São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INVESTIGAÇÃO
Promotoria vai apurar se os valores realmente foram depositados nas contas dos vereadores
Datas de relação antecedem 3 votações

LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local

As datas que constam na suposta lista de propina envolvendo vereadores de São Paulo e o prefeito Celso Pitta (PTN) antecedem votações importantes na Câmara Municipal.
Entre outubro e dezembro do ano passado, por exemplo, os vereadores discutiram e aprovaram a regularização dos perueiros, o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e o Orçamento de 2000, ambos favoráveis a Pitta.
A lista, redigida em um computador e entregue de forma anônima ao Ministério Público do Estado de São Paulo, contém os nomes de sete vereadores que supostamente teriam recebido propina de R$ 3,1 milhões para votar de forma favorável a Pitta.
A promotoria vai apurar se as datas correspondem a votações importantes na Câmara Municipal e se os valores realmente foram depositados nas contas dos vereadores ou de terceiros.
Segundo a lista, os parlamentares que supostamente receberam de R$ 320 mil a R$ 650 mil para apoiar o prefeito foram: Milton Leite (PMDB), Brasil Vita (PPB), Miguel Colasuonno (PMDB), Maria Helena (PL), Alan Lopes (PTB), Toninho Paiva (PFL) e Osvaldo Enéas (sem partido).

Histórico
Votações antigas e que geraram polêmica, como o arquivamento das CPIs da educação, dos precatórios e da máfia da propina, também serão investigadas pelos promotores, que vão pedir a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dos parlamentares que constam na suposta relação.
A Folha apurou que o Ministério Público já tem as contas bancárias do vereador Osvaldo Enéas e de pelo menos cinco funcionários que trabalham em seu gabinete, referente ao período de 1998.
A veracidade dessa lista e sua origem ainda não foram confirmadas pela promotoria.
A ex-primeira-dama Nicéa Pitta disse que a suposta lista confirma suas denúncias de que o secretário do Governo, Carlos Augusto Meinberg, seria o responsável pela negociação da compra de votos a favor do prefeito.
Por meio da busca e apreensão feita na casa e no gabinete do secretário, na última sexta, a promotoria espera encontrar provas que confirmem a suposta lista e as negociações na Câmara.
Meinberg disse que está "tranquilo" e que a polícia vai conseguir provar que a lista é falsa. "Essa lista é uma tentativa de desestabilizar o bom relacionamento do prefeito com os vereadores."

Barganhas
Nem sempre o prefeito manteve um "bom relacionamento" coma oposição. As votações na Câmara foram marcadas por períodos de revoltas e de barganhas políticas.
Em três anos, seu mandato foi ameaçado quatro vezes por pedidos de impeachment. Depois de abertos, todos foram arquivados, graças a manobras de aliados, que conseguiram barrar também as CPIs que investigariam sua gestão e vereadores governistas.
As últimas três votações importantes de 1999 registraram a vitória de Pitta e o apoio de aliados.
Em outubro, a Câmara aprovou projeto que regulariza até 4.100 perueiros na cidade e dá liberdade para o prefeito mudar omodo de gestão do transporte coletivo sem nova consulta ao Legislativo.
No início de dezembro, foi aprovado o congelamento do valor do IPTU de 2000. A oposição voto contra, alegando que o imposto embute a taxa de limpeza, considerada inconstitucional.
Outra votação importante foi o Orçamento de 2000, da qual também Pitta saiu vitorioso. A Câmara aprovou o Orçamento em R$ 7,6 bilhões e ainda tornou possível um remanejamento de 15% do valor orçamentário, que dispensa a autorização do Legislativo.
Em troca, os vereadores conseguiram aprovar um pacote de 91 emendas que prevê uma maior liberação de recursos para áreas com maior visibilidade eleitoral.


Texto Anterior: Denúncia levou a apreensão
Próximo Texto: Nicéa acusa Pitta de ameaçá-la de morte e diz que vai à Justiça
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.