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Aliados pressionam tucano que admitiu ter visto dossiê
Álvaro Dias diz que recebeu dados sobre gastos de FHC, mas nega ter divulgado papéis
Senador citou o artigo 53 da Constituição para ressaltar que tem direito de preservar quem lhe repassou o dossiê produzido na Casa Civil
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O plenário do Senado foi dominado ontem pelo embate entre governo e oposição depois
que a base aliada cobrou do senador Álvaro Dias (PSDB-PR)
esclarecimentos sobre a divulgação do dossiê produzido pela
Casa Civil referente a gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em discurso da tribuna, o tucano disse que tomou conhecimento do dossiê. "Na segunda,
logo após a circulação da revista "Veja" no domingo, desta tribuna afirmei que tinha visto o
dossiê. Eu vi. Outros viram. O
dossiê deixou de ser novidade
há algum tempo", afirmou. A
revista "Veja" circulou no dia
22 com a informação de que havia sido feito um dossiê no Planalto. A Folha também teve
acesso a um dos relatórios produzidos na Casa Civil.
Enquanto a oposição quer
concentrar os ataques em
quem fez o dossiê, os governistas estão empenhados em descobrir quem foi o responsável
pelo vazamento do documento,
que contém dados sigilosos.
O assunto deve ser abordado
hoje pelos governistas na reunião da CPI dos Cartões. "Vamos nos concentrar nesse caso", afirmou o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
Dias foi questionado em plenário por Tião Viana (PT-AC) e
respondeu: "Eu tenho certeza
absoluta que o senador Tião
Viana não me imagina travestido de James Bond, driblando a
segurança do Palácio do Planalto, invadindo o terceiro andar, forjando senhas e bisbilhotando nos computadores do
governo", disse, ironizando.
Em seguida, o tucano contou
que viu o dossiê. "Há, sim, um
dossiê. Esse dossiê se tornou de
conhecimento público. Quem o
vazou está no Palácio do Planalto. Se o objetivo foi intimidar a oposição, não sei. Se foi
confundir a opinião pública,
pode ser. Se foi fogo amigo, não
me cabe definir."
Para ressaltar que tem o direito de preservar quem lhe repassou o documento, Dias citou artigo 53 da Constituição,
que diz que parlamentares
"não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão
do exercício do mandato nem
sobre pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações". "Portanto, se a hipótese verdadeira é a de que um
parlamentar municiou a imprensa sobre o vazamento desse dossiê, o fez sustentado por
um dispositivo constitucional",
disse. "Não há razão para questionar qualquer parlamentar
sobre se eventualmente ele
possa ter encaminhado à imprensa um dossiê que receber
de fontes, é claro, que só podem ser do próprio governo."
O líder do governo, Romero
Jucá (PMDB-RR), foi o primeiro a se manifestar. "Alguém de
dentro do Palácio do Planalto
repassou para o senador Álvaro
Dias para tornarem públicas as
informações desse banco de
dados. Não vamos cobrar o nome da fonte. Mas é um fato grave", disse, embora Dias não tenha admitido ter divulgado os
dados. "O governo foi vítima de
uma divulgação mau caráter e
malfeita", completou.
A líder do PT, Ideli Salvatti
(SC), foi mais enfática. "Está
agora nas mãos do senhor Álvaro Dias dizer quem andava
circulando, quem tinha os documentos", disse. "Nenhum
papel voa. Até pode voar um
pouquinho se houver uma janela aberta."
(ADRIANO CEOLIN e ANDREZA MATAIS)
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