São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO

Assessores de Márcio Thomaz Bastos estavam na casa de Palocci quando extrato de caseiro foi entregue pelo ex-presidente da CEF

Oposição mira agora o ministro da Justiça

ADRIANO CEOLIN
FÁBIO ZANINI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com as novas revelações sobre o episódio da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro que fazia acusações ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho, a oposição mudou o tom e já fala abertamente que o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) é a bola da vez do escândalo.
PFL, PSDB e PPS ontem bateram na tecla de que a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa foi uma decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva como um todo e teve, no mínimo, a omissão de Bastos.
"As informações de envolvimento de assessores do ministro da Justiça na quebra do sigilo mostram que há corrupção sistêmica no governo. Todos os que estão ao redor de Lula estão contaminados", disse o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).
Dois assessores de Bastos foram procurados por Palocci para que a Polícia Federal investigasse o caseiro, embora eles neguem ter tido conhecimento da quebra ilegal do sigilo de Francenildo.
Bastos, ao longo de mais de três anos de governo Lula, sempre foi poupado em razão de sua trajetória de criminalista, que já serviu inclusive a pefelistas no passado.
Agora, não mais. "Eu mesmo defendi o ministro no passado quando foi acusado pelo doleiro Toninho da Barcelona. Mas nesse caso não pode ter trégua. Ele tomou conhecimento da quebra do sigilo e só se opôs quando viu o resultado", afirmou Aleluia.
O PPS apresentou na quarta-feira um requerimento para que a Câmara convoque Bastos a dar explicações ao plenário. O depoimento precisa ser colocado em pauta pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e aprovado por maioria simples.
Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), está claro que a violação do sigilo do caseiro foi uma decisão política do governo. "Até agora, está implícito que o presidente Lula tinha conhecimento."
Para Dias, o maior indício é o fato de Palocci ter dado expediente numa sala a poucos metros do presidente na semana em que a crise foi deflagrada-entre os dias 17 e 27 de março. "Isso nos dá o direito de fazer a ilação de que Lula pelo menos ficou sabendo do que havia acontecido", disse.
O presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PFL-PB), afirmou que a comissão vai avançar nas investigações sobre o caso. Mas, por ora, só há planos para convocar o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso para depor. Amanhã, deverá ser colocado em votação requerimento para que Mattoso fale à CPI.
"Ele [Mattoso] é uma fonte importante para contar toda essa história. Ainda não concordo com a convocação do Palocci. Só vou pensar nisso depois que ele falar na Polícia Federal", afirmou Efraim, referindo-se ao depoimento do ex-ministro marcado para quarta-feira.
O relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), espera que Mattoso fale à CPI ainda nesta semana. "É ideal que ele [o ex-presidente da Caixa] preste depoimento o mais rápido possível para a gente conseguir avançar sobre os fatos novos."
Os governistas antecipam uma ofensiva em cima do ministro. "Perderam o respeito, perderam a vergonha ao falar do ministro da Justiça. Estão com o mesmo "modus operandi" que tiveram com o Palocci. Passam meses falando bem do ministro e de repente vão ao ataque", disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
Além da votação da convocação de Mattoso, a agenda da CPI dos Bingos prevê para nesta semana a acareação entre o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e o ex-militante petista Paulo de Tarso Venceslau, que o acusa de arrecadar recursos irregulares em prefeituras do PT na década de 90.
Na CPI, Okamotto-ex-tesoureiro do PT-é também investigado por afirmar ser o responsável pelo pagamento de uma dívida de R$ 29,4 mil do presidente Lula com o partido. Ele diz que usou recursos próprios, mas a oposição suspeita que o dinheiro pode ser oriundo de corrupção.
Na acareação com Venceslau, Okamotto poderá negar-se a falar sobre a dívida de Lula com o PT.


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