São Paulo, domingo, 03 de junho de 2001

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Acusações de Nicéa Pitta contra ACM, transmitidas pela Globo, iniciaram desentendimentos entre clãs

Famílias Magalhães e Marinho vivem relação desgastada

DO ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Confirmado, o rompimento entre os Marinho e os Magalhães colocará um ponto final no desgastado relacionamento das duas famílias. Em março do ano passado, uma edição do Globo Repórter levou ao ar acusações da ex-mulher de Celso Pitta, Nicéa Camargo, contra ACM.
Sem ser ouvido, o então senador foi obrigado a ver sua própria TV transmitir denúncia segundo a qual teria pressionado Pitta para que liberasse pagamentos à empreiteira OAS, de César Mata Pires -que é genro de ACM. Num fax dirigido aos três herdeiros da Globo -Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto -, ACM classificou as declarações como "mentirosas" e "levianas".
Também lembrou que por anos fora confidente da família -insinuando guardar segredos do patriarca -e que havia arriscado a própria reputação, em 1986, para beneficiar Roberto Marinho na compra da Nec, fábrica de equipamentos de telecomunicações.
Em dezembro, nova rusga. O empresário e agora senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (PFL-BA) foi "obrigado", segundo expressão utilizada por ele mesmo em conversas privadas, a determinar à redação da TV Bahia que cobrisse a visita do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) a Salvador. Inimigo número um de ACM àquela altura, Jader participaria da cerimônia de filiação de deputados que estavam abandonando o PFL carlista para assinar a ficha de filiação no PMDB.
Na programação local da televisão de ACM, não houve menção ao fato. Quase 80% dos telespectadores baianos, portanto, deixaram de tomar conhecimento de uma pequena derrota política do cacique pefelista.
"O que a TV Bahia não transmite, a Bahia não fica sabendo", define a deputada estadual Lídice da Mata (PSB), que critica a concentração de meios de comunicação sob o comando de ACM.
Além da televisão em Salvador, a família Magalhães tem as TVs Santa Cruz (em Itabuna) e Subaé (em Feira de Santana), além de controlar indiretamente as TVs Norte, Oeste e Sudoeste, todas repetidoras da Globo.
A audiência da TV Bahia dá ao governador César Borges (PFL) justificativas para destinar quase toda a verba publicitária do Estado -R$ 63 milhões anuais -para as empresas do grupo carlista.
Tem sido assim há 10 anos. Mas nos últimos dois meses, o Ministério Público Federal decidiu apurar essa relação entre público e privado na Bahia. O abuso na destinação de recursos publicitários para a promoção de ACM em sua própria TV é alvo de investigação. (WLADIMIR GRAMACHO)


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