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JANIO DE FREITAS
A hora do teste
Até que enfim a CPI do Judiciário chegou a um assunto interessante, que não se prende à escandalização de fatos já investigados,
sobriamente, pelo Ministério Público Federal em São Paulo, como
a corrupção na obra do TRT-SP,
nem a um ou outro caso mais individual do que institucional.
Agora a CPI está sujeita a mostrar
se o seu objetivo contra o corporativismo visa só ao Judiciário ou se
atinge o espírito corporativo do
próprio Senado.
A situação problemática foi
criada pelo senador de primeira
viagem Luiz Estevão, eleito pelo
PMDB do Distrito Federal. Empreiteiro, incorporador, cheio de
outros negócios, Luiz Estevão vem
batendo na trave há muito tempo.
Pelo menos desde que, integrante
do grupo Collor/PC Farias, esteve
envolvido em situações estranhas
como o alegado empréstimo uruguaio.
De lá para cá, foi acusado de assumir propriedade irregular de
grande área, loteamento ou incorporação ilegal, sonegação de
impostos, manter em Brasília a
ilegal Rádio OK, em resumo. Muito rico, adepto do estilo pesado e
irado, de um jeito e de outro foi
sempre escapando, pelas frestas
entre as acusações, dos desdobramentos piores.
O mais recente destaque do agora senador Luiz Estevão é a descoberta de envolvimento com o juiz
contratante da obra para o TRT-SP, o bom pagador Nicolau dos
Santos Neto, e com o bom recebedor Fábio Monteiro de Barros, dado como empreiteiro da construção. Mais de 500 telefonemas ligando Estevão aos dois já seriam
comprometedores. Mas há também pelo menos US$ 2 milhões
por ora descobertos, em pagamentos de Monteiro de Barros a Estevão.
Nas alegações que tem lançado,
a cada lote de constatações da
pasma CPI, o senador não demonstrou o pudor nem de envolver a filha, por ele dada como motivo das ligações que seriam com a
filha de Monteiro de Barros. A cada nova constatação, quase todas
apenas ocasionais, Luiz Estevão
vem modificando as versões anteriores e já admite que teve sociedade com Monteiro de Barros e a
existência de outros negócios entre ambos.
A CPI está com os cuidados de
quem pisa em cacos de vidro. Trata-se de um senador, ora essa. O
que parece mais estranho à gentileza senatorial é que Luiz Estevão
tenha participado da concorrência para construção do TRT-SP,
perdido para a Incal de Monteiro
de Barros e não pedisse a anulação da disputa por evidentes ilegalidades. Cuidados de amigos,
presumem certos senadores. Como são os cuidados corporativistas e os motivados por outros benefícios, de contribuições de campanha a outras assim.
A esta altura a CPI já deveria estar investigando a fundo a participação de Estevão e sua empreiteira na concorrência. No mínimo, para examinar a ocorrência,
ou não, da chamada cobertura, o
truque pelo qual o resultado e o
preço espoliador já estão combinados, entre contratante e concorrentes, e uma ou mais empresas concorrem só para dar proposta ainda pior que a do escolhido. E
cada uma tem o seu preço para isso.
A CPI está perplexa à toa. Apenas caiu em um caso no qual não
tropeça no Judiciário de suas iras,
mas em sua própria casa.
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