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CONFLITO AGRÁRIO
Petista ter usado boné dos sem-terra irritou presidente da CNA
Para entidades ruralistas, Lula foi "servil" ao MST
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O presidente da CNA (Confederação Nacional de Agricultura),
Antônio Ernesto de Salvo, 69, disse ontem ter ficado "frustrado
com a postura amistosa" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao
receber lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O que mais irritou Salvo foi o presidente ter colocado um boné do movimento.
"Colocar o boné foi uma atitude
servil, não à altura de um presidente da República", disse Salvo.
Segundo ele, não "se trata de discutir o mérito do que foi apresentado, mas a maneira como se desenrolou o evento, com o presidente recebendo um grupo de
pessoas que está quebrando, sucessivamente, o Estado de Direito,
com saques, ataques a pedágios,
prédios públicos e invasões".
O presidente da CNA, que declara ter 1 milhão de associados
no país, disse que o setor "produtivo" entregará aos três Poderes
documento que mostra "os perigos do agravamento dos conflitos
no setor agrário". Para Salvo, será
"impossível impedir" que grupos
ruralistas mais radicais usem armas para defender suas terras.
Segundo Salvo, Lula, ao receber
o MST sem "cobrar o respeito ao
Estado de Direito", teve uma atitude que "talvez encoraje novas
ações do movimento".
"Não se trata de discutir o mérito da reunião, pois isso é assunto
para o ministro Palocci [Fazenda], já que para assentar 1 milhão
de sem-terra serão necessários
mais de US$ 20 bilhões", afirmou.
No início da noite, a CNA e sete
entidades de produtores rurais
que representam 80% do PIB
agrícola e formam o grupo "Brasil
Rural" divulgaram uma nota, redigida antes do encontro no Planalto, pela qual pretenderam "denunciar a perigosa quebra dos valores constitucionais".
Segundo a nota, "a ofensiva de
radicalização" de grupos como o
MST "está colocando em xeque a
política de conciliação nacional
defendida" pelo presidente Lula.
Luiz Antonio Nabhan Garcia,
45, presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), segue no
mesmo tom de crítica a Lula. "Ele
[Lula] parecia bem intencionado
ao falar de reforma agrária pacífica, mas cede ao conversar com
quem está afrontando os poderes
constitucionais e a ordem estabelecida. Parece que Lula diz uma
coisa e faz outra", afirmou.
O presidente da Sociedade Rural do Paraná, Edson Neme Ruiz,
51, disse que desde abril, quando
o presidente esteve em Londrina
(PR) para prestigiar evento promovido pela entidade, tem procurado deixar claro que a mais influente organização ruralista do
Paraná quer participar das discussões sobre a reforma agrária.
"Não recebemos nenhum convite
como o que foi feito ao MST, mas
não abriremos mão de participar
dessa discussão", disse Ruiz.
Ao contrário de outras lideranças, Ruiz disse que, ao antecipar a
reunião com o MST, Lula deu sinais "de que está preocupado
com a gravidade do problema e
procurando uma solução". "Lula
está enxergando o problema, mas
nós, ruralistas, devemos deixar
claro que não fomos nós que criamos o caos social no país e não
podemos pagar a conta disso."
"O Lula está sempre conversando com o [Miguel] Rossetto [ministro do Desenvolvimento Agrário]. Só mudaram os nomes do
MST hoje", disse Marcos Prochet,
presidente da UDR Noroeste do
Paraná ao comentar a reunião. Ele
disse não ser surpresa "Lula receber outros integrantes do movimento, além do Rossetto, pois o
Lula sempre foi nosso inimigo".
Na avaliação do presidente da
Sociedade Rural Brasileira, João
Sampaio, o resultado da reunião
foi "frustrante". Ele disse que a
meta de assentar 1 milhão de famílias é "maluquice" e pode causar uma "revolução" no campo.
Sampaio afirmou ainda que Lula tem de ser mais equânime nas
suas relações e receber os ruralistas, que esperam uma audiência
com ele. "Ele tem de ter coragem
de dizer não e parar de querer
agradar todo mundo."
Colaborou a Reportagem Local
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