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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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ANÁLISE

As reuniões do G8 já não fazem muito sentido

DO "FINANCIAL TIMES"

"Sua viagem é realmente necessária?", perguntavam os cartazes de uma campanha por economia de energia, meio século atrás. É uma pergunta que deveria ser feita aos participantes das cúpulas do G8. A reunião em Evian salientou, mais que nunca, a natureza redundante das extravagâncias de mídia que levam o nome inócuo de cúpula do G8.
Poucos dos participantes pareciam demonstrar interesse real. O presidente George W. Bush esteve lá menos de 24 horas. Passou o mesmo tempo no Air Force One.
O presidente Jacques Chirac tentou ampliar a frequência, convidando representantes dos países menos desenvolvidos. Mas isso só serviu para enfatizar quão secundário se tornou o G8.
Tony Blair parecia distraído e desconectado depois de uma longa semana fora de casa. As declarações formais da cúpula foram mais uma vez tão insípidas e anódinas quanto a valiosa água engarrafada nas nascentes de Evian.
Existe hoje algo gritantemente anacrônico na própria idéia do grupo dos países mais industrializados. Em termos econômicos, nem o Canadá nem a Rússia merecem lugar no grupo. O próprio termo "industrializado" parece datado, um recuo à década de 70, num mundo cada vez mais pós-industrial. O planeta enfrenta problemas econômicos talvez tão sérios quanto aqueles colocados na primeira reunião, em 1975. Mas ninguém está contando com o G8 para oferecer as respostas políticas necessárias.
Pior ainda, o G8 se tornou, à revelia, a principal vitrine em que os ruidosos descontentes do mundo podem expressar suas vagas frustrações. As campanhas cada vez mais agressivas de manifestantes anticapitalistas e o medo do terrorismo levaram as reuniões para trás de um cordão de segurança que é tão sufocante para as atividades dentro dele quanto impenetrável para as pessoas de fora.
Por que se dar a esse trabalho? Os defensores da cúpula dirão que, apesar de todos os defeitos, ela ainda representa o único ponto fixo no calendário em que algumas das figuras políticas mais influentes do mundo podem se reunir. No frio clima diplomático atual, talvez isso não seja ruim.
Pode parecer traumático demais, nestes tempos perturbados, eliminar a cúpula. Mas, se for o caso, talvez a reunião possa ser radicalmente reestruturada, restaurada à sua premissa básica. A idéia original era a de uma reunião informal, um bate-papo em que líderes, desejosos de compartilhar suas preocupações e manifestar idéias, poderiam se reunir em relativo isolamento. Que seja assim na próxima vez. Do contrário, sempre existe o telefone.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


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