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CAMPO MINADO
Após promessa do MST de "infernizar", presidente afirma que há gente que ainda não se acostumou com a democracia
Reforma agrária não será no grito, diz Lula
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A TRÊS LAGOAS (MS)
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BONITO (MS)
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem, em Três Lagoas
(MS), que a reforma agrária não
será feita "no grito". Afirmou que
a meta de assentar 400 mil famílias será cumprida até 2006 e
mandou um recado aos líderes do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), pedindo
que eles parem de falar tanto e
deixem o governo fazer sua parte.
"A reforma agrária não vai ser
feita no grito dos trabalhadores
ou no grito dos que são contra. Ela
vai ser feita respeitando a legislação vigente e no clima de harmonia que norteia o comportamento
de meu governo", disse, durante
inauguração de uma termelétrica.
Em Bonito (MS), onde participou da inauguração de um aeroporto, Lula foi mais explícito na
referência ao líder do MST João
Pedro Stedile, que, há uma semana, disse que os sem-terra vão "infernizar" com invasão de áreas.
Sem citar Stedile, o presidente
disse que "palavras, mesmo tiradas de contexto, seja de trabalhador, seja de empresário, radicalizando o processo, não ajudam,
porque está cheio de gente que
ainda não se acostumou com democracia e com justiça social".
Na última terça-feira, pressionado pela nova onda de invasões
de terra, Lula prometeu mais do
que dobrar o orçamento do Ministério do Desenvolvimento
Agrário. O atual, de R$ 1,4 bilhão,
receberá uma suplementação, em
parcelas ao longo do ano, de R$
1,7 bilhão, segundo o governo. O
MST não acredita na liberação.
Além de ameaçar com invasões
neste mês, Stedile disse que a atual
reforma agrária é uma vergonha e
que falta coragem ao governo. Ele
recuo apenas no termo infernizar,
substituído, durante depoimento
à CPI da Terra, por azucrinar.
Em Três Lagoas, Lula também
afirmou que nenhuma fazenda
produtiva será desapropriada, e
que quer provar que é possível
combinar agricultura empresarial
com plantações familiares. "Quero aproveitar que aqui é um Estado onde há muitos empresários
do setor agrícola para dizer que
nenhuma terra produtiva será
mexida. Queremos provar que é
plenamente possível uma boa
combinação entre a agricultura
empresarial e a agricultura familiar. Elas não são antagônicas. O
que precisa é as pessoas pararem
de falar demais e permitirem que
o governo cumpra aquilo que nós
assumimos de compromisso."
O presidente buscou agradar
também os sem-terra, aos quais
prometeu assentar 60 mil famílias
em 2003, mas conseguiu só pouco
mais da metade disso -36,8 mil.
Lula disse ter feito questão de ir a
Mato Grosso do Sul para assinar
um decreto de desapropriação de
duas fazendas. "Fiz questão de assinar aqui porque queria fazer um
gesto tanto para os trabalhadores
quanto para os empresários."
O gesto, segundo o presidente,
reafirma o compromisso de fazer
uma reforma agrária que dê aos
assentados condições de permanecer na terra, com infra-estrutura básica, acesso a linhas de crédito e à assistência técnica. A meta é
assentar 115 mil famílias neste ano
-a primeira etapa do novo Plano
Nacional de Reforma Agrária.
"Ao final do meu mandato, pretendo não só anunciar o cumprimento [das metas de assentamento], mas mudar de forma radical o
jeito que se fez reforma agrária no
Brasil. O que se fazia era jogar um
monte de pobres trabalhadores
no meio de uma roça sem dar a
eles condições de sobrevivência."
Em Bonito, Lula disse que o aeroporto não trará danos ambientais à cidade, conhecida por seus
rios de águas cristalinas. Ele se referia a reportagem da Folha, sobre pendências ambientais na
obra. "Tenho certeza de que, em
vez de prejudicar, [o aeroporto]
vai dar a possibilidade de moças e
rapazes trabalharem dignamente
e viverem de seus salários."
A assessoria da Presidência informou que Lula iria dormir em
Bonito, onde, provavelmente,
passaria o final de semana.
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