São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2010

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Sob ceticismo, volta debate sobre "relação especial"

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Formuladores da política externa dos Estados Unidos retomaram o debate sobre o estabelecimento de uma "relação especial" com o Brasil, mas há ceticismo sobre se os dois países querem trilhar esse caminho, disse Shannon O'Neil, do Council on Foreign Relations, centro de estudos que representa a elite americana de relações internacionais.
O'Neil estava ontem em Brasília, na segunda viagem ao país em três meses, que coincide com a vinda da secretária de Estado Hillary Clinton. Em dezembro, o Council promoveu seminário com a FGV-Rio sobre a "ascensão do Brasil". Desta vez, ela pesquisa a cooperação em energia e clima.
Em relatório recém-divulgado, O'Neil enumera entraves a uma relação especial clássica, como a que existe entre EUA e Reino Unido: a carência de falantes de português em Washington, ainda voltada à América hispânica; a desconfiança brasileira das atividades militares dos EUA no hemisfério; divergências sobre drogas e comércio e a aproximação recente entre Brasil e Irã.
"Não estou otimista, mas o que pode acontecer é uma relação como a que existe com a China. Há conflitos e áreas de cooperação, mas é um país com importância global reconhecida, que os EUA cultivam como parceiro e com o qual mantêm diálogo constante, mesmo em temas onde há divergências fortes", afirmou O'Neil.
Sobre o Irã, disse, o melhor que pode acontecer agora é "um diálogo franco": "O silencio distancia".
Matias Spektor, autor de "Kissinger e o Brasil" e professor da FGV-Rio, diz que a expectativa "de que o Brasil possa ajudar os EUA a gerenciar a ordem regional" é recorrente e provoca há décadas a resistência brasileira.
Primeiro, explica, porque o Brasil "é uma potência regional ambígua", sem disposição para intervir em outros países nem pagar os "custos pesados" da integração. Segundo, porque ainda predomina a ideia de que "não é bom estar no radar" americano: "O país ainda precisa definir uma nova estratégia em relação aos EUA".
Tanto Spektor quanto O'Neil classificam como "boa" a relação bilateral. A Embaixada dos EUA lista 16 mecanismos de consultas principais, da economia à defesa. O Itamaraty, que recentemente criou uma coordenação para Estados Unidos e Canadá, relaciona 18 mecanismos apenas no âmbito da Chancelaria, na "relação mais densa" que o Brasil possui.
Mas Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, avalia que o governo brasileiro tem atitude "passiva". Lembra que partiu dos EUA a proposta do Memorando de Entendimento sobre Biocombustíveis, de 2007, e afirma que o Brasil não explorou o potencial dos grupos econômicos bilaterais criados em 2003, na primeira visita de Lula aos Estados Unidos.


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