São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO TUCANA

Papéis entregues por Nilton Monteiro apontam suposto caixa dois de R$ 91,5 milhões na campanha do tucano em 1998; senador nega

PF investiga dossiê de lobista contra Azeredo

RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal vai investigar a autenticidade de um conjunto de papéis entregue em Brasília pelo lobista mineiro Nilton Antônio Monteiro, 48, que aponta um suposto caixa dois de R$ 91,5 milhões na campanha de 1998 para a reeleição do então governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB).
A principal peça recebida na semana passada pelo delegado federal Luis Flávio Zampronha, que investiga o escândalo dos Correios, são três páginas com rubricas e assinatura atribuídas ao ex-tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão.
Os papéis apontam o que seriam a origem e o destino de cerca de R$ 100 milhões que teriam sido arrecadados para a campanha - apenas R$ 8,5 milhões foram declarados ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral). O dinheiro teria beneficiado, além da candidatura majoritária tucana, pelo menos 124 candidatos a deputado dos partidos PSDB, PSN, PMDB, PSD, PFL, PRN, PTB, PSL, PSB, PDT, PP, PSC, PL, PST, PMN e PT.
Azeredo afirmou ontem, em entrevista à Folha, que o valor de R$ 100 milhões é "absurdo e fantasioso". O ex-tesoureiro Cláudio Mourão, que já reconheceu R$ 11,5 milhões de caixa dois na campanha de Azeredo, disse que Monteiro "fabrica documentos" e negou a autenticidade dos últimos papéis entregues à PF.

Recibo
Monteiro também entregou ao delegado Zampronha uma fotocópia de um suposto recibo assinado pelo senador e datado de 1998, no qual diz que R$ 4,5 milhões que chegaram à sua campanha pelas mãos de Mourão tiveram como origem as agências de publicidade DNA e SMPB, de Marcos Valério de Souza.
Se comprovada sua autenticidade, o recibo desmontaria a defesa que Azeredo vem apresentando. Ele tem atribuído toda a eventual responsabilidade a Cláudio Mourão. Uma eventual perícia técnica no documento a ser feita pela PF poderá ficar comprometida, pois não se trata de um original.
Monteiro cobra do PSDB um suposto empréstimo de R$ 80 mil que sua família teria feito ao partido em 1998. O lobista já havia prestado três depoimentos ao Ministério Público do Rio de Janeiro em julho último, quando também narrou a prática de caixa dois na campanha tucana mineira de 98.
O lobista também foi o autor, em 2001, de acusações de supostas irregularidades no governo do Estado do Espírito Santo, então sob controle do PSDB.
As três páginas supostamente produzidas por Mourão afirmam que as agências de Marcos Valério "movimentaram" R$ 53,8 milhões do total arrecadado para a campanha. A origem, sempre segundo os papéis, foram empréstimos para empreiteiras com aval do governo, fornecedores do Estado, "indústrias, bancos, corretoras de valores", órgãos públicos e "doleiros e outros colaboradores individuais".
Segundo os papéis, oito órgãos da administração indireta e um da direta colaboraram com R$ 12,6 milhões para o patrocínio de um evento realizado pela SMPB, o "Enduro da Independência", mas apenas "uma pequena parcela" teria sido gasta efetivamente com o evento. O grosso dos recursos teria sido "repassado à campanha por meio do Rural e do Banco de Crédito Nacional".


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