São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002 |
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EXPRESSO 2002 Lula chama Brizola de "desagregador maior" e ouve dúvidas sobre estabilidade política Petista pede "aliança cultural" a artistas
PLÍNIO FRAGA DA REPORTAGEM LOCAL O pré-candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu apoio de artistas para a elaboração do projeto para a área de cultura do partido e pregou uma ampla "aliança cultural, política e econômica" em torno do PT, em encontro de três horas e 25 minutos, anteontem à noite, no Rio, no apartamento do cantor e compositor Gilberto Gil. No dia em que Fernando Henrique Cardoso advertiu-o para evitar o "salto alto", o petista não fez referências ao presidente. A única crítica foi para o ex-governador do Rio Leonel Brizola (PDT), chamado de "desagregador maior" pelo petista. O encontro, previsto para as 18h, começou com uma hora e 40 minutos de atraso. Lula lamentou a ausência de Maria Bethânia -que não compareceu por ter compromissos na Bahia- e explicou por que decidiu ser candidato pela quarta vez. Afirmou que, depois da derrota em 1998, havia "enterrado" seu projeto de disputar a Presidência. Insistiu em que aceitou entrar na disputa porque o partido o indicou. Citou os 86,4% dos votos que teve na prévia petista. Disse que o PT quer reunir forças para que o brasileiro e o jovem, em particular, revertam a falta de auto-estima e de esperança, apontada como uma das razões da criminalidade. Em casa de baianos, citou como exemplo a contradição entre a bela orla de Salvador e a taxa de criminalidade da região central. MPB e hip hop Participaram do encontro -no apartamento de Gil, em São Conrado (zona sul do Rio), no prédio em que morava o presidente João Baptista Figueiredo- 22 pessoas. Além de Gil e a mulher, Flora, estiveram presentes Chico Buarque, Caetano Veloso, Paula Lavigne, Djavan, Wagner Tiso, o rapper MV Bill e o empresário de grupos de hip hop Celso Athayde. Os dois últimos foram levados por Caetano. Caetano e Gil perguntaram a Lula com que alianças, nos partidos e na sociedade civil, ele pretende governar. Gil, que foi cotado para assumir o Ministério do Meio Ambiente de FHC na reforma de março, acenou com a possibilidade de uma aliança PT-PV, do qual é filiado. Caetano disse que via um "risco natural" numa eventual vitória de Lula, que seria um voto forte pela mudança, provocando expectativas maiores do que a eleição de qualquer outro. Afirmou que eleição não é revolução e que a expectativa exagerada poderia causar frustração. Chico concordou com essa análise. Lula respondeu ter consciência dos riscos e disse esperar dificuldades até dentro do PT. Afirmou que, por essa razão, tenta apoio dos mais diversos setores. Raí para vice O petista disse que precisava aumentar o apoio feminino à sua candidatura. Em tom de brincadeira, uma das mulheres presentes sugeriu o ex-jogador Raí como candidato a vice. Não houve pedido de voto nem declaração aberta no encontro, à exceção do empresário Celso Athayde, que disse ver no petista alguém que tem mais chances de entender a fome e a violência, e do rapper Athayde, que classificou a opção Lula como "voto de esperança". No balanço dos participantes, Caetano e Djavan mostraram-se em dúvida sobre em quem votar. Chico, Gil e Wagner Tiso estão decididos a apoiar Lula. A pedido de Gil, o presidente do PT, José Dirceu, comentou a proposta de política externa do partido, repetindo que pretende buscar maior independência dos EUA com a conquista de novos mercados. Depois, relatou a política de alianças amplas que tenta articular e traçou um cenário positivo para elas. "O Zé Dirceu é um otimista incorrigível", brincou Lula. Colaboraram MÔNICA BERGAMO, colunista da Folha, e CLAUDIA ANTUNES, da Sucursal do Rio Texto Anterior: Opinião: Um certo cheiro de utopia e a realidade Próximo Texto: PT monta comissão para respeitar verticalização e fazer alianças locais Índice |
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