São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2005

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SABATINA FOLHA

Presidente da Câmara se contradiz sobre protesto de manifestantes, defende virgindade até o casamento e evita opinar sobre uso de camisinha

Severino dá 3 versões para vaias em 2 horas

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), apresentou ontem três versões para um mesmo fato no período de duas horas. O fato são as vaias que levou no último domingo em São Paulo, na comemoração do Dia do Trabalho promovida pela Força Sindical, evento pelo qual teriam passado 1,2 milhão de pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar.
Minutos antes da sabatina da Folha, que reuniu cerca de 200 pessoas ontem em São Paulo, ele dizia que não houve vaia: "Foi uma maravilha. Aquele povo todo gritando. Entendi como aplauso". Na primeira parte da entrevista, a vaia, segundo Severino, não era dirigida a ele, mas à Câmara. No final do evento, ele reconhece: "Fui vaiado, realmente. Eu pensava que era aplauso".
Severino revelou na sabatina que sua visão sobre a vida sexual também é relativa -o que vale para o homem, não vale necessariamente para a mulher. A colunista da Folha Danuza Leão perguntou-lhe se, na opinião dele, a vida sexual deveria começar com o casamento: "É evidente. Eu era um homem puro. Casei com uma mulher que me serviu."
Aí o deputado criou a figura do "mais ou menos" virgem. "O senhor está confessando que casou virgem?", quis saber Danuza. "Mais ou menos isso. A mulher tem de ser virgem, pura. O homem, às vezes, quer aprender a como fazer o serviço", contou. E aprende com quem? "Com quem se dispuser a ser a professora."
O deputado se recusou a responder a uma pergunta do jornalista Fernando Rodrigues, que mediou a sabatina, se era contra o uso de camisinha, como defende a Igreja Católica. "Você está [sendo] muito indiscreto. Essa resposta não vou dar. Com 74 anos, não posso ser testemunha em nenhum desses casos", esquivou-se.

Não sou ladrão
Severino afirmou que tem tranqüilidade para defender aumento salarial para os deputados porque era um homem rico quando ingressou na política e a atividade só reduziu o seu patrimônio. Contou que teve 14 lojas de eletrodomésticos e joalherias nas cidades de São Paulo, Goiânia e Campinas. "Depois que entrei na política fui acabando com as lojas. Depois entrei na herança da minha mulher e acabei com a herança."
Quando a jornalista Renata Lo Prete, editora do "Painel", lhe perguntou se essa dilapidação de patrimônio não lhe daria a imagem de mau administrador, o deputado rebateu: "Deixa a imagem de que não sou ladrão. Quando eu morava em Aparecida [SP], era um homem rico".
Severino reafirmou que é contra o aborto, mesmo em casos de estupro. "A vida pertence a Deus. Tenho vários exemplos de mulheres que são felizes com seus filhos, mesmo que tenha sido um acidente horrendo." O deputado disse que, se não fosse cristão, defenderia a aplicação de pena de morte para esse crime.
A parábola do "cachaceiro" de João Alfredo, a cidade de Pernambuco em que Severino foi prefeito, foi citada em uma pergunta da platéia. O jeitinho que usou para evitar que um eleitor seu fosse preso por destruir copos e garrafas num bar, um prejuízo de R$ 400 que o parlamentar pagou, segundo ele, não é um mau exemplo de uso de cargo público.
"Aprenda a respeitar seu semelhante", discursou Severino. "Você não sabe o que é um sujeito passando necessidade. O sujeito tinha Severino Cavalcanti e você não tem ninguém."
O deputado disse que faz tudo às claras quando lhe perguntaram se era preconceituoso contra gays. "Eu não tenho preconceito. Tenho posições. Não engano ninguém. Sou o Severino Cavalcanti de 40 anos atrás."


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