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CONFLITO AGRÁRIO
Pasta diz que verba só permite assentar um terço da meta
No ano, Lula só assentou 5% da meta de 60 mil famílias
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O cumprimento de menos de
5% da meta de assentar 60 mil famílias em 2003 e o crescimento
das invasões e do número de
mortes decorrentes de conflitos
de terra compõem o saldo da reforma agrária dos seis primeiros
meses de mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As projeções para o segundo semestre, porém, não são muito
animadoras. Segundo o secretário-executivo do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o dinheiro liberado até aqui só é suficiente para assentar 10 mil famílias.
O que sobrou no Ministério do
Desenvolvimento Agrário depois
do ajuste fiscal é suficiente para
cumprir apenas pouco mais de
um terço da meta deste ano até o
mês de dezembro.
Entre 1º de janeiro e 30 de junho, foram assentadas 2.534 famílias, e houve 13 mortes em conflitos, segundo balanço do próprio ministério. Neste ano, até o
dia 30 junho, 128 invasões foram
registradas, mais do que no ano
passado inteiro, segundo dados
da Ouvidoria Agrária Nacional.
Outras 2.276 famílias devem ser
atendidas em breve nos 80 projetos de assentamentos criados no
governo do presidente Lula.
Decretos
O presidente já teria assinado
decretos de desapropriação de
199 mil hectares de terras, espaço
suficiente para assentar 57 mil famílias. Existe contudo uma grande distância entre os papéis assinados por Lula e a liberação de
verbas pelo governo, que vai garantir as terras para o assentamento efetivo dos sem-terra.
No quesito obtenção de terras,
foram pagos até aqui R$ 52 milhões. Para cumprir a meta de assentar 60 mil famílias, o Orçamento da União havia autorizado
gastos de R$ 462,6 milhões.
Acontece que o ministro Miguel
Rossetto teve bloqueados em fevereiro mais de 36% dos recursos
para investimentos e custeio da
reforma agrária.
Ainda assim, o ministério vem
gastando menos do que o ajuste
fiscal recorde do governo Lula lhe
permite no conjunto, segundo revelam os dados do Siafi (sistema
informatizado de acompanhamento de gastos federais).
As informações do Siafi mostram ritmo lento ou quase nulo na
emancipação dos assentamentos
(última etapa da reforma agrária),
na consolidação dos assentamentos já existentes e até mesmo na
concessão de crédito para a instalação das famílias assentadas.
Assistência
Os dados do sistema mostram
que a reforma agrária da administração petista se concentrou até
agora na prestação de assistência
social a famílias ainda acampadas
(R$ 612 mil, ou 68% do gasto autorizado no ano). Esse gasto não
inclui a compra de cestas básicas
distribuídas aos acampados pelo
projeto Fome Zero.
O ritmo de gastos revela preocupação também com o acompanhamento de conflitos (R$ 200
mil, ou 42,19% do total autorizado
no Orçamento da União).
Responsável pela tarefa, a Ouvidoria Agrária Nacional atribui o
crescimento do número de invasões à "demanda social reprimida", e não ao ritmo lento da reforma agrária no início da atual administração.
Esse ritmo, porém, só tenderia a
melhorar no ano que vem, segundo a própria ouvidoria, a partir do
novo Plano Plurianual, que ainda
não dispõe de metas definidas.
"Mudamos o modelo político e
ideológico do país. Com um governo de esquerda, é natural que
as demandas sociais, que passavam por processo de inibição, fiquem mais atuantes, mais expostas", declarou Maria de Oliveira,
ouvidora agrária nacional substituta.
Chama a atenção no levantamento de gastos do Ministério do
Desenvolvimento Agrário os pagamentos referentes a serviços de
assistência médica e odontológica
dos servidores e seus dependentes. Até o dia 13 de junho, foram
gastos R$ 9,7 milhões ou mais de
99% do total previsto para o ano.
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