São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Prefeitos indicam áreas a serem atendidas e depois pegam carona nas inaugurações

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em 15 de dezembro do ano passado, a cidade de Paulistana (PI), 440 km ao sul de Teresina, recebeu a visita de autoridades estaduais e federais e um show do deputado forrozeiro Frank Aguiar (PTB-SP) para 20 mil pessoas na praça central.
A festa tinha dupla razão: comemorar o aniversário de 69 anos do município e a inauguração de um pacote de obras, entre as quais se destacava uma do Luz para Todos, atingindo 5.840 pessoas na zona rural.
Da capital do Estado vieram o governador Wellington Dias (PT), o senador João Vicente Claudino (PTB) e o deputado federal Osmar Junior (PC do B), todos da base de Lula. O presidente nacional da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Danilo Forte, ligado ao PMDB, representou o governo federal.
Três dias depois, num outro ponto do semi-árido piauiense, uma inauguração parecida parou a cidade de Geminiano (330 km ao sul de Teresina), com 6.000 habitantes, 90% deles na zona rural. Foram 126 casas com iluminação nova, além de dois clubes e uma casa de farinha. O interruptor foi acionado pelo governador e pelo prefeito, Tony Borges (PMDB). Houve um toque ecumênico: simultaneamente, uma igreja católica e um templo evangélico receberam eletricidade.
Eventos como esses ocorrem ao ritmo de meia dúzia por mês, e devem aumentar em 2008. O Luz para Todos é federal, mas prefeitos e governadores não fazem cerimônia em pegar carona política nas inaugurações.
O Ministério de Minas e Energia reluta em dividir o crédito. No manual explicativo do programa, a seção de perguntas e respostas inclui a questão: "O prefeito da minha cidade disse que foi ele quem levou o programa Luz para Todos até a comunidade. É verdade?"
A resposta da pasta é exclamativa: "Não! O programa não é de prefeito, vereador, deputado ou mesmo do governador.O Luz para Todos é um programa do governo federal".
Os prefeitos dizem que têm papel importante, apesar de não entrarem com nenhum centavo no projeto. "A obra é do governo federal, mas o que nós dizemos é que fomos atrás, que lutamos por essa obra. Isso temos o direito de fazer", diz o prefeito de Paulistana, Luís Coelho (PMDB), que disputará a reeleição em outubro. No dia da inauguração, a prefeitura distribuiu panfletos chamando a população para o evento.
São os prefeitos que levantam os locais a serem atendidos. "O papel do prefeito é fazer o projeto, o levantamento topográfico, dar entrada na papelada. Ou seja, fazer todos os encaminhamentos", afirma Borges.
Cada obra do Luz para Todos ganha sua placa padronizada do governo. Um manual do Ministério de Minas e Energia diz que, para localidades que têm até 250 pessoas beneficiadas, a placa deve ter 1,5 metro de comprimento por 1 metro de altura, colocada "se possível junto a um consumidor beneficiado". Para comunidades mais numerosas, o tamanho é "médio", de 3 metros por 2 metros.
Na entrada do município, a placa precisa ser "grande": 4 metros por 3 metros. Em todas tem de constar o valor da obra, a logomarca do governo do Estado e o slogan da administração federal: "Brasil, um país de todos".
"Existe um sistema de identificação da obra, por uma questão até de auditoria. Até para se alguma coisa estiver errada, saber a quem procurar", diz o secretário nacional de Energia Elétrica, Ronaldo Schuck. (FZ)

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