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Lula articula aliança com a Índia para pressionar o G8
Brasil prega criação de mercado mundial de álcool e queda de subsídios agrícolas
Terceiro ponto é compensar países pobres por desmatar menos; petista quer que discurso agrade opinião pública dos países ricos
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI (ÍNDIA)
O principal objetivo da viagem do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva à Índia é articular
uma aliança para defesa de três
temas na reunião do G8 (grupo
dos sete países mais ricos mais
a Rússia), que será realizada de
quarta a sexta na Alemanha.
Os três pontos são: criação de
um mercado mundial de álcool,
queda de subsídios agrícolas na
Rodada Doha e criação de um
mecanismo que compense os
países em desenvolvimento e
mais pobres que reduzam o
desmatamento.
Lula chega hoje a Nova Déli,
capital indiana. À noite, terá
jantar com o premiê indiano,
Manmohan Singh. O brasileiro
tentará fechar a aliança; o ministro Celso Amorim (Relações
Exteriores) preparou acertos
bilaterais em abril.
Em conversa reservada, na
semana passada, Lula teria dito
que "nessa viagem, vou falar de
etanol o tempo inteiro". Hoje
não existe um mercado mundial de álcool, com transporte
planetário regular e estoques
que garantam suprimento em
escala global. Ou seja, não é
"commodity", que possa ser negociada facilmente.
Lula está ciente de que não
obterá todas as concessões que
deseja dos países mais ricos.
Nas palavras de um ministro,
"o presidente sabe que não vai
levar tudo, mas faz um acúmulo
e, aos poucos, vai avançando".
O petista avalia que a reunião
do G8, que terá a participação
de países em desenvolvimento,
é a última grande oportunidade
de "destravar as negociações da
Rodada Doha", diz um auxiliar
direto. Brasil, Índia, China,
África do Sul e México foram
convidados para a reunião.
Junho é o mês decisivo para
as negociações que andam emperradas no âmbito da OMC
(Organização Mundial do Comércio). Na semana seguinte à
reunião do G8, haverá encontro
do G20, grupo de países em desenvolvimento liderado pelo
Brasil. Na segunda quinzena,
uma reunião ministerial do G4.
Formado por EUA, União Européia, Brasil e Índia, discutirá
o destino da Rodada Doha.
Logo, uma aliança Brasil-Índia ajudará países em desenvolvimento a tentar arrancar concessões dos países mais ricos,
que pedem abertura de mercado para seus bens industriais.
O discurso de Lula ao longo
da viagem deve ser o seguinte,
resume um auxiliar direto: "Os
países ricos podem melhorar a
qualidade de vida do planeta
melhorando a economia dos
mais pobres". O petista tenta se
consolidar como porta-voz dos
países mais pobres. Para isso,
vai defender uma plataforma
que tem apelo ante a opinião
pública dos países avançados.
O embaixador do Brasil na
Índia, José Vicente Pimentel,
resume a visita: "De vitrine,
mostrar para o mundo que os
dois, Lula e Singh, saem de Nova Déli unidos para Heiligendamm [onde o G8 se reunirá]".
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