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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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Divididos pelo Iraque, países afinam discurso de rejeição às armas de destruição em massa e fazem críticas a Coréia do Norte e Irã

G8 tenta cicatrizar racha e condena terror

ENVIADA ESPECIAL A EVIAN

Divididos quanto à guerra ao Iraque, os países do Grupo dos Oito buscaram cicatrizar o racha diplomático ontem e afinar o discurso de repúdio ao terrorismo e à proliferação de armas de destruição em massa.
Os presidentes dos EUA, George W. Bush, e da França, Jacques Chirac, esbanjaram demonstrações de apreço mútuo, durante um encontro reservado, em Evian (França). Chirac liderou o bloco de opositores ao conflito, que contava ainda com a Alemanha e a Rússia. Dentro do G8, o principal aliado norte-americano é o Reino Unido.
Em um comunicado, os líderes dos países disseram que a disseminação de armas nucleares e biológicas, além do terrorismo, era "a ameaça proeminente para a segurança internacional".
Em mais um sinal de cicatrização das divergências, a declaração diz que, para lidar com essa ameaça, há uma série de instrumentos, como a Agência Internacional de Energia Atômica, a cooperação internacional e esforços diplomáticos, e, "se necessário, outras medidas em acordo com a legislação internacional".
O comunicado citou, com pontos de preocupação, os programas nucleares da Coréia do Norte e do Irã. Os dois países, ao lado do Iraque do então ditador Saddam Hussein, representam justamente o chamado "eixo do mal", como classificou Bush.
Segundo a declaração, o programa de enriquecimento de urânio e plutônio da Coréia do Norte e a falta de cumprimento de suas obrigações com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) são um desrespeito às resoluções internacionais.
"Instamos fortemente a Coréia do Norte a desmantelar qualquer programa de armas nucleares de forma visível, verificável e irreversível, um passo fundamental para facilitar uma ampla solução pacífica", diz o G8.
Sobre o Irã, a declaração diz que não serão ignoradas "as implicações do avançado programa nuclear" do país, sublinhando a importância do "total cumprimento do Irã com suas obrigações dentro do NTP" (tratado de não-proliferação, na sigla em inglês). "Instamos o Irã a assinar e implementar um protocolo adicional com a AIEA, sem atrasos ou condições. Oferecemos forte apoio a um exame amplo do programa nuclear."
A AIEA é a agência da ONU (Organização das Nações Unidas) que trata do controle de programas nucleares.
Em entrevista no fim do dia, o presidente francês disse que, em relação à Coréia do Norte, todos conhecem a posição da França, que espera o controle do programa pela AIEA. Chirac afirmou que a perspectiva de aquisição de armas nucleares pelo Irã preocupa a todos, ressaltando que, "pela diplomacia", os líderes do G8 querem que o país aceite o controle pela AIEA.
Moscou vem ajudando o Irã a desenvolver um reator, mas, segundo Chirac, "a cooperação com a Rússia não é para ajudar a conquistar um potencial militar".
Diplomatas citados por agências dizem que, durante a reunião, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assumiu o compromisso de suspender todas as exportações nucleares até que o Irã assine um protocolo adicional com a AIEA. Essa seria uma indicação de que também as relações da Rússia com os EUA estariam avançando.
Na troca de gentilezas públicas, a França anunciou que vai mandar um novo contingente militar ao Afeganistão, que vai operar em conjunto com os americanos. Bush, ao lado de Chirac, disse entender que precisaria "trabalhar com nossos amigos, como a França", para avançar nas negociações de paz do Oriente Médio.
Chirac disse que era um prazer receber o americano e desejou o sucesso ao plano de paz de Bush, mas reconheceu que as relações dos dois tinham passado por "um período difícil".
(MARIA LUIZA ABBOTT)


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