São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS BINGOS

Suspeito de ser laranja da GTech, Walter Santos Neto se disse doente e não conseguiu comprovar à CPI destino de R$ 1,92 mi recebidos da empresa

Advogado não prova destino de R$ 1,9 mi

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Suspeito de ter sido usado como laranja para intermediar um contrato com a Caixa Econômica Federal, o advogado Walter Santos Neto não conseguiu comprovar a destinação de R$ 1,92 milhão sacado em dinheiro pouco tempo depois de ter recebido depósitos milionários da GTech, empresa americana que renovou negócio no valor de R$ 650 milhões com a CEF em abril de 2003.
A CPI dos Bingos quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Santos Neto, que depôs ontem, pela segunda vez, na comissão.
O advogado afirmou que gastou o dinheiro em restaurantes caros, vinhos, viagens, presentes e em doações para amigos. Ele se disse uma "pessoa doente", que sofre de compulsão para gastar e que já começou a fazer tratamento psiquiátrico. Os integrantes da CPI fizeram piadas das justificativas.
"Naquele momento [em que teria gastado o dinheiro], devido a essa deformação minha, eu tinha uma compulsão de gastos", disse ele, protegido por um habeas corpus preventivo que o impedia de sair preso da CPI.
Entre outubro de 2002 e junho de 2003, a GTech transferiu R$ 5,09 milhões para a MM Consultoria Jurídica, empresa da qual Santos Neto é o principal acionista. Um de seus sócios na MM (até setembro tinha 30% da empresa) é o também advogado Marcelo Coelho de Aguiar, que foi assessor da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo) de outubro de 2003 a 15 de junho deste ano.
Em 17 de outubro de 2002, a GTech depositou na conta da MM R$ 985 mil. No mesmo dia e no seguinte, Santos Neto sacou pessoalmente no banco R$ 455 mil. Em 3 de janeiro de 2003, uma sexta-feira, a GTech depositou R$ 1,920 milhão. Entre os dias 6 e 7 do mesmo mês, ele sacou R$ 815 mil. Em 26 de junho, a empresa transferiu mais R$ 1,67 milhão.
Dois dias depois, sacou R$ 650 mil, tendo transportado o dinheiro num carro forte. Santos Neto disse que levava o dinheiro para casa, para gastar depois.
"Eu já vi muitas pessoas lavarem dinheiro sujo, mas Vossa Excelência criou uma nova modalidade: sujar dinheiro limpo", disse o senador José Jorge (PFL-PE).
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) contestou José Jorge, dizendo que não se pode falar que o dinheiro é sujo só porque a pessoa o guarda em casa. "Eu mesmo tenho algum dinheiro em casa."
Em tom exaltado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que, pelo raciocínio de Suplicy, o PT não poderia ter recriminado João Batista (deputado expulso do PFL), pego em flagrante pela Polícia Federal transportando R$ 10 milhões em malas, alegando ser contribuição de fiéis para a Igreja Universal.
O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse que estuda convocar uma junta médica para atestar o estado de saúde de Santos Neto. Caso o distúrbio não fique comprovado, poderá pedir seu indiciamento.
Segundo os integrantes da CPI, Santos Neto caiu em contradição várias vezes. No primeiro depoimento, havia afirmado, por exemplo, ter emprestado R$ 767 mil ao advogado Hélcio Cambraia, conhecido por defender empresários de jogos de bingo. Ontem, disse que esse dinheiro foi para honorários por sua participação no caso da GTech.

República de Ribeirão
A CPI aprovou ontem a convocação dos empresários Roberto Colnaghi e Roberto Carlos Kursweil, ambos ligados indiretamente ao suposto transporte de US$ 3 milhões que teriam vindo de Cuba para o PT, segundo reportagem da revista "Veja".
Kursweil alugou um Omega para o PT em 2002, carro que teria sido utilizado para transportar os dólares de Campinas para São Paulo. O Omega foi cedido ao ministro Antonio Palocci (Fazenda), então prefeito de Ribeirão Preto. O motorista que teria transportado os dólares para o PT, Éder Eustáquio Soares Macedo, também foi cedido a Palocci por Kurzweil.
Colnaghi é proprietário do avião Seneca em que o ex-assessor de Palocci na prefeitura Vladimir Poleto teria levado o dinheiro de Brasília para Campinas. Todos negam a suposta ajuda de Cuba.


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