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Empresários vão priorizar doações ocultas na eleição
Políticos e executivos reclamam que imprensa "criminaliza" quem doa a candidatos
Presidente do TSE afirma que mecanismo dificulta, em tese, a transparência na disputa, mas que o maior problema ainda é o caixa 2
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Empresários e políticos têm
uma avaliação praticamente
unânime sobre o cenário para o
financiamento de campanha
deste ano. Devem ser priorizadas as doações diretas aos partidos, e não aos candidatos. É a
chamada "doação oculta", em
que a empresa doa direto ao
partido e não é possível identificar para que candidato doou.
De acordo com políticos, empresários e dirigentes de empresas ouvidos pela Folha, essa
é uma tendência para fugir do
que eles chamam de "criminalização" da doação legal.
"Toda a mídia crucifica o
doador", afirma o advogado e
ex-ministro do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) Torquato
Jardim.
A saída, diz ele, é a doação direta ao partido e não aos candidatos: "É a doação mais tranquila. Protege a empresa, o
doador não aparece vinculado
a um candidato".
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) vai na mesma
linha: "Quem doa dinheiro oficialmente [a um candidato] vai
parar no jornal como participante de algum conluio, como
se estivesse querendo fazer alguma irregularidade", afirma.
Reservadamente, alguns empresários admitem que juntamente com a doação direta ao
partido segue uma "lista secreta" apontando para que candidato deve ir a contribuição.
Segundo relatos ouvidos pela
Folha, isso já é uma prática.
O empresário Jorge Gerdau
faz questão de destacar que
suas empresas "não trabalham
com caixa dois", mas diz que
elas devem optar, nas eleições
deste ano, "por priorizar as
doações para os partidos".
Ele defende a legalidade da
doação direta: "Elas evitam que
a empresa, depois, fique sendo
apontada de ter doado para esse ou aquele candidato".
Doação oculta
Não por outro motivo, o Congresso aprovou mudanças na
legislação em 2009 facilitando
a doação direta aos partidos.
"Queriam proibir, mas esse
tipo de doação é legal, o partido
tem de prestar contas depois.
Além disso, ela fortalece o partido e reduz o poder de alguns
pequenos grupos de políticos",
diz o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se ela
fosse proibida, diz, o resultado
seria "estimular o caixa dois".
Futuro presidente do PT, José Eduardo Dutra tem a mesma
opinião. "A doação direta para o
diretório dá mais força ao partido. Eu preferia que tivéssemos
aprovado também o voto em
lista e o financiamento público.
Como não foi possível, pelo menos temos esse tipo de doação
que fortalece as legendas."
Tanto Guerra como Dutra dizem que, pelo que ouvem dos
doadores de campanha, a contribuição direta aos partidos, e
não aos candidatos, será a tendência na eleição deste ano.
Líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza diz que a mídia
vive criticando a infidelidade
partidária, mas ao mesmo tempo criminaliza um instrumento
que pode acabar com ela.
"Na minha opinião, deveriam
proibir contribuição para deputado. Só para partido. Você
criaria mais vínculo entre o
candidato e seu partido." No
sistema de doação aos candidatos, Vaccarezza diz que o parlamentar acaba se transformando "num lobista do setor privado, sujeito a abordagens nem
sempre republicanas", diz ele.
Debaixo dos panos
Essa tendência, porém, gera
preocupação na Justiça Eleitoral. Falando em tese, o presidente do TSE, Carlos Ayres
Britto, disse que essa doação,
facilitada pelas mudanças na
legislação, "dificulta, à primeira
vista, a transparência".
O presidente do TSE diz, no
entanto, que sua maior preocupação continua sendo o caixa
dois: "[O caixa dois] costuma
ser o início de toda corrupção
administrativa. Porque quem
financia por debaixo dos panos
vai cobrar o retorno do capital
por baixo dos panos", afirma.
Dutra diz acreditar que isso
praticamente desapareceu das
grandes campanhas: "Depois
dos últimos escândalos, com
gravações de vídeos com gente
recebendo dinheiro, quem tiver juízo vai fugir de caixa
dois". Guerra afirma que a contribuição ilegal ainda existe,
mas atualmente está sendo
usada mais para pagamento de
comissão em operações fraudulentas: "Nas campanhas majoritárias, sinceramente, se
acontece, é marginal. Nas nossas não temos".
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