São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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RIO DE JANEIRO
Diretório regional do partido aprovou ontem resolução em que se diz rompido com o governo
PT dá prazo de 15 dias para Garotinho

ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Sucursal do Rio

O diretório regional do PT no Rio aprovou ontem resolução em que se diz rompido politicamente com o governador Anthony Garotinho (PDT), mas não entrega imediatamente os cargos no governo.
A resolução determina que o partido deixe os cargos, caso em 15 dias o governador não implemente uma relação de reivindicações, entre elas maior participação do PT nas decisões do governo e a apuração de possíveis irregularidades, particularmente no programa habitacional.
Os atritos do PT com o governador se intensificaram desde a demissão do ex-coordenador de Segurança, Luiz Eduardo Soares, depois que denunciou a existência de uma "banda podre" na polícia. Uma das reivindicações do partido é o fim das hostilidades de Garotinho contra Soares e a garantia da continuidade do programa de reforma da polícia que ele vinha implementando.
O PT quer também investigações sobre atos de Eduardo Cunha, ex-membro do grupo de Collor, que é presidente da Companhia Estadual de Habitação.
A crise aumentou na semana passada, quando Garotinho demitiu o petista Sergio Rosa, presidente da Proderj (companhia estadual de processamento de dados), depois que ele fez denúncias sobre compras sem licitação no governo.
O presidente regional do partido, Carlos Santana, criticou a resolução que foi aprovada por 25 votos contra 24, dizendo que ela é ambígua, permitindo a interpretação de que o partido é apegado a cargos públicos. Santana votou contra a resolução.
O secretário estadual de Planejamento, Jorge Bittar, deputado federal do PT licenciado, concorda que a decisão foi ambígua, mas nega que a permanência dos petistas num governo que não apóiam politicamente seja um ato fisiológico. "A resolução é um protesto político do partido feito com responsabilidade, pois não podemos simplesmente deixar um governo de um dia para outro, comprometendo a continuidade dos trabalhos nos quais estamos trabalhando", disse Bittar.
A aprovação ocorreu às 17h15, depois de uma tensa reunião iniciada às 10h. A vice-governadora Benedita da Silva (PT) participou das negociações que redigiram a resolução. Em reuniões reservadas, ela e Bittar pressionaram os deputados estaduais petistas a apoiar uma solução que impedisse o rompimento com o governo.
Os oito deputados têm um voto no diretório regional, que é dado pelo líder da bancada, deputado Paulo Pinheiro. Esse voto era disputado desde o início do dia pelos grupos favoráveis ou contra a permanência no governo. Pinheiro votou com os governistas.
Essa divisão é histórica e levou a direção nacional a intervir no diretório regional, quando em 98 o partido no Rio decidiu não apoiar uma aliança eleitoral com Garotinho. A aliança foi feita, mas os atritos continuaram e em outubro do ano passado, os petistas do Rio aprovaram uma resolução que já determinava a saída do governo.
Isso ocorreu logo depois que Garotinho deu declarações dizendo que havia "um partido da boquinha", numa referência a petistas que o criticavam no governo, mas não deixavam seus cargos.
Depois de novas pressões da direção nacional, a resolução foi interpretada como simples determinação de que os petistas deveriam entregar cargos. O governador não aceitou a entrega e os petistas continuaram no governo.
Garotinho não quis comentar a nova resolução petista, ontem. Em declarações dadas no sábado, ele disse estar disposto a fazer um novo acordo político com o PT. "Eu e o PT discutimos e chegamos à conclusão de que houve excesso de ambos os lados. Eu desconfiava que os petistas queriam me desestabilizar e os petistas pensavam que eu queria colocá-los para fora do governo. Agora está tudo claro", disse no sábado.
Os atritos podem continuar. O deputado federal Milton Temer (PT-RJ) entra hoje com pedido junto ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) para que sejam investigadas possíveis irregularidades no programa Cheques-Cidadania, em que cerca de 30 mil famílias recebem R$ 100,00 por mês.
Ontem pela manhã, o PTB fez no Rio sua pré-convenção municipal. Cesar Maia, pré-candidato do partido à Prefeitura, disse que irá procurar o governador para discutir projetos municipais que dependem do Estado para sua realização, como a criação de um policiamento comunitário com a utilização da guarda municipal.


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