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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS BINGOS
Suspeito de ser laranja da GTech, Walter Santos Neto se disse doente e não conseguiu comprovar à CPI destino de R$ 1,92 mi recebidos da empresa
Advogado não prova destino de R$ 1,9 mi
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Suspeito de ter sido usado como
laranja para intermediar um contrato com a Caixa Econômica Federal, o advogado Walter Santos
Neto não conseguiu comprovar a
destinação de R$ 1,92 milhão sacado em dinheiro pouco tempo
depois de ter recebido depósitos
milionários da GTech, empresa
americana que renovou negócio
no valor de R$ 650 milhões com a
CEF em abril de 2003.
A CPI dos Bingos quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico
de Santos Neto, que depôs ontem,
pela segunda vez, na comissão.
O advogado afirmou que gastou
o dinheiro em restaurantes caros,
vinhos, viagens, presentes e em
doações para amigos. Ele se disse
uma "pessoa doente", que sofre
de compulsão para gastar e que já
começou a fazer tratamento psiquiátrico. Os integrantes da CPI
fizeram piadas das justificativas.
"Naquele momento [em que teria gastado o dinheiro], devido a
essa deformação minha, eu tinha
uma compulsão de gastos", disse
ele, protegido por um habeas corpus preventivo que o impedia de
sair preso da CPI.
Entre outubro de 2002 e junho
de 2003, a GTech transferiu
R$ 5,09 milhões para a MM Consultoria Jurídica, empresa da qual
Santos Neto é o principal acionista. Um de seus sócios na MM (até
setembro tinha 30% da empresa)
é o também advogado Marcelo
Coelho de Aguiar, que foi assessor
da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo) de outubro de
2003 a 15 de junho deste ano.
Em 17 de outubro de 2002, a
GTech depositou na conta da MM
R$ 985 mil. No mesmo dia e no seguinte, Santos Neto sacou pessoalmente no banco R$ 455 mil.
Em 3 de janeiro de 2003, uma sexta-feira, a GTech depositou
R$ 1,920 milhão. Entre os dias 6 e
7 do mesmo mês, ele sacou R$ 815
mil. Em 26 de junho, a empresa
transferiu mais R$ 1,67 milhão.
Dois dias depois, sacou R$ 650
mil, tendo transportado o dinheiro num carro forte. Santos Neto
disse que levava o dinheiro para
casa, para gastar depois.
"Eu já vi muitas pessoas lavarem dinheiro sujo, mas Vossa Excelência criou uma nova modalidade: sujar dinheiro limpo", disse
o senador José Jorge (PFL-PE).
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) contestou José Jorge, dizendo que não se pode falar que o
dinheiro é sujo só porque a pessoa
o guarda em casa. "Eu mesmo tenho algum dinheiro em casa."
Em tom exaltado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que, pelo raciocínio de Suplicy, o PT não poderia ter recriminado João Batista
(deputado expulso do PFL), pego
em flagrante pela Polícia Federal
transportando R$ 10 milhões em
malas, alegando ser contribuição
de fiéis para a Igreja Universal.
O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse
que estuda convocar uma junta
médica para atestar o estado de
saúde de Santos Neto. Caso o distúrbio não fique comprovado,
poderá pedir seu indiciamento.
Segundo os integrantes da CPI,
Santos Neto caiu em contradição
várias vezes. No primeiro depoimento, havia afirmado, por
exemplo, ter emprestado R$ 767
mil ao advogado Hélcio Cambraia, conhecido por defender
empresários de jogos de bingo.
Ontem, disse que esse dinheiro foi
para honorários por sua participação no caso da GTech.
República de Ribeirão
A CPI aprovou ontem a convocação dos empresários Roberto
Colnaghi e Roberto Carlos Kursweil, ambos ligados indiretamente ao suposto transporte de
US$ 3 milhões que teriam vindo
de Cuba para o PT, segundo reportagem da revista "Veja".
Kursweil alugou um Omega para o PT em 2002, carro que teria
sido utilizado para transportar os
dólares de Campinas para São
Paulo. O Omega foi cedido ao ministro Antonio Palocci (Fazenda),
então prefeito de Ribeirão Preto.
O motorista que teria transportado os dólares para o PT, Éder Eustáquio Soares Macedo, também
foi cedido a Palocci por Kurzweil.
Colnaghi é proprietário do
avião Seneca em que o ex-assessor de Palocci na prefeitura Vladimir Poleto teria levado o dinheiro
de Brasília para Campinas. Todos
negam a suposta ajuda de Cuba.
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