um do outro.
Comandados por Benedito Tadeu César, 48, também petista,
doutor em ciências sociais pela
Unicamp e professor de ciência
política da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, os levantamentos, feitos em 1991 e 1999, farão parte do livro "PT - A Contemporaneidade Possível".
Os dados mostram que uma palavra cara aos tempos globalizados parece ter atingido os petistas.
"Mais do que desradicalização,
que está presente, sem dúvida, o
que fica evidenciado na pesquisa é
uma flexibilização, que não nega
os princípios socialistas, mas torna o partido mais contemporâneo
à sociedade", avalia Tadeu César.
Durante os dois congressos do
PT foram distribuídos 2.150 questionários aos participantes, respeitando-se a composição dos delegados -por região e por sexo.
Entre um congresso e outro,
caiu 10,7 pontos percentuais o
apoio do militante à manutenção
do PT como um partido socialista. Era de 96,7% e passou para
86%. Houve uma queda de 9,4
pontos (de 62,6% para 53,2%) no
percentual daqueles que concordavam total ou parcialmente que
um dos objetivos do PT é a coletivização e a estatização dos meios
de produção. O apoio parcial ou
total à estatização das indústrias
estratégicas e dos grandes monopólios também perdeu quase sete
pontos (de 77% foi para 71,1%).
"É uma tendência já provada.
Mesmo os partidos anti-sistema,
quando entram na disputa eleitoral, tendem a perder radicalidade.
O PT não vai contra a tese", diz.
Não é possível negar que os petistas amadureceram. A faixa etária predominante entre os congressistas era de 31 a 35 anos, o
que abarcava 27,5% dos participantes. Passou a ser a dos petistas
de 36 a 40 anos, com 25% dos delegados. A idade média
dos participantes dos
congressos subiu de
35,3 anos para 42,3.
O rendimento familiar se concentrava na
faixa de dois a cinco salários mínimos (de R$ 361 a R$
900). Subiu para a faixa de mais
de dez a 20 salários mínimos
(de R$ 1.801 a R$ 3.600). A média salarial familiar, que era de 2,6
mínimos (R$ 468 hoje), atingiu
7,1 mínimos (R$ 1.278). O percentual dos que se declararam assalariados na iniciativa privada caiu
6,5 pontos (de 28,5% para 22%). E
cresceu 5,3 pontos o índice dos
que se disseram funcionários públicos (de 42,1% para 47,4%).
O PT virou um partido de classe
média? "Se quisermos colocar
nesse padrão econômico, sim. O
perfil social do partido é de contemporaneidadade ao da sociedade", afirma Tadeu César.
Ele lembra que, no próprio PT, é
confusa a definição de quem é o
trabalhador: "Em documentos resultantes dos encontros petistas, é
possível achar desde a definição
clássica (a classe trabalhadora como vanguarda da revolução) até a
que diz que todos os assalariados
são trabalhadores e ponto".
Dos participantes do congresso
de 1999, 64,7 % declararam-se como trabalhador não-manual, de
nível médio ou universitário. Resumem-se a 5,7% os que têm baixa qualificação profissional e a
7,5% os que fazem trabalho manual especializado. Se continuasse exercendo a profissão de torneiro mecânico, era nessa última
categoria que deveria constar Lula, pré-candidato à Presidência.
O percentual dos que chegaram
à universidade aumentou 7,7
pontos, subindo de
56,4% para 64%.
Na mão inversa, foi reduzido em
6,8 pontos o percentual dos que
não frequentaram a escola ou cursaram apenas até o primeiro grau
completo (de 11,8% para 5%). "Os
números mostram um processo
de mobilidade social bastante
acentuado, ocorrido em apenas
uma geração", diz Tadeu César.
Em 1991, 73,6% dos pais dos
participantes nunca tinham frequentado a escola ou tinham cursado apenas até o primeiro grau.
São apenas 5% na mesma situação em 1999. No primeiro congresso, só 8% dos pais dos participantes tinham atingido ou ultrapassado o nível universitário, número que salta para 57% em 1999.
As pesquisas mostram um processo de desradicalização política:
"Há uma não-aceitação plena das
teses tradicionais, seja social-democrata, seja marxista-leninista.
Elas não são reafirmadas".
O índice dos que definiram o
partido como socialista caiu de
79,5% para 71,9%. Não houve nenhuma afirmação do partido como comunista, definição que já
era reduzida em 1991 -só 0,6%
na época. Cresceu 4,5
pontos o número dos
que classificaram como social-democrata
ou democrata radical.
A variação ideológica
pode ser acompanhada
nas teses aprovadas nos
encontros. "Fica claro a existência de um movimento pendular entre a moderação e a radicalidade. Há uma tensão interna
forte. Existe um setor minoritário,
que é insurrecional e barulhento,
e um majoritário, que é mais flexível e moderno. Num mesmo documento, aparecem definições
contraditórias que refletem essa
tensão", observa o professor.
Tadeu César criou dois índices
para expressar a evolução do pensamento do PT. Numa questão
sobre estatização, as respostas foram divididas em quatro linhas:
social-democrata, socialista tradicional, socialista renovado e socialista democrático. Com base
nisso, elaborou um Índice de Polarização Ideológica: 49,7% (10,3
pontos a mais que em 91) são definidos como socialistas democráticos; 41,9% (8,1 pontos a menos)
como socialistas renovados; 5,4%
(0,8 a menos) como socialistas
tradicionais; e 3,0% (0,9 ponto a
menos) como social-democratas.
Ele também elaborou o Índice
de Polarização Econômico-Ideológica. Os "estatistas moderados"
são maioria no partido (46,1%),
seguidos pelos "distributivistas
moderados" (31,4%), "estatistas"
(17,7%) e "distributivistas"
(4,8%). Nesse grupo, na comparação entre o congresso partidário
de 1991 e o de 1999, houve uma redução de cinco pontos entre os
"estatistas moderados" e aumento de 4,3 pontos entre os "distributivistas moderados" e de 3,5
pontos entre os "estatistas".
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