São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Projeto aumenta ganho de indígenas com mineração

Relatório sobre exploração mineral deve ser votado hoje em comissão da Câmara

Dos 33 deputados do grupo, 14 foram financiados por empresas do setor; proposta prevê que aldeias receberão 4% sobre a venda do minério


FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Começa hoje a votação do projeto que regulamenta a exploração mineral em terras indígenas em comissão especial da Câmara. Atualmente proibido por falta de regulamentação, o garimpo será autorizado pelos próprios índios que receberão 4% do faturamento bruto com o comércio do produto explorado, conforme relatório do deputado Eduardo Valverde (PT-RO). Uma vez aprovado na Câmara, o projeto segue para apreciação do Senado.
Além do poder de veto das comunidades indígenas, a proposta também prevê licitação para a extração mineral. Na Amazônia, por exemplo, enormes reservas de ouro, estanho, nióbio, alumínio e diamante estão em territórios indígenas.
Na prática, o projeto fará com que os pequenos garimpeiros que hoje atuam de forma clandestina disputem com grandes mineradoras o subsolo de reservas indígenas, em especial nos Estados de Roraima, Rondônia e Minas Gerais.
Dos 33 titulares e suplentes da Comissão Especial que apreciam o projeto hoje, 14 receberam cerca de R$ 1,6 milhão de mineradoras, siderúrgicas, metalúrgicas e empresas de cimento e granito.
Segundo o presidente da Comissão, deputado Edio Lopes (PMDB-RR), as mineradoras sempre pleitearam a necessidade de regulamentação. A exploração mineral em terras indígenas não é permitida por falta de regulamentação do artigo 231 da Constituição, que condiciona a pesquisa mineral em áreas indígenas à autorização do Congresso Nacional.
"Esse projeto virá para pôr por terra uma série de questões que estão à margem da lei", disse Lopes. Ele cita a extração na reserva Roosevelt (RO), onde, segundo ele, os índios cinta-larga e garimpeiros continuam explorando diamantes. "A extração lá continua a todo vapor."

Divergências
O relator do projeto, Eduardo Valverde, admite que há pontos polêmicos, previstos para serem discutidos hoje. Entre eles, está a remuneração à comunidade indígena pelo uso da água. O valor do metro cúbico a ser pago pela empresa seria definido por meio de decreto. A tendência, contudo, é suprimir esse item do texto final. "É inconstitucional", explicou o presidente da comissão.
Também há divergências quanto ao valor que às comunidades terão direito com a venda do produto explorado. O projeto original do senador Romero Jucá (PMDB-RO) previa piso de 2% do valor da venda. Valverde aumentou para 4%.
Para gerir esses recursos, os deputados da comissão se inspiraram no modelo australiano, no qual os próprios índios contratam empresas de auditoria e o valor arrecadado vai para um fundo, administrado pelas comunidades. No caso do Brasil, a idéia é deixar 50% com os índios da área e o restante numa espécie de poupança. "Há muita resistência em permitir que a Funai gerencie os recursos", admite o relator.
Na Funai (Fundação Nacional do Índio) ainda não há consenso sobre o projeto. Como a proposta volta ao Senado, o Conselho Nacional de Proteção aos Índios ainda elabora proposta de legislação para ser apresentada ao Congresso.
Um dos pontos de consenso entre base, oposição e governo é a licitação das áreas a serem exploradas. Caberá ao Ministério de Minas e Energia organizar o processo licitatório, segundo Valverde.
Já as audiências nas comunidades indígenas serão monitoradas pelo Ministério Público Federal e pela Funai .


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