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NOVA DIREÇÃO
Mesa Diretora acaba com exigência de votação em plenário para aprovar indicações para até 272 cargos de confiança
Câmara facilita contratação sem concurso
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma decisão da Mesa Diretora
da Câmara dos Deputados acabou com a exigência de votação
em plenário para que sejam aprovadas as indicações para até 272
cargos de confiança, ocupados
sem concurso público, nas comissões permanentes e provisórias
da Casa.
O Ato da Mesa 57 -publicado
em 13 de abril no "Diário da Câmara dos Deputados" e assinado
pelo presidente da Casa, Severino
Cavalcanti (PP-PE)- deu aos
presidentes das comissões total
poder de indicação para os cargos, que chegam a pagar salários
de até R$ 7.503.
Desde 1991, a prerrogativa da
indicação era do presidente da comissão, mas o nome do assessor
tinha que ser aprovado pelo plenário da comissão.
Com esse ato de abril -que só
recentemente foi divulgado na internet-, a indicação do presidente da comissão é soberana.
Assim, passa a não necessitar
mais de votação.
São 20 as comissões permanentes da Câmara. Cada uma delas
tem de 3 a 12 assessores contratados como CNEs (Cargos de Natureza Especial), que são funções
cuja ocupação não passa por concurso público.
Além disso, três CPIs (comissões parlamentares de inquérito)
e uma comissão especial também
possuem de 2 a 8 CNEs cada uma.
Ou seja, na hipótese de cada
uma dessas 24 comissões trabalharem com o número máximo
de assessores nessa categoria
(CNE), o resultado são 272 cargos
hoje na Câmara cuja responsabilidade da indicação saiu das mãos
do conjunto dos deputados para
se concentrarem nas do presidente da comissão.
E, realmente, a tendência é de
uso quase no limite. De acordo
com a assessoria de imprensa da
Câmara, 229 dos atuais 2.270
CNEs da Câmara estão nas comissões da Casa.
Unanimidade
A decisão da Mesa Diretora,
composta por Severino e por mais
seis deputados, foi obtida de forma unânime. De acordo com o 4º
Secretário, João Caldas (PL-AL), o
ato foi fruto de pressão do presidente da Comissão de Finanças e
Tributação, Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA).
De acordo com Caldas, Geddel
teria exigido que a exigência de
votação fosse sepultada sob a
ameaça de pressionar para que
também fosse exigida votação em
plenário para a aprovação dos
CNEs que trabalham na Mesa Diretora e em outros lugares da Câmara. Isso hoje não é necessário.
"O presidente da comissão está
empregando ao [seu] bel prazer.
A resolução [ato anterior ao publicado no mês passado] diz que é
preciso fazer a votação. Só que o
Geddel disse: "Vamos aplicar o
mesmo princípio no plenário. Já
que os cargos da Mesa também
são do plenário, então vamos botar tudo para o plenário votar".
Por isso, saiu essa resolução [ato
que extinguiu a exigência de votação]", afirmou Caldas.
A Folha entrou em contato com
a assessoria de Geddel na tarde de
ontem e explicou o teor da reportagem. A informação, até o fechamento desta edição, era a de que o
deputado ainda não havia sido localizado.
Retrocesso
O deputado Beto Albuquerque
(PSB-RS), um dos vice-líderes do
governo na Casa, afirmou que
não sabia da decisão, mas disse
que ela representa um retrocesso.
"Nós sempre defendemos as decisões colegiadas, coletivas. Temos reclamado disso na gestão
Severino. Tudo que abre mão do
colegiado é um retrocesso. Sair da
decisão coletiva [sobre a nomeação] para a singular é ruim", afirmou o deputado.
As comissões permanentes da
Câmara dos Deputados promovem a discussão prévia dos projetos antes da votação no plenário
da Casa, entre outras várias atribuições. A principal delas é a de
Constituição e Justiça.
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