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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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BASE ALIADA

Estopim foi declaração do presidente, que chamou Geraldo Magela de "futuro governador do Distrito Federal"

Por Roriz, PMDB ameaça romper com Lula

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em nota divulgada após breve reunião ontem em Brasília, o PMDB ameaçou romper a aliança que fez com o governo, caso o PT do Distrito Federal insista em tentar cassar o mandato do governador do Distrito Federal, o peemedebista Joaquim Roriz. Com 68 deputados e 22 senadores, o apoio da sigla é decisivo para a aprovação das reformas.
A nota do PMDB foi provocada por uma declaração que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu na sexta-feira passada, num encontro com vereadores e deputados estaduais do PT. Ao saudar o candidato derrotado ao governo do Distrito Federal, o petista Geraldo Magela, Lula disse: "Meu querido, se Deus quiser, futuro governador de Brasília, Geraldo Magela".
"O PMDB nacional lamenta e repudia a atitude do PT do Distrito Federal, cuja ação política põe em risco a aliança formalizada pelo partido com o governo federal, podendo significar abalo à governabilidade do país", diz a nota, assinada em primeiro lugar pelo presidente da legenda, Michel Temer (SP), e pelos líderes na Câmara, Eunício Oliveira (CE), e no Senado, Renan Calheiros (AL).
O PMDB afirma que das 35 ações movidas contra o governador, "imotivadas juridicamente", 28 foram julgadas "e consideradas improcedentes pelo Tribunal Regional Eleitoral por absoluta falta de provas". A nota cita também decisão do STF (Supremo Federal) que negou ao PT uma liminar para afastar Roriz.

Apoio frágil
Apesar do tom contundente da nota, é pouco provável que o PMDB rompa a aliança com o governo federal. Ainda assim, o apoio da legenda ao Planalto é considerado frágil.
Os caciques da legenda decidiram apoiar o Planalto numa tentativa de preservar o partido, que corria o risco de perder quadros para outras siglas governistas. O apoio deveria ser sedimentado com cargos, na expectativa do PMDB, correspondente ao tamanho da legenda, inclusive dois ministérios.
Ocorre que nem mesmo as "migalhas" -diretorias em bancos e órgãos federais prometidas- saíram até agora. Uma das poucas exceções foi a nomeação do ex-senador Sérgio Machado para dirigir a Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, que atende a indicação do líder Renan, mas rende poucos votos na bancada.
A decisão da Executiva reflete a disputa entre as duas siglas em Brasília, mas também a insatisfação do PMDB com a demora na distribuição dos cargos prometidos pelo Planalto.
Os peemedebistas agora querem também indicar um diretor para a ANP (Agência Nacional de Petróleo), no lugar do ex-deputado Luiz Salomão, indicação rejeitada pelo Senado numa votação em que o PMDB, comandado por Sarney, teve influência decisiva.

Roriz e Sarney
A nota do PMDB foi arrancada por Roriz por meio do presidente do Senado, José Sarney (AP), que é seu amigo e foi o primeiro a nomeá-lo para o governo de Brasília, quando ocupava a Presidência da República (1985-1990). Sarney conversou com Temer, os líderes e o governador em sua casa, na véspera. A Executiva apenas chancelou a decisão.
A ameaça da Executiva Nacional reflete ainda o clima de radicalização entre PMDB e PT que domina a política de Brasília. Roriz foi o único governador a não comparecer ao encontro de Lula com os governadores do Estado para discutir as reformas. Ele citou a frase que Lula havia dito na sexta-feira a favor de Magela como justificativa pela ausência.
Roriz também não foi ao lançamento do programa Primeiro Emprego. Mandou em seu lugar a vice Maria de Lourdes Abadia, do PSDB, que foi vaiada por petistas em pleno Planalto.


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