São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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REFÉM DA BASE

Deputados vão checar promessas de ministro, considerado "bonzinho"

Falta autonomia a Aldo para negociar cargos, dizem aliados

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará mais ativamente da articulação política para compensar a saída do ministro José Dirceu (Casa Civil) da área. Razão: dirigentes do PT e de partidos aliados duvidam da eficácia da centralização da articulação política no ministro Aldo Rebelo.
Nos bastidores, já começou a choradeira de líderes e presidentes de partidos aliados que dizem ter feito acertos políticos com Dirceu que precisam ser honrados. Presidente do PL, o deputado federal Valdemar Costa Neto (SP) elogia a "competência" de Aldo (Coordenação Política). No entanto, afirma: "Não será fácil para ele, não. Se para o Zé Dirceu já era difícil a operação política, imagine para ele. Se não tiver autonomia, vai pedir o boné".
A cúpula do PMDB, por exemplo, que anteontem se reuniu com Aldo, já pediu um almoço com Lula para a próxima semana porque deseja ouvir do próprio presidente como ficaram seus acertos políticos. Dirceu deveria ter participado do encontro de anteontem, mas Lula ordenou que ele se ausentasse e que se dedicasse prioritariamente ao gerenciamento do governo.
Como Dirceu era o grande interlocutor do governo com o PMDB, o partido que foi decisivo para barrar CPIs no Congresso na crise Waldomiro Diniz quer agora o pagamento da fatura.
A legenda cobra cargos federais prometidos por Dirceu e deseja resolver com Lula um compromisso acertado com o ministro da Casa Civil e que deverá ser revisto devido aos serviços prestados pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante a crise do caso Waldomiro Diniz.
Dirceu havia prometido ao atual líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que o governo apoiaria a sua eleição para presidente da Casa quando terminasse o mandato de Sarney, o que acontece em fevereiro de 2005. Mas a ação de Sarney na crise lhe deu credenciais para tentar se reeleger por outro biênio.
Calheiros quer saber como fica a sua situação, já que, ao lado de Sarney e do ministro Eunício de Oliveira (Comunicações), compõe a trinca peemedebista que mais ajuda o governo. Nos bastidores, o líder do PMDB no Senado já avisou que deseja ter uma posição do próprio Lula.

Aliados incrédulos
Com a condição de não ter os nomes revelados, políticos do PTB, do PP e até do PT disseram à Folha que têm reservas em relação ao verdadeiro poder de fogo (liberação de emenda e nomeações para cargos) de Aldo. Elogiaram o ministro, que já foi líder do governo na Câmara e que é classificado por eles como "bonzinho", mas afirmaram que também vão querer checar os seus acertos diretamente com o presidente.
Para o PT, a indicação do deputado federal Professor Luizinho (SP) para líder do governo na Câmara é uma forma de o partido ter um canal direto com Lula e com o próprio Dirceu.
Na reforma ministerial de janeiro, Lula tirou a articulação política da Casa Civil e criou a secretaria de Aldo. Lula bancou Aldo, do PC do B, que não era o preferido de Dirceu. Como o caso Waldomiro ainda não havia acontecido e Dirceu ainda não havia se enfraquecido tanto, o governo esperava que os dois jogassem afinados.
Com o caso Waldomiro, Dirceu mergulhou na articulação política, até para se preservar no posto. Isso prejudicou o gerenciamento do governo e levou Lula a afastá-lo da atividade, pelo menos temporariamente. O presidente quer testar Aldo na função.
Waldomiro, ex-assessor de Dirceu, deixou o cargo que ocupava após divulgação de vídeo de 2002 no qual ele aparece pedindo propina a um empresário de jogos.


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