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Ex-deputado compara política a cachaça
Gilberto Gonçalves, flagrado em grampo da PF pedindo "dinheiro de roubo, de corrupção", diz que essa profissão "é para malandro"
Indiciado, ele afirma que, na conversa, cobrava salários atrasados; "eu disse: quero o meu dinheiro, que é meu, que não é dinheiro de roubo"
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ
O ex-deputado estadual Gilberto Gonçalves (PTN-AL),
gravado pela Polícia Federal
em conversa telefônica pedindo "dinheiro de roubo, de corrupção", disse que está desiludido com a política. "A política
foi uma cachaça que tomei."
A Folha publicou no domingo passado transcrição de conversa telefônica feita em março
de 2007 pela PF, com autorização da Justiça, que integra inquérito sobre suposto esquema
de desvio de dinheiro público.
Na conversa com o então diretor de recursos humanos da
Assembléia de Alagoas, Roberto Menezes, Gonçalves ameaçava "estourar" a Assembléia
se não recebesse sua parte. "Eu
quero meu dinheiro certo. Que
é dinheiro de roubo, de corrupção", afirma o ex-deputado.
À Folha, na última quinta,
Gonçalves, 46, negou participação no suposto esquema de
desvio de verba pública montado na Casa. Ele não permitiu
que a entrevista fosse gravada.
No escritório de seu supermercado em Rio Largo (região
metropolitana de Maceió), o
ex-deputado disse que só quer
cuidar dos negócios e criar os
filhos. Ele alega que cobrou o
dinheiro porque "quebrou" na
campanha de 2006, quando
não foi reeleito. "Política é para
malandro. Não tem espaço para homem de bem", disse. "Não
tem o provérbio: o sábio recusa
o poder, e o louco o cobiça? Hoje quero ser mais sábio."
Ele reclamou de rádios e TVs
de Alagoas, que, após a reportagem de domingo passado, passaram a reproduzir o grampo.
E negou ter pedido "dinheiro
roubado": "Eu disse: "Quero o
meu dinheiro, que é meu, que
não é dinheiro de roubo'".
O ex-deputado disse que estava cobrando dinheiro de salários atrasados e verbas de gabinete que ainda lhe eram devidos pela Casa, mesmo após o
fim de seu mandato, em 2007.
Em trecho da gravação, no
entanto, é possível ouvir Gonçalves dizer: "Eu quero meu dinheiro. E não venha com desconto do INSS, não, porque isso é dinheiro roubado".
Sobre a menção ao INSS, sua
explicação é que a Assembléia
tentou enganá-lo e descontou
alíquota maior do que a devida.
Gonçalves foi indiciado pela
PF em dezembro de 2007 no
inquérito que investiga o desvio de R$ 280 milhões em verbas da Assembléia e da União.
O ex-deputado, porém, não
abandonou certos vícios típicos de políticos: cumprimenta
todos que passam pelo supermercado e não esconde a vaidade ao ser questionado na rua se
será candidato à Prefeitura de
Rio Largo. "Ainda estou decidindo", responde, sorrindo.
Segundo ele, sua base eleitoral são os pobres de Rio Largo.
"Comecei [na política] ajudando o povo. Distribuo peixe. Se
morre um, eu enterro. Dou ambulância para levar doentes."
Ao se candidatar à reeleição
em 2006, Gonçalves ficou apenas com a quinta suplência.
Mas, com o pedido de afastamento -feito pelo Ministério
Público do Estado na sexta-
dos 11 deputados indiciados
por suspeita de participação no
esquema, Gonçalves acredita
que pode assumir uma cadeira.
"Pode ser até que eu volte..."
NA INTERNET
www.folha.com.br/080622
ouça trecho da escuta
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