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Lula ataca FHC e pede "paz e amor"
DA ENVIADA ESPECIAL A TRÊS LAGOAS (MS)
Em discurso pontuado por críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva voltou ontem
a comparar o comportamento da
oposição ao de ex-maridos e de
ex-mulheres. Ao mesmo tempo
em que atacou, ele pediu aos
membros de seu governo que voltem à fase do "Lula paz e amor".
"Tem gente no Brasil que é como ex-marido ou como ex-mulher, que não quer que as pessoas
tenham um novo casamento e sejam felizes. O ex-marido fica torcendo: "tomara que ela faça com
ele o que fazia comigo". A mulher
fica falando: "tomara que ele faça
com ela o que fez comigo". Ou seja, no Brasil, tem isso, os "ex" que
não se conformam de ter alguém
que possa fazer mais do que eles."
Em 17 de março, Lula já havia
usado essa metáfora em discurso
em Fortaleza. Oposição e até parte
dos aliados intensificaram as críticas, acusando o governo de paralisia, desde 13 de fevereiro, quando surgiu o caso Waldomiro Diniz, o ex-assessor da Presidência
filmado pedindo propina ao empresário de jogos Carlos Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, em 2002.
Com o surgimento de uma nova
gravação, em que o subprocurador-geral da República José Roberto Santoro tenta obter de Cachoeira a fita do encontro com
Waldomiro, PT e PSDB aumentaram os ataques entre si. Os petistas dizem que Santoro é ligado ao
PSDB, que, portanto, estaria por
trás das denúncias. Os tucanos
afirmam que o PT não quer a investigação do caso Waldomiro.
É no meio do tiroteio que Lula
fez as críticas no discurso durante
a inauguração de uma termelétrica da Petrobras, em Três Lagoas
(MS), ao mesmo tempo em que
pediu aos aliados que não ataquem. "Em vez de ficar batendo
boca, todos nós temos que ficar
na fase do Lula paz e amor", disse,
referindo-se à expressão criada na
campanha presidencial, em 2002.
O presidente afirmou ainda que
provará, ao final do seu mandato,
ter cumprido as promessas feitas
na campanha. "No momento certo, vamos provar com números o
que aconteceu no Brasil em quatro anos e o que aconteceu antes.
Somente assim é que poderemos
mostrar para a sociedade, com
muita tranqüilidade, as mudanças que estão acontecendo."
Lula deu exemplos de boas práticas de gestão ocorridas no seu
governo. "Há oito anos, não foram feitas nos portos [de Santos e
de Paranaguá] as dragagens necessárias. Sem isso, os navios não
conseguem carregar, porque o
casco bate no chão. É esse país que
estava escondido, é esse país que a
imprensa não divulgava, porque
nesse país se criou um consenso,
um pensamento único. Estava tudo tão maravilhoso, até que nós
descobrimos que não estava tão
maravilhoso em várias áreas".
Depois de atacar a gestão FHC
(1995-2002), o presidente disse
que procura evitar fazer críticas
ao antecessor. "Vocês sabem do
nosso comportamento. Eu tenho
pedido para todos os ministros:
não vamos ficar falando dos outros governantes, vamos falar
aquilo que temos que falar."
Lula também fez uma análise da
sua maturidade ao chegar ao poder. "De vez em quando, eu digo:
graças a Deus que cheguei à Presidência depois de perder três eleições e depois de ter passado dos
50 anos [...]. Ou seja, é o auge da
maturidade de um ser humano.
Você fica com mais paciência, você já não fica mais com raiva do
que lê na imprensa, você já não fica mais com raiva da oposição."
O presidente revelou um pouco
dos seus pensamentos em relação
à turbulência. "De vez em quando, você até fala: que bom que tem
oposição que faça críticas e que
bom que a gente tem um tempo
de fazer uma aferição entre o que
acontecia antes [no governo passado] e o que acontece agora."
Em mais uma referência ao governo tucano que o antecedeu,
Lula pediu ajuda aos fundos de
pensão para investir em ferrovias
e em projetos de habitação.
"No governo anterior, aplicaram grande parte dos milhões que
têm [os fundos de pensão] em ativos já prontos, participando da
compra de empresas estatais que
foram privatizadas. Agora, comecem a investir em ativos novos."
Polêmica
A termelétrica inaugurada por
Lula é alvo de quatro ações judiciais. O Ministério Público do Mato Grosso do Sul afirma que a Petrobras não apresentou as licenças ambientais pedidas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e que, ainda assim, o órgão expediu as licenças
para o funcionamento da usina.
No final da cerimônia, a Petrobras divulgou uma nota afirmando que a termelétrica -movida a
gás boliviano, que tem mercúrio
em sua composição- não oferece riscos à saúde da população da
cidade de Três Lagoas e ao meio
ambiente.
(GABRIELA ATHIAS)
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