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"Muitos dos que hoje gritam calaram"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Leia, a seguir, as principais declarações do presidente Fernando
Henrique Cardoso em seu pronunciamento.
ACM - O presidente falou em
"discurso demagógico", numa série de referências ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). FHC insinuou que o pefelista
denuncia casos já investigados
pelo governo: "Que não arrombem mais portas abertas". Segundo o presidente, há aqueles que
estão "fazendo escândalo ou
transformando em escândalo casos que estão acontecendo".
FHC disse que a apuração de
corrupção "é lenta porque vivemos num estado democrático de
direito". Afirmou que, no regime
militar, havia o "procedimento
sumário" e as CGIs (Comissões
Gerais de Investigação). "Isso não
é democracia", disse.
Criticando ACM, que apoiou o
regime militar de 1964, afirmou:
"Muitos dos que hoje gritam foram beneficiários do regime autoritário. (...) Muitos dos que hoje
gritam calaram. Nós não gritamos, também não calamos, atuamos".
ECONOMIA - O presidente disse
que não se opôs à CPI por querer
colocar suspeitas "debaixo do tapete", mas porque prejudicaria a
economia do país e "iria misturar
a investigação de questões fantasiosas com outras reais".
FHC elencou medidas que tomou desde o primeiro mandato e
que julga que ajudaram a combater a corrupção. Afirmou que o
combate à corrupção trouxe economia aos cofres públicos.
"Isso vem acontecendo por que
estou sendo leniente com a corrupção ou por que muitos viram e
se calaram? Espero que não tenham visto", declarou.
O presidente citou, como exemplo, o cancelamento de precatórios (dívidas resultantes de decisões judiciais). Afirmou que, em
1997, o governo pagou R$ 313 milhões em precatórios. Em relação
ao ano passado, a cifra diminuiu
93% -em 2000, foram gastos R$
21 milhões.
Algumas outras medidas mencionadas por FHC e que teriam
diminuído a corrupção foram:
descentralização da compra de
merenda escolar, extinção da Ceme (Central de Medicamentos, do
Ministério da Saúde) e auditoria e
informatização do processamento das AIHs (autorizações de internação hospitalar).
FHC destacou ainda o trabalho
da Secretaria Federal de Fiscalização e Controle Interno, que, de
1996 a 2000, teria reduzido as irregularidades em convênios com o
governo de 12% para 1%.
SUDAM E SUDENE - Entre as novas medidas de combate à corrupção, além da corregedoria, o
destaque é o envio ao Congresso,
em regime de urgência, de um
projeto para elevar a pena "nos
casos de desvios de aplicação de
incentivos fiscais". Ou seja, uma
resposta a escândalos na Sudam
(Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) e na Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).
CASO EJ - Ao defender Eduardo
Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência, afirmou
que, após "um ano e oito meses"
de investigação, os procuradores
não formularam acusações oficiais contra o antigo auxiliar.
Segundo o presidente, o caso EJ
foi esclarecido. Ele disse que a Receita investigou o ex-auxiliar e
não encontrou irregularidade e
endossou a versão de que os telefonemas do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto para seu
ex-secretário eram para tratar da
indicação de juízes classistas.
Chamou o juiz aposentado de
"telefonomaníaco", dizendo que,
no governo Collor, a mesma pessoa supostamente encarregada de
fazer uma triagem dos juízes classistas recebeu ligações de Nicolau.
O presidente cometeu um erro
ao dizer que todos os sigilos telefônicos de EJ foram enviados para
o Senado. Os números do Palácio
do Planalto no tempo em que o
auxiliar ocupou a Secretaria Geral
da Presidência não tiveram sigilo
quebrado até hoje.
FHC deu uma explicação vaga
para o encontro que admitiu ter
tido com ACM, na presença do
atual secretário-geral, o ministro
Aloysio Nunes Ferreira, para tratar do sigilo telefônico de EJ.
FHC não disse que impediu que
o sigilo fosse quebrado, mas que,
depois de conversar com EJ, ponderou a ACM que pessoas inocentes seriam "incomodadas".
"Não chega até a mim, não chega a ninguém", disse FHC, em
alusão indireta à conversa na qual
ACM disse a procuradores da República que a quebra do sigilo dos
telefones de EJ no Palácio do Planalto poderia atingir o presidente.
CARTA-BRANCA - Segundo FHC,
a Corregedoria Geral da União,
terá "carta-branca" para acelerar
as investigações junto a todos os
órgãos do governo, à PF, à Receita
Federal e ao Ministério Público.
O pronunciamento teve a presença dos ministros Aloysio Nunes Ferreira e Pedro Parente (Casa Civil) e da nova ministra,
Anadyr de Mendonça Rodrigues,
do advogado-geral da União, Gilmar Mendes, do diretor-geral da
Polícia Federal, Agílio Monteiro,
do secretário da Receita, Everardo
Maciel, e do secretário de Controle Interno do Ministério da Fazenda, Domingo de Castro.
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